Uso de tecnologia faz renascer cultura do algodão
Em Catuti, no Norte de Minas, produtores estão utilizando drone para combater praga que dizimou lavoura no passado e conseguir retomar a produção do fruto
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Siga noNo passado, o Norte de Minas viveu o apogeu das lavouras de algodão, que gerou riqueza na chamada microrregião da Serra Geral de Minas, perto da divisa com a Bahia. Na década de 1980, a cultura entrou em decadência por conta da chegada da praga do bicudo do algodoeiro, que dizimou as plantações, ocasionando o fechamento de usinas e deixando milhares de pessoas sem emprego e renda. Agora, em Catuti, um dos municípios da região, pequenos agricultores estão conseguindo bons níveis de produtividade na cotonicultura, fazendo o controle e combate eficiente ao bicudo com a inovação tecnológica: o uso de drone no monitoramento das plantas e na aplicação de defensivos nas lavouras, em sistema cooperativista.
A tecnologia é adotada pela Cooperativa dos Produtores Rurais de Catuti (Coopercat). Desde 2006, a entidade iniciou o Projeto de Retomada do Algodão do Norte de Minas, com o emprego de novas técnicas e o uso racional da água, na superação das adversidades climáticas no semiárido. A iniciativa envolve 40 pequenos agricultores, que, juntos, plantaram cerca de 300 hectares neste ano.
“O diferencial do drone em Catuti está sendo a eficiência proporcionada pela tecnologia na pulverização para o combate ao bicudo do algodoeiro. Pois, esta praga limitava a produção de algodão em nossa região”, afirma José Tibúrcio de Carvalho Filho, gerente técnico da Coopercat.
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Os pequenos agricultores foram capacitados sobre a pulverização das aéreas das lavouras algodoeiras, o manejo de pragas e outras práticas voltadas para o aumento a produtividade em um dia de campo, realizado no município, no final de maio. O evento foi promovido pela Bayer do Brasil.
A partir de parceria firmada com a Coopercat desde o início do projeto de retomada do cultivo do algodão no Norte de Minas, a multinacional passou a auxiliar os agricultores no acesso a sementes de alta performance e soluções para o processo produtivo, além de recomendações técnicas, informações sobre biotecnologia e treinamentos sobre o plantio e aplicação segura de defensivos. Em fevereiro de 2024, a empresa fez a doação do drone, que vem sendo usado pelos pequenos cotonicultores de Catuti para combater o bicudo do algodoeiro.
O diretor-executivo de algodão da divisão agrícola da Bayer no Brasil, Fernando Prudente, ressalta que o equipamento doado pela empresa tem contribuído para aumento da safra de algodão em Catuti. “A tecnologia e o treinamento para o uso do equipamento permitiram uma aplicação mais precisa de defensivos, com redução de até 96% no volume de calda pulverizada. Isso aumentou a eficácia no controle do bicudo do algodoeiro e reduziu o impacto ambiental. A receptividade entre os agricultores foi excelente, e a iniciativa se destacou por tornar acessíveis soluções modernas antes restritas a grandes propriedades”, pontua Prudente.
“Ao investir nos produtores familiares, impulsionamos o desenvolvimento sustentável no campo e fortalecemos a agricultura familiar, essencial para a resiliência dos sistemas agrícolas”, assinala o executivo da multinacional. “Durante o Dia de Campo, foi reforçado para os agricultores que, com uso drone, para pulverização dos campos de algodão, eles não precisam mais recorrerem à pulverização manual ou feita por trator, que causa danos à saúde humana. O drone tem uma eficiência incomparável em relação ao uso de equipamento manual ou trator na aplicação de defensivos, eliminando os riscos à saúde do aplicador", afirma Tibúrcio de Carvalho Filho.
Dia de Campo
Tibúrcio Filho lembra ainda que a “pulverização aérea” tem uma vantagem “infinita” em relação ao fator tempo. “Com o uso do drone, em uma hora pode ser feita a pulverização de 25 hectares. No sistema convencional, com equipamento costal ou trator, a área pulverizada em uma hora varia de 0,5 a quatro hectares apenas”, compara o técnico da Copercat.
O “Dia de Campo” foi realizado na Fazenda Lagoa Escura, na propriedade do produtor Custódio Lopes Martins. Além do controle de praga, com a aplicação de defensivos pelo sistema aéreo, foram abordados temas como o preparo do solo, o plantio das sementes de algodão, o manejo de doenças e o uso de hormônios para regular o crescimento da planta, a “nutrição” dos pés de algodão. “A gente tem que levar ao agricultor a mensagem de ele ter que se preocupar com a alimentação, a nutrição da planta. É preciso fazer a adubação no plantio e também as adubações foliares”, observa Tibúrcio.
Durante a atividade do Dia de Campo, informa Tibúrcio, foi explicado para os produtores de algodão que o drone oferece grande economia de recursos hídricos com maior eficiência, o que potencializa a “calda” (defensivo + óleo/adjuvante e misturado à água) na pulverização das lavouras. As gotas da mistura variam de 150 a 230 micras (gotas finas/médias) e são distribuídas de maneira uniforme e precisa. “Na aplicação convencional, costal ou com uso de trator, gasta-se em torno de 200 litros de calda – do defensivo misturado à água - para pulverizar um hectare. Já com o drone, aplica-se de cinco a 10 litros de calda por hectare. Isso aumenta a eficiência dos produtos aplicados”, observa o Tibúrcio de Carvalho Filho.
Produtor paga uso do drone por hectare
O gerente técnico da Cooperativa dos Produtores Rurais de Catuti, José Tiburcio de Carvalho Filho, explica que os cooperados pagam pelo uso do drone para a aplicação de defensivos nas lavouras de algodão R$ 120,00 por hectare pulverizado, visando a cobrir os custos da prestação de serviços, com prazo para a quitação. “Mas, além da pulverização, os produtores recebem a assistência técnica a direcioná-los na tomada de decisão, qual o produto que ele vai usar e qual praga enfrentada. Então, além do drone, a cooperativa oferece orientação técnica para definir a dosagem do produto a ser usada, não só para algodão, para milho, para feijão, ou qualquer cultura que o produtor tenha na sua propriedade”, descreve.
“O drone é usado não somente para pulverizar tudo, feijão, milho, sorgo e pastagem, o que o produtor precisar. Porém, a gente dá uma orientação para ele, qual produto que vai ser aplicado e a dosagem específica para aquela praga, doença ou erva daninha enfrentada”, explica. Tibúrcio de Carvalho lembra que a cooperativa conta com uma patrulha mecanizada, envolvendo um trator, implementos e o drone, voltada para a prestação de serviços aos seus associados.
O técnico ressalta que no caso do combate à praga do bicudo, outra vantagem apresentada é que os intervalos entre as aplicações dos defensivos são maiores. “No sistema convencional, tratorizado ou costal, o intervalo entre as aplicações variam de quatro a sete dias. Com o drone, tem-se intervalos entre 12 a 15 dias. Conclui-se menor custo com a compra dos produtos e menor dano à natureza”, explica Tibúrcio.
Cultivo ajuda a vencer a seca
O gerente técnico da Cooperativa dos Produtores de Catuti salienta que os agricultores da região são exemplo de como vencer a seca, que segundo ele, é “usada a favor” da atividade produtiva, com o aproveitamento da luz solar abundante no semiárido, como ocorre em outras partes do mundo com semelhante condição climática.
“Todo mundo trata a seca como um problema, mas eu sempre falo para o produtor que temos que usar o sol a nosso favor no período seco. A luminosidade faz a planta acelerar o crescimento. Então nós temos que pegar essa condição nossa e ser como vantagem”, diz Tibúrcio.
Ele faz uma comparação com outras regiões semiáridas do mundo. “A Austrália prova isso. Lá, são registrados 400 milímetros de chuva por ano e eles produzem bem. No Texas (EUA) chove pouco e é um lugar que se produz mais. Em Israel também chove pouco e o país tem uma mais altas produtividades do algodão do planeta”, descreve o técnico.
O representante da Copercat lembra que os pequenos produtores inseridos no Projeto de Retomada do Algodão em Catuti recorrem ao cultivo irrigado, condição diferente dos agricultores do passado, que plantaram lavouras de sequeiro. “Hoje, os agricultores da nossa região recorrem à irrigação. Fazem isso por uma necessidade”, afirma Tibúrcio.
Ele lembra que a região, anualmente, enfrenta o “veranico” – sol forte no período que deveria ser de chuva, normalmente, entre janeiro e fevereiro, e às vezes, até março. O “veranico’ também coincide com o período de floração e frutificação do algodão, justamente a época que a cultura mais precisa do recurso hídrico para vingar e alcançar boa produtividade. “Por isso que a gente faz o uso da irrigação para suprir a necessidade de água”, explica Tibúrcio.
Uso racional
No cultivo do algodão, pequenos agricultores do Norte de Minas usam água de poço-tubular e de reservatórios como os tanques de geomembrana (uma manta de liga plástica, elástica e flexível, à base de material geossintético). Também contam com barragens de captação de água da chuva. Como o recurso é escasso na região, eles procuram economizar a água ao máximo. “Os agricultores são orientados a fazer o uso do volume de água necessário somente para o consumo da planta. Então, é feito o uso racional da água”, afirma Tibúrcio.
O gerente técnico da Copercat ressalta que uma das dificuldades enfrentadas no Norte de Minas é a irregularidade das chuvas. “Se chovesse 400 milímetros em um período de 90 dias, não teria problema algum. O problema é que, ás vezes, chove 200 milímetros em um mês. Depois, fica 30, 40 ou até 60 dias sem chuva. Por isso que a irrigação complementa e potencializa o aumento da produtividade do algodão na região”, esclarece.
Tibúrcio Carvalho ressalta ainda que, com a adoção de novas técnicas, manejo adequado e irrigação com o uso racional da água, aproveitando a luminosidade solar para o crescimento da planta, os produtores do norte-mineiro estão conseguindo produzir algodão em um tempo mais rápido. No Mato Grosso e outras regiões de destaque da cotonicultura no Brasil o ciclo do algodão (entre o plantio a colheita) varia de 160 a 180 dias. No Norte mineiro, o ciclo da produção algodoeira, atualmente, varia de 100 a 110 dias.
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“Isso é muito importante porque os nossos produtores conseguem plantar e colher mais cedo”, avalia Tibúrcio, lembrando que, a produtividade média de algodão irrigado em Catuti é de 250 arrobas por hectares, sendo que a colheita da próxima safra na região está prevista para setembro. “Mas, a nossa intenção, com o uso de novas tecnologias e novos equipamentos, como uma plantadeira a vácuo, é aumentar essa produtividade e chegar acima 400 arrobas por hectare”, anuncia o gerente técnico.
Vantagens
O empresário Fabiano Henrique Weber, sócio-fundador de uma revenda do equipamento Mato Grosso, explica que o tipo de drone usado na aplicação de defensivos nas lavouras de algodão do Catuti custa entre R$ 120 mil e R$ 300 mil. Ele ressalta que o conjunto de um trator e um pulverizador pode ser adquirido praticamente na mesma faixa de custo, de R$ 150 mil a R$ 300 mil. “Mas, com o drone, se evita a compactação do solo e danos físicos à cultura, amassamento. Há ainda facilidade de logística. Tem a facilidade do transporte do drone de uma propriedade para outra”, observa o revendedor, lembrando ainda que a pulverização pelo sistema aéreo é melhor do que a operação convencional.
Incentivo aos jovens
O Dia de Campo sobre o cultivo do algodão e o combate ao bicudo com a aplicação de defensivos com o uso de drone contou com mais de 300 participantes, segundo os organizadores. Um dos destaques foi a participação de mais 100 estudantes de escolas de ensino médio da região. “Isso é muito importante: trazer os jovens par cuidar da agricultura. Eles são filhos de agricultores e precisam entender o que é o agro”, afirma o gerente técnico da Coopercat, José Tibúrcio de Carvalho Filho. Ele lembra que os municípios norte-mineiros são essencialmente agrícolas. Daí, a importância de incentivar os jovens da região a desenvolverem a atividade produtiva e permanecerem no lugar de origem, evitando o êxodo rural. “Os jovens têm mais condições de usar as novas tecnologias no campo. Eles já usam aparelhos celulares, tem todo aparato de informática e já conhecem as tecnologias”, observa Tibúrcio.
Cultura Agrícola
Retomada do Algodão do Norte de Minas
l O projeto de retomada do algodão no Norte de Minas, implementado pela Cooperativa dos Produtores de Catuti (Copercat) abrange pequenos agricultores de 16 municípios da região: Capitão Enéas, Catuti, Espinosa, Gameleiras, Jaíba, Janaúba, Mamonas, Mato Verde, Monte Azul, Nova Porteirinha, Pai Pedro, Porteirinha, Riacho dos Machados, Rio Pardo de Minas, Santo Antonio do Retiro e Verdelândia.
Produção de algodão
No Brasil
l Em 2024, o Brasil tornou-se o líder mundial em exportação de algodão em pluma. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção estimada de algodão em pluma para a safra 2024/25 no país é de 3,9 milhões de toneladas, um recorde na série histórica.
Em Minas
l Minas Gerais é hoje o terceiro maior produtor do país, com produção prevista de 76,8 mil toneladas de pluma para a safra 2024/2025, período, aumento de 18% em relação à safra anterior, que foi de 65,1 mil toneladas no estado, segundo a Conab.