
Deputados mineiros no olho do 'furacão da devastação'
Enquanto a maioria dos parlamentares acompanhava a sessão remotamente, os deputados de Minas estavam em plenário, envolvidos na articulação e nos embates
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Na votação que redesenhou o licenciamento ambiental no país, a bancada mineira não ficou à margem: esteve no centro das decisões e das tensões. Enquanto a maioria dos parlamentares acompanhava a sessão remotamente, os deputados de Minas estavam em plenário, diretamente envolvidos na articulação e nos embates da madrugada.
Coube ao deputado Zé Vitor (PL-MG) a relatoria do projeto. Ele redigiu o texto, negociou apoios e atendeu às demandas do setor mineral. O relatório foi aprovado com apoio da base ruralista e sob elogios discretos do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). A atuação consolidou a posição de Zé Vitor como nome em ascensão na bancada mineira.
Na base de Lula (PT), a deputada Célia Xakriabá (Psol-MG) protagonizou uma cena tensa. Ao discursar sobre os impactos do projeto nas comunidades tradicionais, foi interrompida por Kim Kataguiri (União-SP). Ele a chamou de “cosplay de pavão”, em referência ao cocar que usava. O episódio aconteceu no momento em que Célia falava emocionada sobre ancestralidade e direitos indígenas.
A confusão escalou. Segundo relatos de bastidores, Célia teria se aproximado de Kim durante a discussão e, com uma caneta na mão, esbarrou no braço de um terceiro deputado. A Polícia Legislativa foi chamada, mas não houve agressão intencional. Deputados que acompanhavam de perto a cena afirmam à coluna que os dois trocaram “ofensas pesadas”. Célia chamou Kim de “deputado estrangeiro”, o que ele interpretou como xenofobia. Ambos deixaram o plenário abalados; a mineira, em lágrimas.
Durante o episódio, uma cena inusitada: dois parlamentares que não são aliados, Duda Salabert (PDT-MG) e Pedro Aihara (PRD-MG), se colocaram ao lado de Célia, numa tentativa de protegê-la e conter a crise. Aihara, que tem boa relação com Kim e Célia, tentou intermediar a situação, sem sucesso. O gesto foi lido pela mineira como ato de solidariedade.
Enquanto isso, o deputado Rogério Correia (PT-MG), que discursava no momento da confusão, recusou-se a continuar a fala a pedido do presidente da sessão. Permaneceu em silêncio como forma de protesto. A atitude foi interpretada como recusa em normalizar o ataque à colega da bancada.
O clima após a votação era de constrangimento entre os parlamentares de Minas. Deputados que votaram a favor do projeto evitaram circular pelo Salão Verde mesmo após a comemoração em plenário. Em sua maioria, seguiram direto para os gabinetes ou para o estacionamento da Câmara. Já Zé Vitor foi cumprimentado por integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária e apontado como vitorioso após a aprovação.
Nos bastidores, a tensão da sessão foi atribuída ao cansaço generalizado. A votação foi concluída na madrugada. Além disso, a semana não previa votações presenciais, o que reduziu a participação em plenário e aumentou o peso simbólico dos que estavam presentes. O presidente da sessão, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), estava visivelmente exausto após mais de dez horas seguidas na condução dos trabalhos.
A sessão marcou o retorno de Minas ao centro do debate ambiental, não apenas como território historicamente afetado por tragédias como as de Mariana e Brumadinho, mas como força política. O relatório, a resistência, a confusão e o silêncio vieram dos representantes do mesmo estado.
Judicialização
Parlamentares da esquerda, inclusive do próprio PT, discutiam a possibilidade de judicializar o “PL da devastação”. A avaliação, no entanto, é de que a iniciativa deve ser adiada até a análise dos vetos presidenciais. Segundo relatos, a tendência é aguardar a decisão do Congresso sobre a manutenção ou derrubada dos vetos que, nos cálculos da oposição, devem ser derrubados, para então acionar o Judiciário.
Acatou
Sob risco de ver sua punição agravada, o deputado André Janones (Avante-MG) optou por não recorrer da suspensão de três meses imposta pelo Conselho de Ética da Câmara. O prazo para apelação se encerrou nesta quarta-feira (16), e o silêncio do parlamentar foi interpretado como movimento estratégico. Segundo líderes ouvidos pela coluna, havia articulação suficiente no plenário para elevar a pena para até seis meses se o caso fosse levado adiante. O recuo veio menos de 24 horas após o colegiado aprovar, por 15 votos a 3, a suspensão por “comportamento incompatível com o decoro parlamentar”.
Legendários
Belo Horizonte agora conta com uma data oficial para homenagear os chamados “legendários”, homens que integram um movimento voltado à “transformação pessoal” e à busca da “melhor versão” de si mesmos. A lei foi sancionada pelo prefeito Álvaro Damião (União Brasil) e publicada no Diário Oficial do Município nesta quinta-feira (17/7). A proposta é de autoria do vereador Wanderley Porto (PRD), que também faz parte do grupo. Nos bastidores da Câmara, o tema foi tratado com discrição, mas gerou comentários e até piadas. Alguns vereadores ironizam a escolha da pauta e, entre risos, dirigiram brincadeiras à colunista, insinuando que iriam também “buscar sua melhor versão”.
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Itabira
Enquanto o Executivo municipal enfrenta cortes e contingenciamento, a Câmara Municipal de Itabira ensaia encerrar o semestre com um “pacote de bondades” para os 17 parlamentares da Casa. Na última terça-feira (15), o presidente Carlin Filho leu em plenário a proposta que cria um cartão-alimentação de R$ 700 para os vereadores e de R$ 500 para os servidores da Câmara. Outro projeto em andamento prevê a ampliação do recesso parlamentar para 54 dias por ano, a partir de 2026. A medida tramita por meio de uma Proposta de Emenda à Lei Orgânica (Pelo), de autoria da Mesa Diretora, e reativa o recesso de julho, extinto em legislaturas anteriores. Se aprovada, a Câmara passará a funcionar de 1º de fevereiro a 17 de julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.