
Do templo à Câmara
Em algumas igrejas de Belo Horizonte, os jovens já são maioria no engajamento eleitoral. Em outras, coordenam campanhas, mobilizam redes e lideram debates
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Até pouco tempo atrás, o púlpito e a política caminhavam em lados opostos. “Igreja e política não se misturam” era o bordão que circulava nos corredores da juventude evangélica, como um mandamento tácito. Mas esse dogma, tal como tantos outros, caiu. E em seu lugar nasceu uma geração disposta a militar e a se eleger.
Basta entrar em uma célula jovem ou participar de um culto em igrejas como a Batista da Lagoinha, uma das maiores e mais influentes do país, para perceber que a conversa mudou. O interesse por temas políticos não é mais um ruído: é pauta. Em algumas igrejas de Belo Horizonte, os jovens já são maioria no engajamento eleitoral. Em outras, coordenam campanhas, mobilizam redes e lideram debates sobre projetos de lei.
O movimento não é partidário, mas é profundamente político. A pergunta deixou de ser “em quem votar?” e passou a ser “como ocupar?”.
Essa inquietação encontra eco no plenário da Câmara Municipal de Belo Horizonte, que vive hoje o auge de uma legislatura conservadora. É lá que os parlamentares da Frente Cristã tentam traduzir em projetos a demanda de suas bases: a “Bíblia” como material paradidático, o Dia dos Métodos Contraceptivos Naturais, a proibição do funk, cartazes contra o aborto, atestado de óbito fetal, combate à “sátira cristã” e vigilância ideológica em sala de aula. Uma agenda que atende ao apelo de um eleitorado jovem, engajado e cada vez mais politizado.
Na Lagoinha, por exemplo, estima-se que só entre os jovens com mais de 16 anos haja mais de 5 mil eleitores. Um eleitorado que, nas últimas eleições, votou em peso em nomes conservadores como a vereadora Flávia Borja (DC), autora de parte dos projetos mencionados. Não só votaram, como trabalharam: distribuíram santinhos, atuaram como voluntários, engajaram familiares, ocuparam bairros.
Outros parlamentares também surfam nessa mesma onda de identificação: Pablo Almeida (PL), Vile Santos (PL), Uner Augusto (PL) e o Bispo Arruda (Republicanos), todos nomes com forte ligação ao segmento evangélico.
Nos corredores da Câmara, o movimento não passa despercebido. Jovens batem ponto por ali em busca de orientação, articulação e espaço. As visitas são constantes, os pedidos são específicos, e os diálogos, cada vez mais articulados. Para muitos, o gabinete virou uma extensão da igreja e a Câmara, um novo campo missionário.
É uma virada geracional e de linguagem. O jovem evangélico quer ser ouvido. E, mais do que isso, quer legislar. Nos bastidores das lideranças juvenis das igrejas, já se discute quantos vereadores poderão surgir desses espaços. Quantos assessores, coordenadores e mobilizadores.
A próxima eleição começa a ser ventilada entre grupos de juventude, com olhos postos não só em votos, mas em candidaturas.
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Jabuticada e agasalho
No vídeo em que Lula aparece oferecendo jabuticaba a Donald Trump como antídoto contra o mau humor tarifário, um detalhe: o agasalho que o presidente usava levava o logotipo da Peak Sports, marca chinesa de artigos esportivos. A escolha, ainda que aparentemente casual, carrega uma fina ironia geopolítica. A Peak, fundada em 1989 e conhecida mundialmente por patrocinar atletas e delegações olímpicas, inclusive o Time Brasil, é símbolo da presença comercial chinesa no mundo. Enquanto os EUA sob Trump anunciam tarifas de 50% contra produtos brasileiros, Lula, de agasalho chinês, saboreia jabuticabas e oferece diplomacia tropical via redes sociais da primeira-dama. Se foi descuido, provocação ou acaso estilizado, ninguém confirmou.
Projetos fúnebres
Circula entre os gabinetes da CMBH uma carta assinada por Moisés Marques João de Deus, autointitulado “líder de família e cidadão belo-horizontino”, que dispara contra vereadores “omissos”, projetos “fúnebres” e gabinetes que mais parecem pedestais. Reclama da falta de banheiros públicos, da ineficiência do Procon e até sugere rótulos de bebida alcoólica com imagens de alerta, como nos maços de cigarro. A carta, que mistura desabafo indignado com crônica de boteco, virou leitura curiosa nos corredores.
ALMG
A poucos dias do recesso parlamentar, a Assembleia Legislativa de Minas prepara o tapete vermelho para Alencar da Silveira Jr. (PDT), de 63 anos. Candidato único à vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MG), o deputado será sabatinado hoje, em uma sessão que tende mais à formalidade do que ao confronto. Alencar pleiteia a cadeira deixada por José Alves Viana, vaga desde abril de 2024 e, nos bastidores, já conta com o apoio de boa parte da Casa.
Escolas cívico-militares
A Comissão de Educação da Assembleia Legislativa de Minas aprovou ontem um requerimento que pede a revogação imediata da resolução que instituiu o modelo de escolas cívico-militares no estado. O documento, assinado pela deputada Beatriz Cerqueira (PT) e outros parlamentares, solicita que a Secretaria de Educação e o Corpo de Bombeiros suspendam a resolução que criou a Política Educacional de Gestão Compartilhada. O argumento central é a “inconstitucionalidade e ilegalidade da manutenção do programa em Minas”, especialmente após a extinção do modelo em nível federal.
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As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.