Epamig desenvolve e lança nova cultivar de café arábica
Pesquisas que vêm sendo feitas há 40 anos resultaram em planta com alta produtividade, resistência a doenças e capacidade de se adaptar a diferentes regiões
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A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) lançou uma nova cultivar de café arábica desenvolvida para combinar alta produtividade, resistência a doenças, além de capacidade para se adaptar a diferentes regiões e sistemas de produção. De acordo com Juliana Resende, pesquisadora em café da Epamig, a “MGS Epamig Amarelão” vem sendo desenvolvida há mais de 40 anos, desde o primeiro cruzamento até o lançamento de sua nona geração, que acaba de chegar ao mercado.
A chegada de uma cultivar mais adaptada é positiva à medida que, nos últimos anos, a produção do café arábica no Brasil, mais sensível às variações climáticas (como as ondas de calor e a falta de chuvas), tem ficado abaixo do esperado. Este cenário acende o alerta para a necessidade de manter a produção de café arábica estável. Embora o arábica ainda lidere a produção nacional, o avanço dos canéforas realça a necessidade de materiais mais adaptados e produtivos, sem abrir mão da qualidade da bebida.
A nova cultivar de café arábica foi originada a partir do cruzamento entre o Catuaí Amarelo IAC 30 e o Híbrido de Timor UFV 445-46, combinando precocidade e uniformidade de maturação dos frutos, chegando a atingir o ponto de colheita cerca de 30 a 40 dias antes das cultivares Catuaí.
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No que diz respeito às doenças, Juliana Resende explica que a MGS Epamig Amarelão é resistente à ferrugem do cafeeiro (provocada pelo Hemileia vastatrix) e ao nematoide das galhas (Meloidogyne exigua). Também foi observado que a nova cultivar de café, embora não apresente resistência específica ao fungo do gênero Phoma, demonstrou excelente desempenho em áreas com alta incidência do causador da mancha-de-phoma. A pesquisadora da Epamig explica que esse resultado está ligado à precocidade da cultivar. Como a mancha-de-phoma causa mais danos na fase de chumbinho, os frutos dessa variedade já se encontram em estágio mais avançado quando a doença aparece, escapando do período mais crítico da infecção.
Como o cultivo da MGS Epamig Amarelão não demanda muita água, ele é indicado para produtores que não usam irrigação. A resistência a doenças também favorece o uso da nova cultivar para a produção de café orgânico. “O Amarelão pode atender especialmente aos pequenos produtores de Minas Gerais que muitas vezes enfrentam dificuldade para cultivar em áreas montanhosas, onde o uso de tratores é limitado e a aplicação de defensivos se torna mais complexa. Cultivares resistentes podem garantir boa produtividade”, destaca a pesquisadora.
Plantio
A nova cultivar tem porte baixo, como a Catuaí, o que facilita a colheita mecanizada. O espaçamento recomendado entre as mudas fica entre 0,5 e 0,7 metro, dependendo da região e relevo, para que fique adensado. Em sistemas mecanizados, a população de plantas fica em torno de 4.500 mudas por hectare, que garante uma maior eficiência operacional, boa circulação entre as plantas e o uso otimizado das máquinas agrícolas.
Já na cafeicultura de montanha, com manejo manual, recomenda-se ao menos 6.000 plantas por hectare. Esse adensamento contribui para maior produtividade e para uma melhor cobertura do solo, além de otimizar o uso de água e nutrientes. Por outro lado, exige manejo mais intenso, com podas frequentes e remoção de ramos para manter a arquitetura das plantas, o que aumenta a necessidade de mão de obra.
A nova cultivar de café arábica foi desenvolvida em parceria com produtores, sobretudo do Vale do Jequitinhonha, nos municípios de Água Boa, Angelândia, Aricanduva, Capelinha e José Gonçalves de Minas. Também participaram cafeicultores de outras regiões como Ibiraci e São Miguel do Anta.
O material foi avaliado diretamente nas propriedades, onde os próprios produtores acompanharam o desempenho das plantas ao longo dos anos. “Os produtores foram fundamentais. Sem essa parceria no campo, essa cultivar não estaria sendo lançada com tanto êxito”, avaliou a pesquisadora.
Demonstração
Para aproximar a pesquisa da realidade do campo, a Epamig mantém unidades demonstrativas em propriedades rurais, onde diferentes cultivares são plantadas e acompanhadas em condições reais de produção. Esses espaços funcionam como vitrines tecnológicas e pontos de troca com os agricultores. Além disso, a instituição realiza dias de campo e visitas técnicas, permitindo que os produtores observem o desempenho das variedades e tirem dúvidas diretamente com os pesquisadores.
“É fundamental levar a pesquisa até o produtor, no ambiente e no sistema de cultivo que ele utiliza. Nem sempre conseguimos replicar todas as situações de manejo em fazendas experimentais. A realidade do produtor é diferente, e as unidades demonstrativas nos ajudam a entender qual cultivar se adapta melhor a cada cenário. O projeto reúne pesquisadores e agricultores em uma rede colaborativa fortalece a adoção de tecnologias validadas em campo, acelerando a chegada de novas cultivares – como a MGS Epamig Amarelão – à regiões produtoras de Minas Gerais”, explicou Juliana Resende.
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Segundo a pesquisadora, nos últimos anos os produtores têm demonstrado crescente interesse por novas cultivares que podem apresentar até 25% mais produtividade em relação ao Catuaí e ao Mundo Novo, além de vantagens como maior resistência à ferrugem.
Ela ressalta, porém, que a adaptação do cafeeiro pode variar muito de uma propriedade para outra. “Às vezes, uma cultivar funciona muito bem em uma área, mas no sítio ao lado já não apresenta o mesmo desempenho. Por isso, recomendamos cautela.
Livro
A Epamig também acaba de lançar o livro “Café arábica: tecnologias de produção”, escrito por 85 autores de mais de 20 instituições. A obra traz 19 capítulos e aborda toda a cadeia do café, da implantação da lavoura ao pós-colheita, passando pela comercialização, qualidade da bebida, sustentabilidade e tecnologias digitais aplicadas à cafeicultura. “É uma obra completa, que apresenta desde o panorama da cafeicultura em Minas e no Brasil até as inovações mais recentes. São 920 páginas com conteúdo amplo e atualizado”, resume Juliana Resende. Inicialmente, a proposta era apenas atualizar uma obra anterior sobre o café arábica da Epamig. Porém, o projeto ganhou uma dimensão maior, com novas ideias, temas inéditos e participação de diferentes especialistas. A publicação será comercializada para o público em geral, e, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), está prevista a distribuição dirigida para cooperativas, universidades, produtores, técnicos e estudantes ligados ao setor cafeeiro.