Ana Mendonça
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A esquerda sem fôlego em Minas

O resultado é que o nome que Lula desejava para representar a moderação mineira ficou sem partido, e o projeto, sem sustentação

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Minas Gerais, o estado que garantiu a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022 e historicamente dita o tom eleitoral do país, chega à largada de 2026 com a esquerda sem fôlego. O campo progressista mineiro, que já foi sinônimo de organização e pragmatismo, perdeu o compasso. Faltam líderes, partidos e uma narrativa capaz de conversar com o eleitor que, há anos, tem se afastado dos extremos. Lula sabia disso. Foi por essa razão que, ainda em 2023, sondou o ex-presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD). O presidente nunca quis em Minas um nome ideológico, mas um moderado. Depois do desgaste do governo Fernando Pimentel e da polarização de 2022, a leitura do Planalto é de que o eleitor passou a premiar o equilíbrio. O ex-presidente do Senado, com perfil institucional e trânsito em diversos campos, representava essa tentativa de reconstrução do diálogo com o centro.

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Mas o projeto fracassou antes de começar. Pacheco não demonstra fôlego real de disputar o governo. Seu foco sempre esteve em Brasília, com o olhar voltado ao Supremo Tribunal Federal (STF). A demora em se posicionar desgastou a aliança possível. O PSD, que até então era seu porto, seguiu com Mateus Simões, vice-governador e herdeiro natural de Romeu Zema (Novo). O MDB, que parecia alternativa, fechou com o ex-presidente da Câmara de Belo Horizonte, Gabriel Azevedo. E o PSB, ventilado nos bastidores, jamais passou da especulação.


O resultado é que o nome que Lula desejava para representar a moderação mineira ficou sem partido, e o projeto, sem sustentação. O PT, que deveria assumir a dianteira, mergulhou numa crise interna que se arrasta desde a derrota de 2024 em Belo Horizonte.


O racha entre correntes, que antes se resolvia nos diretórios, agora é público. A visita do presidente nacional do PT, Edinho Silva, a Alexandre Kalil (PDT), sem aviso à direção estadual, aprofundou o mal-estar. Petistas mineiros ouvidos pela coluna classificaram o gesto como “intervenção” e admitiram que não há consenso sobre o ex-prefeito. Parte da sigla o vê como o nome mais competitivo; outra o considera um projeto esgotado e, principalmente, de lealdade duvidosa.


Nos bastidores, dirigentes lembram que Kalil ainda carrega mágoa de Lula, que lhe prometera um ministério caso não fosse eleito ao governo em 2022. Desde então, críticas feitas pelo ex-prefeito ao presidente circulam em reuniões fechadas, e há quem diga que a confiança entre os dois não se reconstrói por decreto.


Kalil, por sua vez, viveu uma tentativa frustrada de migração partidária. Depois de deixar o PSD, negociou filiação ao Republicanos, chegou a dizer a aliados que poderia “presidir a legenda”, mas descobriu rapidamente que não havia espaço. Em Brasília as conversas evoluíram; em Minas, travaram. O ex-prefeito voltou à capital sem base política e com o projeto esvaziado. No PDT, que o recebeu depois, encontrou um partido fragilizado, sob o peso da crise do INSS e do desgaste do ex-ministro Carlos Lupi.


O quadro reforça uma constatação: sem partidos sólidos, a esquerda mineira não respira. Minas, onde o poder sempre dependeu de siglas fortes e diretórios ativos, vive hoje uma rarefação política inédita. O estado que formou quadros e consolidou o equilíbrio entre pragmatismo e ideologia perdeu suas âncoras.


Enquanto isso, o centro se organiza. Gabriel Azevedo, cresce com o discurso moderado. Filiado ao MDB, ele tem se apresentado como o candidato do equilíbrio, o nome que fala de gestão e evita o palanque nacional. A coluna apurou que lideranças de cidades médias já o tratam como candidato competitivo, e a cúpula nacional do MDB o vê como aposta real. A familiaridade está inclusive dentro de alguns nomes da Associação de Municípios de Minas Gerais (AMM).


O momento de Gabriel se explica por um comportamento que o Planalto já conhece. O caso de Fuad Noman, reeleito prefeito de Belo Horizonte em 2024, é citado como exemplo. Fuad evitou o apoio público de Lula e construiu a própria imagem como gestor autônomo. A estratégia funcionou. Ao se afastar do palanque presidencial, ganhou densidade local e consolidou a percepção de independência. O episódio reforçou a leitura de Lula: o mineiro médio, cansado da guerra política, premia a moderação e desconfia do radicalismo, venha de onde vier.


Com Kalil isolado, Pacheco fora do tabuleiro e o PT dividido, o campo progressista chega a 2026 sem projeto, sem unidade e sem quem o defenda. O espaço vazio tende a ser ocupado por quem melhor compreender o espírito mineiro: discurso brando, pragmatismo e distância segura do palanque nacional. É nesse terreno que Gabriel Azevedo e o MDB tentam fincar bandeira e onde Lula, mais uma vez, precisará reaprender a falar a língua de Minas.

Marília diz que não


A prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), tem sido constantemente sondada pelo partido sobre a possibilidade de disputar o governo de Minas em 2026, mas vem refutando a ideia, ao menos por enquanto. Interlocutores próximos afirmam que ela tem repetido o mesmo argumento: sua prioridade é consolidar Contagem como principal vitrine petista no estado.

Lupi diz que sim


O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, tem insistido nos bastidores para que Alexandre Kalil volte a se alinhar ao PT em Minas. Lupi quer Kalil e Lula no mesmo palanque, ainda que parte do partido local resista.

Direita agradece


Parlamentares de direita ouvidos pela coluna enxergam a possível aliança entre PT e PDT como um presente. Acreditam que um palanque com Kalil e Lula facilitaria a narrativa conservadora e reacenderia o antipetismo no eleitorado mineiro. “Se Kalil for com Lula, a direita agradece.” Além disso, apontam que o ex-prefeito de BH é combativo e temperamental, diferentemente de Pacheco, mais paciente e difícil de provocar.

Entre o trono e o ringue


Mais uma vez, a coluna foi atrás da resposta que ninguém do PL ousa cravar: afinal, Nikolas Ferreira será candidato ao governo de Minas? O entorno do deputado admite que o mineiro mais votado do país está “balançado”. A indecisão, dizem aliados, já começa a respingar em blocos menores dentro do partido, que aguardam o desfecho para definir se entram ou não na disputa eleitoral. Há quem sustente que tudo gira em torno dele. O dilema é outro: Nikolas quer ser governador, mas precisa? O PL, ao que tudo indica, acha que não. Prefere mantê-lo como trator de votos na Câmara, símbolo do bolsonarismo jovem e combustível para as urnas de 2026.

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Alô, ministro


Agora pré-candidato ao governo de Minas, Gabriel Azevedo (MDB) protagonizou uma cena inusitada na última quarta-feira. Aproveitou um encontro casual com prefeitos e outras lideranças do Movimento Pró-Vidas da BR-381, que pressiona por R$ 650 milhões no Orçamento de 2026 para duplicar o trecho entre Caeté e Belo Horizonte, e fez uma chamada de vídeo com o ministro dos Transportes, Renan Filho. O ministro atendeu – de dentro de um caminhão, em plena agenda de trabalho – e prometeu dar atenção especial ao andamento das obras no estado.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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