Pedido de Socorro: quem é a raizeira de Belém que denuncia perseguição
Erveira icônica da capital paraense preserva saberes ancestrais amazônicos, mas denuncia remanejamento forçado das feirantes durante a COP30
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Em entrevista exclusiva ao jornal Estado de Minas, a feirante Socorro Loura, uma das vozes mais conhecidas do Mercado Ver-o-Peso, fez um apelo emocionado, em vídeo, denunciando o que chama de “isolamento e perseguição” aos trabalhadores tradicionais do espaço durante os preparativos para a COP30, realizada em Belém. Socorro Loura denuncia que as autoridades querem ‘esconder’ as atividades das feirantes durante a Conferência do Clima.
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Durante o vídeo, Socorro exibe medalhas e prêmios conquistados em eventos nacionais, lembrando que já representou o Ver-o-Peso fora do estado. “Está aqui sou eu, Socorro Loura Soares da Silva , guerreira. Eu ganhei medalha de ouro e prata. Fui escolhida entre várias feiras, e tenho muito orgulho de trabalhar. Aqui eu criei quatro filhos sem pai, e uma filha adotiva. Todos se formaram. Tudo com o que eu ganhei aqui, na minha barraca.”
Ela afirma que as obras de preparação para a COP30 prejudicaram as vendas e deixaram muitos feirantes sem renda. “Essa obra afundou nós. Temos luz pra pagar, conta de loja, cartão, e ficamos isoladas, sem vender. A gente precisa de ajuda, de empréstimo pra comprar material, pra representar os turistas que vêm na nossa cidade.”
Guerreira de Belém
Mas quem é a famosa raizeira de Belém? Socorro Loura, de 64 anos, é uma erveira (também conhecida como raizeira ou "cheirosa") tradicional e bastante conhecida no Mercado Ver-o-Peso, em Belém do Pará, um dos maiores mercados ao ar livre da América Latina e patrimônio histórico tombado pelo IPHAN desde 1977. Ela atua na venda de ervas medicinais, plantas frescas, garrafadas, chás, banhos de cheiro e poções preparadas com ingredientes da flora amazônica, como murerê, jambu, cascas de jatobá, caju e guaraná, usadas para fins terapêuticos, rituais de prosperidade, sorte, amor e saúde.
Com mais de 40 anos de experiência no setor de ervas do Ver-o-Peso (onde mantém uma barraca há pelo menos 28 anos, chegando ao local diariamente às 6h da manhã), Socorro Loura representa a herança cultural das "cheirosas" — mulheres que preservam conhecimentos ancestrais indígenas e caboclos sobre remédios naturais. Seus produtos vão desde tratamentos caseiros para gastrite e envelhecimento (como banha de tartaruga) até "viagra natural" e banhos para "abrir caminhos" e atrair felicidade, prosperidade e boas energias, especialmente populares em festas como o São João e o Círio de Nazaré.
Socorro Loura é conhecida nas redes sociais como uma figura icônica do mercado, explicando ( de forma peculiar) os rituais como o banho de cheiro — uma mistura de ervas que se toma misturada à água do chuveiro, do pescoço para baixo, por três minutos, antes de se enxugar e dar uma volta na rua para "deixar o ruim para trás".
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Comunidade das 'cheirosas'
Elas fazem parte da comunidade de cerca de 80 barracas de erveiras no Ver-o-Peso, associadas à Ver-as-Ervas, que promove a preservação desses saberes tradicionais em meio ao turismo e à urbanização do local. Seu trabalho reflete a essência vibrante e multicultural do mercado, onde cheiros, sabores e crenças se misturam às margens da Baía do Guajará.