Sul de Minas amplia em 55% área de cultivo da maçã
Variedade Eva, introduzida na região, exige menos horas de frio em seu ciclo produtivo, adaptando-se melhor ao clima local
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Siga noA Região Sul de Minas Gerais vai ampliar a área destinada à produção de maçã em 55% em 2025. No segundo semestre, a área plantada vai saltar de 7,2 para 11,2 hectares. Apesar desse crescimento, o estado não se destaca nessa cultura, favorecida pelo clima frio. Não por acaso, cerca de 98% da produção de maçã no Brasil está na Região Sul do país, sobretudo o estado de Santa Catarina, responsável por 50% da safra nacional, seguido pelo Rio Grande do Sul e Paraná.
A produção mais tradicional de maçã em Minas Gerais localiza-se em cidades do Campo das Vertentes, como Barbacena, Piedade do Rio Grande e São Tiago. Recentemente, a Região Sul do estado vem mostrando que também pode entrar no mapa de produção da fruta justamente por reunir características favoráveis para o cultivo da fruta, como clima ameno e altitude elevada. Mas, claro, ainda longe de se tornar um grande produtor.
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A Região Sul de Minas Gerais já é famosa pela produção de café e leite. Agora, a fruticultura entra como uma opção de diversificação. A maior parte da mão de obra do café é utilizada na colheita, entre maio e julho. Depois disso, a demanda diminui. É neste ponto que a Emater-MG (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais) imaginou que a maçã, com produção entre outubro e dezembro, totalmente deslocada do pico do café, poderia ser uma cultura adequada para ocupar a mão de obra que já está na propriedade e se tornar uma segunda opção de renda para o produtor.
Deny Sanábio, coordenador estadual de Fruticultura da Emater-MG, explica que a ideia surgiu em 2022, junto com alguns produtores da Região Sul do estado. As mudas foram plantadas em 2023 e, no ano seguinte, já deram frutos. Em 2024 a Emater organizou um evento de demonstração e observação para outros produtores. Essas unidades demonstrativas mostraram que o negócio deu certo. Assim, produtores de 20 municípios da região se interessaram pela cultura e compraram cerca de 2.200 mudas de maçã de um viveiro do Sul, pagando 50% de sinal e o resto na entrega, no final do mês de julho.
Variedade Eva tem características entre a Fuji e a Gala
A maçã que está sendo introduzida no Sul de Minas Gerais é da variedade Eva, que exige menos horas de frio em seu ciclo produtivo, adaptando-se melhor à região. É a mesma variedade que predomina no Campo das Vertentes. Seu sabor fica entre a Fuji, mais ácida, e a Gala, mais doce, se destacando ainda pela crocância, avalia Sanábio.
No plantio, as mudas de Eva são intercaladas com as variedades Julieta e Princesa, para melhorar o processo de polinização. De acordo com Sanábio, a variedade Eva é capaz de se autopolinizar, mas com a polinização de outras variedades a produção aumenta consideravelmente. Segundo o coordenador da Emater-MG, a irrigação é muito importante na fruticultura para conseguir produtividade e melhor qualidade nos frutos, além de ser uma garantia caso haja seca prolongada.
Nessas primeiras experiências, uma propriedade conseguiu uma produção média de 50 maçãs por árvore já no primeiro ano. Mas, os frutos ficaram muito pequenos, perdendo competitividade. Uma fruta aceitável deve ter entre 250g e 300g. “Nossa orientação é não deixar isso acontecer, principalmente em uma planta nova. No primeiro ano, a recomendação é tirar todos os frutos, para não drenarem a energia da planta. O raleio de frutos é importantíssimo para que a gente tenha uma fruta saborosa e competitiva em tamanho, porque ela vai encontrar essa concorrência no mercado”, explica Sanábio. Ele conta que uma prática normal até em árvores maduras é retirar até 70% dos frutos, para que os que restam se desenvolvam melhor.
Produção lucrativa
No cálculo da Emater-MG, o custo de produção até o segundo ano de um pomar de maçã (contando tudo, arado, gradeado, adubo, esterco, mão de obra, muda, calcário) é de R$ 40 mil por hectare. Quando esse pomar começar a crescer e produzir bem, a partir do terceiro ano, espera-se uma safra na ordem de 25 a 30 toneladas de maçã por hectare. O custo de produção de cada quilo de fruta é de cerca de R$ 1,80, sendo que o produtor pode vender por algo entre R$ 4 e R$ 5. “É um lucro bom para o produtor”, avalia Sanábio.
Na Região Sul do Brasil a safra anual é armazenada em câmaras frias e é conservada até a colheita seguinte. A produção vai de novembro a março, dependendo da variedade. Na visão do coordenador da Emater-MG, para justificar o investimento em uma câmara fria, o produtor tem que ter uma safra grande, o que ainda não é o caso no Sul de Minas.
A maçã é uma fruta de boa aceitação, presente na casa de muitos consumidores todos os meses do ano, motivo pelo qual não se tem muita dúvida quanto à aceitação do produto. Outro mercado que está sendo considerado é o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), em que prefeituras compram de agricultores familiares pagando o preço de mercado. “É um preço muito compensatório para o produtor, acima do preço de atacado. E a fruta é bem aceita pelos alunos. Mas, quando os diretores de escola fazem esse pedido de fruta, na maioria das vezes não tem um produtor local para fornecer, levando-os a compra em sacolões e supermercados. Acaba que, assim, o dinheiro não fica na região”, apontou Sanábio.
Mudas têm alta tecnologia
As mudas que estão sendo usadas nesse projeto vêm do Sul do país. O coordenador da Emater-MG explica que, para produzir bem já no primeiro ano, a planta tem muita tecnologia. O porta-enxerto, aquele que fica no chão, pertence a uma variedade que traz como característica raízes fortes e abundantes, com alta resistência à seca. Em cima dela é enxertada uma outra variedade que se chama feltro, capaz de filtrar uma série de doenças que podem subir para a variedade de copa. Finalmente, nesse feltro é enxertada uma variedade de copa. “Então, para fazer uma muda eu demoro 3 anos. São dois enxertos sobre o primeiro. É uma muda com muita tecnologia vendida a R$ 22. Não é caro”, avalia.
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“Eu costumo falar para os produtores que a muda é a base de um pomar. Muda não é lugar para você errar, não é lugar para você economizar. A muda você tem que buscar a melhor que tiver, onde estiver e pagar o preço justo. Não pode errar. Errou na muda, é dor de cabeça no pomar para o resto da vida”, resumiu Sanábio.
As 2.200 novas mudas chegam no final de julho e vão direto para a cova, que os produtores já foram orientados a deixar prontas, com adubação. A próxima expansão da produção de maçãs no Sul de Minas será feita nas regionais da Emater-MG de Lavras, com cerca de 40 municípios, e Pouso Alegre, com aproximadamente 35 municípios. O trabalho é o mesmo que vem sendo desempenhado, convidar os interessados para uma unidade de observação e demonstração e prestar todas as informações necessárias. Para 2026, a expectativa é dobrar a área plantada neste ano, chegando a 22 hectares.