
Sobre Simões, Tadeu, Nikolas e medalhas
Das poucas honrarias que o vice-governador aceitou nos últimos anos, duas vieram por iniciativa direta do presidente da Assembleia Legislativa
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Mateus Simões (Novo) não é homem de condecorações. Discreto com homenagens, já recusou dezenas de medalhas ao longo do governo, com o argumento de que “não era o momento”. Mas há exceção e ela tem nome e sobrenome: Tadeu Martins Leite (MDB). Das poucas honrarias que o vice-governador aceitou nos últimos anos, duas vieram por iniciativa direta do presidente da Assembleia Legislativa: o Colar do Mérito Legislativo da ALMG em 2022 e a Medalha Ivan José Lopes de Honra a Montes Claros, recebida ontem.
Não foi coincidência. O gesto é simbólico. No palco da Câmara Municipal da cidade natal do deputado estadual, Simões recebeu a homenagem em meio a uma agenda recheada: evento rural, visita à empresa local e participação na abertura da Expomontes. A cena foi registrada, aplaudida e distribuída com entusiasmo por aliados. Nos bastidores, a imagem tem legenda: o vice-governador quer Tadeuzinho como seu companheiro de chapa em 2026. E já deixou isso claro a aliados próximos.
A articulação avança com aval do governador Romeu Zema (Novo) e, mais recentemente, com declarações públicas de alinhamento institucional. No entanto, o que parece consenso no entorno de Simões ainda está longe de ser uma decisão pacificada do lado do deputado.
Embora a aproximação entre os dois seja real e cada vez mais visível, o presidente da Assembleia não tinha esse objetivo. Seu projeto original era disputar o Senado ou a Câmara dos Deputados. E essa ambição vem acompanhada de um entrave considerável, já que Tadeuzinho é próximo de Rodrigo Pacheco (PSD), ex-presidente do Senado, com quem articulou diretamente o Propag, modelo alternativo ao Regime de Recuperação Fiscal.
Pacheco, por sua vez, também tem planos para 2026 e mira o Palácio Tiradentes. Com apoio do presidente Lula (PT), o senador pretende encabeçar uma chapa de oposição ao governo de Zema. Se isso se confirmar, ter Tadeuzinho como vice de Simões se tornaria, no mínimo, uma saia-justa.
Essa tensão, por ora, ainda está fora do microfone. No palco da cerimônia, o deputado estadual foi só elogios. Disse que a medalha era um reconhecimento “do que Mateus e o governo já vêm fazendo pela cidade e pela região” e acrescentou, quase didaticamente: “De vez em quando eu recuo, de vez em quando ele recua. Mas, ao final, a gente sempre traz uma solução”.
O tom foi o da parceria institucional, mas o pano de fundo é político já que a aproximação dos dois tem rendido frutos práticos e serve de palanque informal para um futuro próximo. E enquanto essa chapa vai sendo desenhada em silêncio, outras figuras da direita mineira começam a se movimentar, nem sempre com discrição.
O senador Cleitinho (Republicanos-MG), à frente nas pesquisas para o governo de Minas, tem se mostrado incomodado com o espaço que Simões vem ganhando. Na semana passada, era esperado para um almoço em Belo Horizonte com o vice-governador e Jair Bolsonaro (PL). Não foi. Alegou agenda. Mas interlocutores admitem: o senador não gostou nada de ver o ex-presidente sentado ao lado do nome do governo mineiro, ainda mais sabendo que Simões tem se colocado como a opção da direita para 2026.
A irritação cresceu com os movimentos desta quinta-feira (3/7). No almoço em Montes Claros, quem surgiu, ainda que discretamente, foi o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). O Estado de Minas divulgou com exclusividade a foto do encontro, em que Nikolas aparece ao lado de Simões, sorridente, em uma churrascaria da cidade. A aparição foi tratada como espontânea, mas ninguém duvida que tenha sido milimetricamente calculada. A interlocução com Nikolas, um dos campeões de votos do país, é também parte da estratégia de Simões.
Ao lado de Tadeuzinho no palco, com Nikolas na mesa do almoço e com a medalha no peito, ele parece ter encontrado seu roteiro ideal para sua candidatura ganhar fôlego: se tornar inevitável para a direita, mesmo sem ser unanimidade.
Mas a política mineira tem seus tempos, seus códigos e seus vetos. E, ainda que Simões tenha pressa, Tadeuzinho sabe que a escolha de seu próximo passo envolve mais do que alianças locais. Envolve Brasília. Envolve Pacheco. E, claro, envolve 2026.
Bolsonaristas de olho
Se Simões acha que tem o jogo vencido, a reação do outro lado veio rápida. A coluna procurou bolsonaristas próximos ao senador Cleitinho, que garantiram: o candidato do grupo para 2026 é o senador. Não existe, pelo menos por ora, essa história de “sentar com Simões”. A leitura é que, embora o ex-presidente Bolsonaro esteja sonhando com uma vaga do PL no Senado mineiro e esteja disposto a negociar palanques, Cleitinho não abre mão do governo de Minas de jeito nenhum – como já declarou ao EM. Simões poderia até barganhar um apoio a Bolsonaro ao Senado, mas enfrentará resistência direta no campo que ele tenta atrair.
#VetaLula
Em tom cada vez mais eleitoral, o senador Cleitinho foi às redes sociais pedir que o presidente Lula vete o projeto aprovado pelo Congresso que aumenta em 18 o número de deputados federais. Com uma placa nas mãos “O que 531 vão fazer, que 513 não consegue?”, Cleitinho lançou a hashtag #VetaLula e convocou uma “campanha nacional” contra a medida. O gesto reforça sua movimentação de olho em 2026.
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Assédio
A Polícia Civil indiciou o ex-secretário de Esporte de São Joaquim de Bicas, na Região Metropolitana de BH, por assédio sexual contra três servidoras públicas. As vítimas relataram toques sem consentimento, tentativas de beijo forçado e comentários inapropriados.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.