Ana Mendonça
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EM MINAS

O retorno calculado de Aécio Neves

Aécio também deve investir em vídeos digitais, comparando sua gestão às de Fernando Pimentel (PT) e Romeu Zema (Novo)

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“Escolher o adversário, às vezes, é muito mais importante do que escolher o aliado.” A máxima de Tancredo Neves, ex-governador de Minas e primeiro presidente civil eleito após a ditadura militar, ilumina o gesto do neto, o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG). Após anos de retração, o tucano reaparece com cálculo: organiza jantares com o ex-presidente Michel Temer (MDB), articula com Paulinho da Força (Solidariedade-SP) para redesenhar a anistia, assume protagonismo contra a PEC da Blindagem e lança em Minas propagandas contra o governador Romeu Zema (Novo). Mais que recompor aliados, busca eleger inimigos capazes de devolvê-lo ao centro da cena, inclusive como candidato ao governo de Minas em 2026.


O movimento começou no próprio partido. Rivais tucanos foram afastados e Aécio se prepara para reassumir a presidência nacional do PSDB, hoje reduzido a 13 deputados federais e três senadores, sem governadores e com a fusão com o Podemos implodida em disputa de comando. Resta a aposta do mineiro no apoio com MDB, Republicanos ou Solidariedade, numa tentativa de prolongar a sobrevivência de uma legenda que já simbolizou a redemocratização.


Em São Paulo, ofereceu-se como fiador das negociações da anistia. Na casa de Temer, com Paulinho da Força, contou com participação remota do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e consultas aos ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. Dali, saiu o expediente de rebatizar o texto como “PL da dosimetria das penas”. Aécio se ausentou da votação de urgência, evitando desgaste público, mas não deixou de se apresentar como articulador.


Nesse terreno, tenta ainda contrapor-se aos deputados “digitais”. Enquanto Nikolas Ferreira (PL-MG), Gustavo Gayer (PL-GO) e Marcel van Hatten (Novo-RS) inflamam redes sociais, Aécio aposta na velha liturgia: os bastidores. É a disputa entre a política do algoritmo e a política do compasso lento, e o tucano insiste na segunda.


A PEC da Blindagem deu novo fôlego ao discurso e escancarou a contradição na qual Aécio aposta. O deputado a classificou como “grave retrocesso” e evocou 2001, quando, à frente da Câmara, conduziu a derrubada do mesmo privilégio sob pressão popular. O MDB rachou, com Renan Calheiros (MDB-AL) contra a proposta e outras lideranças em silêncio.


Do outro lado, Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG), aliado de Jair Bolsonaro e expoente da política digital, surpreendeu ao também se opor, em rota contrária ao que a lógica eleitoral sugeriria. É nesse intervalo improvável, no qual veteranos e novatos convergem no mesmo “não”, que Aécio tenta se inscrever, calculando que da fricção das contradições pode emergir a chance de renascimento político.


E por isso, em Minas, o confronto é direto. O PSDB retomou o bordão “Minas não está à venda” e lançou propagandas contra as privatizações da Copasa, Cemig e Codemig. Outras peças exaltam indicadores de seus governos, numa tentativa de recuperar o imaginário das estatais fortes.


Como apurou a coluna, Aécio também deve investir em vídeos digitais, comparando sua gestão (2003-2010) às de Fernando Pimentel (PT) e Romeu Zema (Novo). A aposta é emplacar o eleitor fora da polarização, mas o tucano enfrenta o peso das pesquisas: levantamento AtlasIntel de agosto mostrou que 83% dos mineiros rejeitam seu nome e 54,4% não votariam nele em hipótese alguma. Ainda assim, os 3,5% de intenções de voto, à frente do presidente da Assembleia Legislativa, Tadeu Martins Leite (MDB), já animaram aliados.


A agenda social ainda reforça a estratégia. Reuniões com o próprio Tadeuzinho, festas tucanas, aparições em jogos de futebol: sinais de vitalidade política. Desde o início do ano, não é incomum ver o deputado entre as rodas de poder.


Nas conversas, Aécio é tratado como “governador” em disponibilidade, o único que ainda mantém trânsito regular na Assembleia, nos tribunais e entre os caciques partidários.


O desafio, no entanto, vai além da anistia, da blindagem ou de Romeu Zema. Aécio disputa espaço numa arena em que Nikolas Ferreira transforma votações em memes, Cleitinho Azevedo viraliza discursos improvisados e a velha política ainda testa os limites da paciência cidadã.

 


PL em chamas

A reunião de Aécio Neves (PSDB-MG) com o ex-presidente Michel Temer (MDB) caiu como uma bomba no PL mineiro. Deputados relatam que houve colegas “espumando de raiva” ao saber do encontro, interpretado como tentativa de o tucano redesenhar articulações que poderiam enfraquecer a influência bolsonarista no estado. O incômodo foi tamanho que o presidente da legenda em Minas, Domingos Sávio, já discute internamente como frear qualquer movimento junto ao presidente da Câmara, Hugo Motta.

 

 

Sem perdão

Odair Cunha, Leonardo Monteiro e Paulo Guedes, todos do PT mineiro, experimentam nas redes sociais o reverso da glória digital: o linchamento simbólico. Ao apoiarem a PEC da Blindagem, viram suas páginas serem inundadas por críticas e ironias, sobretudo vindas do próprio campo progressista. A esquerda, que costuma prezar pela memória dos votos, não perdoou a dissidência.

 

 

Rotas distintas

A PEC da Blindagem expôs diferenças entre dois dos principais nomes da nova direita mineira. O senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) se manifestou contra a proposta aprovada na Câmara, enquanto o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) votou a favor. O texto seguiu para a análise do Senado. Embora atuem como aliados e discutam até a possibilidade de Nikolas abrir mão da própria candidatura prioritária para apoiar Cleitinho ao governo de Minas em 2026, a divergência sinaliza uma divisão já marcada nos bastidores.

 

 

Operação Rejeito

Preso na Operação Rejeito, Helder Adriano de Freitas, irmão do atual secretário de Agricultura de Brumadinho, aparece entre os doadores da campanha de 2022 do deputado estadual Bruno Engler (PL). Segundo registros do Tribunal Superior Eleitoral, ele contribuiu com R$ 50 mil.

 

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“Gabinete zero”

O desembargador Eduardo Morais da Rocha, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, é finalista do Prêmio Innovare 2025 após conseguir zerar um acervo de mais de 41 mil processos em menos de três anos, feito alcançado sem reforço de equipe ou uso de inteligência artificial, apenas com estratégia de gestão e três planilhas de Excel.

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