Pesquisa busca desenvolver espécie nativa na silvicultura
Estudo da UFLA, Fapemig e Fundecc quer fortalecer árvores que são da flora brasileira para reflorestamento e produção econômica de madeira e óleo
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Projeto desenvolvido pela Universidade Federal de Lavras (Ufla) quer incentivar o plantio de árvores brasileiras como alternativa às espécies exóticas usadas em larga escala na silvicultura nacional. Patrocinado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e gerido pela Fundação de Desenvolvimento Científico e Cultural (Fundecc), ele realiza melhoramento genético de espécies florestais nativas para torná-las mais competitivas para o mercado nacional.
Entre as árvores pesquisadas estão o ipê-felpudo (Zeyheria tuberculosa), louro-pardo (Cordia trichotoma), vinhático, estudados pela qualidade da madeira; a sapucaia (Lecythis pisonis) por causa de suas castanhas que são comestíveis, e também a candeia (Eremanthus erythropappus), de onde se extrai um óleo usado na indústria de cosméticos.
O projeto é coordenado pelo professor das Ciências Florestais da Ufla, Lucas Amaral de Melo. Segundo ele, o projeto une possibilidades econômicas e conservação de espécies nativas ameaçadas que já são usadas pelo produtor rural em seu dia a dia, mas não com finalidade econômica. Caso, por exemplo, da madeira do ipê-felpudo,cujo uso é muito comum no meio rural.
“Há potencial muito grande dessas espécies nativas que já são usadas pelo produtor no dia a dia, mas não em escala comercial. Isso ajuda não só na questão econômica, mas também na preservação das espécies”, destaca.
O processo de melhoramento genético, destaca Melo, já é largamente utilizado no caso das espécies exóticas dominantes na silvicultura brasileira, eucalipto e pinus, mas pouco estudado no caso das árvores nativas.
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No caso do projeto, explica o professor, as sementes de cada árvore são coletadas em expedições no campo e semeadas separadamente para que os pesquisadores possam observar o grau de crescimento de cada uma das mudas e como elas reagem a processos de melhoramento. O objetivo, segundo ele, é garantir um crescimento mais rápido e uma produção maior de madeira e óleo.
“Quando selecionamos e multiplicamos espécies nativas, fortalecemos a biodiversidade e também criamos alternativas reais para o produtor rural. A intenção é garantir maior qualidade para o uso que queremos dessas espécies no futuro”, destaca o pesquisador. Segundo ele, a pesquisa pode garantir o desenvolvimento da silvicultura econômica de espécies nativas e a existência futura dessas árvores
Ele cita, por exemplo, o caso da candeia, que já esteve ameaçada de extinção. “A candeia, do ponto de vista do consumo é muito utilizada para a extração de óleo, e existe uma demanda muito grande pelo produto, mas se não tiver projetos de plantio e manejo eu vou tirar o óleo de onde? Da mata nativa”, afirma. Para ele, se houver incentivos de plantio, sejam eles comerciais ou não, é mais fácil conservar as espécies ameaçadas de extinção”, afirma
Além disso, destaca Melo, há no Brasil uma grande demanda, em todos as instâncias da federação, de recuperação de áreas degradadas por atividades agropecuárias e de aumento de áreas florestais e isso pode ser feito com essas espécies em estudo.
Empecilhos
Mas de acordo com ele, um dos empecilhos para o desenvolvimento da silvicultura nativa, é a legislação ambiental que dificulta o corte dessas espécies. De acordo com ele, esse é um tema que precisa também ser enfrentado, além das pesquisas de melhoramento genético, que vai garantir crescimento mais rápido e mais produção de sementes e óleo.
Há uma resistência ao uso de nativas na silvicultura devido ao risco de não poder, futuramente, cortar essas árvores para, por exemplo, uso da madeira. “É muito mais certo de que eu vou plantar uma espécie exótica, vou manejar e ter facilidade de colher, posteriormente, o fruto dela, quando comparo com uma nativa, pois nossa legislação ainda deixa muitas dúvidas de como eu vou poder fazer a colheita deste material”, afirma o pesquisador, que defende uma modernização e desburocratização da legislação e dos processos para incentivar a silvicultura com espécies nativas.
Iniciado em maio, o projeto tem prazo de 36 meses para conclusão e conta com a participação da UFLA, o projeto é coordenado por mim, mas possui a participação de vários pesquisadores de diferentes departamentos e áreas de conhecimento da Ufla e também alunos de diferentes cursos. O contato para informações sobre as mudas pode ser feito pelo e-mail dcf@ufla.br
Conheça as árvores nativas estudadas para melhoramento genético
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Candeia (Eremanthus erythropappus)
Nomes populares: cambará, dedal, dedaleira, pacari
Ocorrência:
Sudeste (Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo)
Nordeste: Bahia
Centro-oeste: Goiás
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Ipê-felpudo (Zeyheria tuberculosa)
Nomes populares: bucho de boi, culhões de bode, ipê branco, ipê tabaco
Ocorrências
Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe)
Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo)
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Louro-pardo (Cordia trichotoma)
Nomes populares: Peterebi, ajuí, freijó
Ocorrências:
Norte (Tocantins)
Nordeste (Bahia, Ceará, Maranhão, Piauí, Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe)
Centro-Oeste (Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso)
Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo)
Sul (Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina)
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Sapucaia (Lecythis pisonis)
Nomes populares: Castanheira de Sapucaia, Sapucaia
Ocorrência:
Norte (Acre, Amazonas, Pará, Rondônia)
Nordeste (Bahia, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte)
Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo)
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Vinhático (Plathymenia)
Nomes populares: amarelo acende-candeia, oiteira, paricazinho, pau-amareloOcorrências:
Norte (Pará)
Nordeste (Bahia, Ceará, Maranhão, Piauí)
Centro-Oeste (Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso)
Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo)
Sul (Paraná)