Ana Mendonça
Ana Mendonça
EM MINAS

Deputados e milionários

A proposta de estabelecer uma alíquota mínima sobre os maiores rendimentos reacendeu tensões entre o governo e o Congresso Nacional

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Minas Gerais tem 53 cadeiras na Câmara dos Deputados. Vinte e seis delas são ocupadas por parlamentares que declararam patrimônio acima de R$ 1 milhão à Justiça Eleitoral. A informação foi levantada pelo jornalista Gabriel Ronan e atualizada pelo Núcleo de Dados do Estado de Minas. O tema voltou ao centro do debate com a escalada do clamor popular nas redes sociais pela chamada “taxação dos super-ricos”, pauta que se tornou bandeira simbólica de justiça fiscal, mas esbarra, como quase tudo em Brasília, no poder.

A proposta de estabelecer uma alíquota mínima sobre os maiores rendimentos reacendeu tensões entre o governo e o Congresso Nacional. Mas ganhou força nas redes sociais depois do discurso de Simone Tebet (MDB), ministra do Planejamento e Orçamento de Lula (PT) em Comissão na Câmara dos Deputados. “Se taxar super-ricos é coisa de esquerda, esquerdista, eu, que nunca fui, sou”, afirmou esta semana.

Em Minas, o deputado com maior patrimônio declarado é Hercílio Coelho Diniz (MDB), empresário da rede de supermercados Coelho Diniz, com R$ 65,9 milhões registrados na Justiça Eleitoral. Embora não se enquadre tecnicamente na faixa dos chamados super-ricos, passou a ser um dos novos alvos nas redes sociais. Isso porque, além de aparecer na lista dos milionários mineiros, aparece também na lista dos 10 deputados mais ricos do Brasil. Procurado pela coluna, o deputado defendeu a proposta e foi direto: “Temos de mudar nossa base tributária, migrar do consumo para patrimônio e renda”.

Em segundo lugar está Misael Varella (PSD), com R$ 43 milhões declarados. Médico, com base na Zona da Mata, votou contra a emenda que previa a criação de um imposto sobre grandes fortunas em 2024. Não respondeu às perguntas enviadas pela reportagem. No entorno político, é visto como parlamentar de atuação técnica, com raízes na gestão hospitalar e afinado com o discurso da estabilidade fiscal.

O terceiro mais rico é Mário Heringer (PDT), com R$ 10,3 milhões. Presidente estadual do PDT, cumpre o sexto mandato consecutivo na Câmara. À coluna, foi direto: é francamente a favor da taxação dos super-ricos.

Euclydes Pettersen (Republicanos), com R$ 5,2 milhões declarados, também votou contra a proposta em 2024. Presidente do Republicanos em Minas, ele aparece como quarto na lista e é vinculado ao setor agropecuário, tendo base no Vale do Rio Doce. Não respondeu aos questionamentos da reportagem mesmo após visualizar a mensagem. É classificado por interlocutores como um nome fiel à agenda liberal e resistente a alterações que incidam sobre o patrimônio.

Paulo Abi-Ackel (PSDB), presidente estadual da sigla e com R$ 4,7 milhões declarados, completa a lista dos cinco mais ricos da bancada mineira. Em nota oficial do partido, posicionou-se contra a proposta. No comunicado, a legenda afirma que, ao longo de 200 meses de governos petistas, “nunca sequer pensaram no assunto”, e atribui à atual discussão um caráter eleitoreiro. “Este não é o governo da ‘taxação dos super-ricos’. Este é o governo da ‘taxa das blusinhas’”, diz o texto.

Na quinta-feira, o relator da reforma do Imposto de Renda, deputado Arthur Lira (PP-AL), surpreendeu ao manter, em seu parecer, a alíquota de 10% para o imposto mínimo efetivo sobre altas rendas. Ele havia cogitado reduzi-la para 9%, diante da previsão de arrecadação acima da esperada com o novo modelo. Mas, em meio à tensão entre o Congresso e o Executivo, houve uma suavização.

A proposta, em essência, tenta corrigir um desequilíbrio estrutural: isenta do IR quem recebe até R$ 5 mil mensais e impõe um piso de tributação aos maiores rendimentos. Mas o problema, claro, não é só técnico. É político e de resistência parlamentar. Em 2024, a emenda que previa um imposto sobre grandes fortunas foi derrotada. O decreto que aumentava o IOF, também. Nos bastidores, líderes admitem: sem articulação direta, antecipada e estratégica, o governo seguirá colecionando fracassos em medidas estruturais.

O clamor das redes pela taxação dos super-ricos não é apenas um apelo por justiça fiscal é, também, uma reação simbólica ao abismo entre quem paga muito e quem quase nada. Mas, no Congresso, onde o poder raramente é transparente e quase nunca proporcional, a gritaria digital encontra um muro de contenção silenciosa. Entre pareceres técnicos, cálculos de impacto e disputas por protagonismo, o debate escancara o desconforto de uma elite política que, embora nem sempre super-rica, sabe exatamente o que tem a perder quando o foco muda do consumo para o patrimônio.

O sobrenome virou cargo

No pequeno município de São João do Manteninha, no Vale do Rio Doce, o poder tinha endereço familiar. Duas secretárias municipais foram afastadas por nepotismo: Hellen Souto Pinheiro, até então titular da pasta da Cultura, é esposa do prefeito Danilo Soares de Lima, o Danilo Muqueca (Podemos). Já Bethânia Soares Gomes de Lima, que ocupava a Secretaria de Administração, é irmã dele. A decisão liminar foi concedida pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que entendeu que, por lá, o quadro de pessoal estava mais para álbum de família.

Zema na ALMG

Apesar de já ter garantido cinco aprovações na Assembleia para viabilizar a adesão de Minas ao Propag, o governo Zema ainda enfrenta resistência na PEC que derruba a exigência de referendo popular para privatizações. A proposta já foi obstruída três vezes na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) por parlamentares da oposição, que veem na medida uma tentativa de driblar a participação popular. A base do governo, por sua vez, sustenta que a mudança constitucional facilitaria o processo de abatimento da dívida com a União, estimada em R$ 165 bilhões. Nos bastidores, o Palácio Tiradentes trata a pauta como prioritária, mas ainda sem maioria para avançar.

Remanejamento de quase R$ 3 milhões

O governador Romeu Zema (Novo) publicou o Decreto NE 535 autorizando o remanejamento de R$ 2,9 milhões dentro do Orçamento de 2025 para reforçar as ações da Secretaria de Governo (Segov). O recurso saiu principalmente das áreas de Assistência Social, Agricultura e Emater, e tem origem em emendas parlamentares individuais, aquelas que deputados destinam para áreas específicas. A lista dos autores das emendas será divulgada no Anexo II do decreto, ainda não publicado. Nos bastidores, a movimentação é lida como sinal de que a articulação política no Palácio Tiradentes entrou em nova fase.

Trump e 2026 na mira do vice-governador

Durante participação no Conexão Empresarial, em Cachoeira do Campo, na quinta (10), Mateus Simões falou sobre os prejuízos do tarifaço para Minas e, claro, sobre eleições. Deu uma alfinetada indireta em Cleitinho Azevedo (Republicanos), com quem, segundo ele, chegou a conversar sobre uma possível aliança à direita, mas o senador teria recuado publicamente dias depois.

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Fuad deve virar estátua e nome de praça

A Prefeitura de Belo Horizonte autorizou a abertura de créditos suplementares de R$ 250 mil para bancar a criação de uma escultura em bronze em homenagem ao ex-prefeito Fuad Noman, que faleceu em março deste ano. A proposta é do atual prefeito, Álvaro Damião, que pretende instalar a estátua na Praça da Independência, no Centro da capital. Nos bastidores, circula ainda a possibilidade de que o local seja rebatizado como “Praça Fuad Noman” em mais um gesto simbólico de sua gestão ao antecessor.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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