Experiências autênticas

Chamado da natureza: como é visitar uma aldeia indígena na Bahia?

Longe dos centros urbanos, o turismo em uma tribo Pataxó fortalece a conexão com o verde e com a cultura ancestral ao redor

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Para o povo Pataxó, a vida é intrinsecamente ligada à terra, aos ancestrais e aos ciclos naturais. A espiritualidade deles, manifestada em rituais, danças e cânticos, convida à reflexão sobre a relação com o meio ambiente e consigo mesmo, promovendo um senso de pertencimento e renovação interior.

Quem visita uma aldeia indígena, comprova que o bem-estar emerge não apenas do contato com a natureza exuberante da região, mas também da troca cultural, do aprendizado com a sabedoria ancestral e da vivência de uma comunidade que celebra a simplicidade e a resiliência. Essa experiência, marcada por respeito mútuo, pode despertar uma nova perspectiva sobre o que significa viver em plenitude.

E quando a correria dos grandes centros urbanos pesa, nada como um banho de floresta para fugir da rotina e reequilibrar as energias. A oportunidade de conhecer ambientes de natureza nativa, na companhia de comunidades de povos originários, atrai cada vez mais turistas do Brasil e do exterior a Cumuruxatiba, no município baiano de Prado.

Localizado em um território onde predomina a herança Pataxó, o distrito funciona como ponto estratégico para quem busca as chamadas etnovivências, que movimentam aldeias do entorno por meio do turismo sustentável de base comunitária.


Uma delas é aldeia Gurita, que tem como carro-chefe o projeto de observação de pássaros ‘Vem Passarinhar Cumuru’, organizado pelo Instituto Maturembá uma vez por mês. Seguindo a proposta de imersão em uma formação florestal de Mata Atlântica na qual vivem mais de 50 espécies de aves - em todo o Sul da Bahia, esse número pode passar de 340.

Ao longo de uma trilha de três quilômetros, é possível avistar pássaros como cricriós, pica-paus, chorozinhos-de-boné e mutum-do-sudeste, além de exemplares mais raros como o crejoá e o gavião-real, também conhecido como harpia, maior ave de rapina do Brasil e uma das maiores do mundo.

Um dos mais belos pássaros brasileiros, o crejoá é encontrado na Mata Atlântica
Um dos mais belos pássaros brasileiros, o crejoá é encontrado na Mata Atlântica Ciro Albano/ Reprodução Poliseres

Os passeios são conduzidos pelo ecólogo Frederico Pereira, idealizador do projeto, que capacita lideranças de comunidades locais para também atuarem como guias. “A passarinhada é uma ferramenta de educação ambiental e valorização da ancestralidade indígena. Além disso, quando as pessoas vão sentindo a floresta, os cheiros, as texturas, funciona como uma terapia ao natural”, acredita. Além da observação das aves, a experiência pode ser incrementada com café da manhã, escalda-pés, massagem e pintura corporal.


A aldeia Kaí também oferece uma imersão na cultura indígena com a Etnovivência Trilha do Saber, conduzida por lideranças Pataxó que promovem verdadeiras aulas ao longo de quase três horas de caminhada. “É uma trilha histórica. Muitas pessoas se surpreendem quando mostramos locais como a primeira praia onde os portugueses chegaram ou quando contamos que aqui já foi um ponto de extração de minerais de terras raras, durante a Segunda Guerra Mundial”, destaca Ricardo Kaí.


Durante o trajeto, quase todo percorrido em mata fechada, é possível provar frutas nativas como mangaba e grão-de-galo, e conhecer a folha da patioba, usada para a preparação do peixe que é servido no almoço. A programação também pode incluir café da manhã tradicional, banho de ervas medicinais, contação de histórias e o auê, tradicional ritual que une dança, canto e oração. Quem quiser levar uma lembrança para casa ainda pode visitar a loja montada na oca da aldeia, que disponibiliza peças artesanais feitas com matéria-prima extraídas da mata, como as madeiras pau-brasil e pati.

Sob cuidados do Xamã


Outra opção para turistas que buscam conexão com a natureza está na aldeia Tibá. A trilha tem como um dos principais atrativos um enorme paraju, árvore de madeira nobre muito usada na indústria de móveis e que simboliza a luta do povo Pataxó pela preservação da floresta. Mas o ponto alto é a visita a um Centro Cultural dentro da mata, considerado lugar sagrado para a comunidade, onde são realizadas rodas de conversa e práticas terapêuticas. A programação pode incluir, ainda, oficinas de óleos essenciais, fabricação de farinha e rituais sob a lua cheia.


“As pessoas vêm sobrecarregadas por conta da vida agitada que levam, principalmente no trabalho. E, quando chegam aqui, encontram um momento de cura”, revela Jocelia Santos, professora, líder da aldeia e diretora da Secretaria Indígena do município de Prado. Ela também acredita que a vivência é uma oportunidade de desmistificar estereótipos e fomentar um turismo pedagógico, em que os povos originários assumem lugar de protagonismo e contam sua própria história.


Além das aldeias Gurita, Kaí e Tibá, as aldeias Pequi, Monte Dourado e Alegria Nova fazem parte da Terra Indígena Comexatibá, área em que está o Parque Nacional do Descobrimento, Unidade de Conservação federal gerida pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Vale ressaltar que o órgão passa por um processo de mudança de nome e deve passar a se chamar Parque Nacional Maturembá.


Grito de resistência

No último dia 9 de agosto, foi celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas. A data é relembrada como um grito de resistência dos povos originários. No instagram, o Parque do Descobrimento destacou: “Celebramos a força, a resistência e os saberes ancestrais dos povos indígenas. Guardiões da biodiversidade e das florestas, os povos originários desempenham um papel fundamental na preservação da vida e no cuidado com a Terra. O Parque Nacional do Descobrimento (PND), tem dupla proteção com a Terra Indígena Comexatibá, território do povo Pataxó. Essa convivência reforça o compromisso com o respeito à diversidade cultural, à proteção dos modos e saberes de vida e à gestão compartilhada dos territórios. Neste dia, reafirmamos a importância de valorizar as vozes indígenas. Esse reconhecimento é fundamental para a promoção da sociobiodiversidade”.

Visite

Vale a pena conhecer em Cumuru - Para quem vai estender a estadia em Cumuruxatiba, há opções de hospedagem para todos os estilos na vila, com destaque para Pousada É (@pousadae.cumuru), Pousada Aquarela (@pousadaaquarelacumuru), Casa Tuco (@casatuco), Villa Cumuru (@villacumurupousada), Jardim Cumuru (@jardimcumuru), Chalés Villa Pier (@chalesvillapier), Pousada Ingá (@pousada_inga_cumuruxatiba) e Pousada Nossa Casa (@nossacasa_cumuru).


No segmento de gastronomia, Restaurante Nossa Casa (@nossacasa_cumuru), Sorveteria Vanilla (@vanillaprado), Hamburgueria 170 (@170cumuruxatiba) e Restaurante Hermes (@restaurantedohermes) são paradas obrigatórias. E na hora de garantir uma lembrancinha especial de Cumuru para levar para casa, vale dar uma passadinha na Pimenteira da Vila (@pimenteiradavila) e na Melin Casa e Jardim/ Arquitetura (@melincasaejardim).


SERVIÇO:


Vem Passarinhar Cumuru - Realizado na aldeia Gurita uma vez por mês, sempre aos sábados. A atividade de observação de aves é gratuita e a vivência completa custa R$ 60 por pessoa. Mais informações: @institutomaturemba.


Etnovivência Trilha do Saber - Realizada na aldeia Kaí, mediante agendamento. Inclui café da manhã, trilha e almoço por R$ 200 por pessoa, em média. Mais informações: @aldeiakaioficial / (73) 99160-0663.


Experiência Intercultural com a etnia Pataxó - Realizada na aldeia Tibá, mediante agendamento. Inclui trilha, refeições e práticas terapêuticas por R$ 200 por pessoa, em média. Mais informações: @aldeia_tiba / (73) 99803-5280

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