A saga tragicômica da excursão com Padre Reginaldo Manzotti na Europa
Viagem de 14 dias, com 250 peregrinos, teve orações com papa Leão XIV, comida ruim, calor infernal, garçons estressados e passageira perdida
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Siga noSe você imaginava que uma peregrinação à Europa com o Padre Reginaldo Manzotti seria só orações e paisagens de tirar o fôlego, segure-se na cadeira! Entre 3 e 16 de junho de 2025, os 250 fiéis — 90% mulheres idosas — que embarcaram nessa jornada espiritual por Portugal, Itália, Suíça e França enfrentaram uma série de perrengues que transformaram a viagem em um teste de paciência e humor à prova de bomba. Com histórias que vão desde voos cancelados até banheiros caóticos e garçons impacientes, essa aventura ainda circula no grupo de viajantes no WhatsApp. Vamos rir (e sofrer um pouco) com os detalhes dessa epopeia.
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O drama começou logo na saída do Brasil. O voo da TAP 2552, marcado para sair às 15h30, do dia 3 de junho, de Guarulhos ( SP) rumo à Lisboa, foi cancelado sem cerimônia, deixando os peregrinos em um misto de desespero e rezas extras no aeroporto. A remarcação para 1h20, já dia 4 de junho, virou um acampamento improvisado, com malas espalhadas e um coral de suspiros pedindo um milagre logístico. Após 11 horas de voo e finalmente pousar em Lisboa, a saga continuou: a fila da imigração era um monstro de proporções bíblicas, e os 250 passageiros enfrentaram 3h30 de espera, com pernas dormentes e piadas sobre “provação de Maria”. “Parecia que estávamos na fila do pão na época da guerra!”, brincou uma devota enquanto esperava o tormento na interminável fila".
Lugares lotados
Viajar para a Europa no final da primavera e durante o verão é a certeza que vai enfrentar uma via-crucis de lugares lotados. Só para se ter uma ideia: cerca de 70 mil pessoas estiveram na Missa do Ângelus, celebrada no dia 8 de junho, pelo recém-empossado papa Leão XIV. Era um domingo quente, a celebração estava marcada para às 10h na Praça de São Pedro. Na chegada ao local às 7h30, a temperatura nos termômetros já marcavam 25° e foi só aumentando. Ao final da missa papal, a praça, lotada de gente do mundo todo, era um caldeirão efervescente com a temperatura na casa dos 35°.
E os perigos dos pickpockets no caminho? A Fontana de Trevi, em Roma, parecia a Rua 25 de Março, na semana do Natal. Era tanta gente que não cabia no local. Bolsas na frente do corpo e lá vamos nós jogar uma moeda na fonte famosa de La Dolce Vita. Em Milão, a mesma coisa. Uma peregrina, já descolada em viagens internacionais e atenta à questões de segurança, mesmo assim foi furtada e perdeu a carteira com cartões e dinheiro e o passaporte. Um transtorno que envolveu a presença do guia e ajuda no consulado brasileiro em Paris ( última parada da viagem).
Choque cultural
Mas o verdadeiro teste de resistência veio nos banheiros. Com 225 mulheres entre os passageiros, as filas para os sanitários eram dignas de um show lotado do Padre Manzotti, com reclamações ecoando pelos corredores. E aí veio o choque cultural: na Europa, ao contrário do Brasil, o papel higiênico pode — e deve! — ser jogado no vaso. Desavisados, os brasileiros, habituados a empilhar o “lixo” ao lado dos vasos, deixaram montinhos suspeitos que confundiram os europeus e geraram risadas constrangidas. “Uma portuguesa me salvou: ‘Aqui vai tudo no vaso, minha filha!’, disse com um sorriso”, contou uma passageira, aliviada por aprender a lição na hora.
Garçons irritados
Na Itália, especialmente ao redor do Vaticano, outro perrengue testou a santidade do grupo. Os garçons do Ristoranti Venerina, com a pressa de um italiano querendo liberar a mesa para o próximo cliente, tratavam quem não falava italiano com um misto de desdém e impaciência. Pedidos em português ou inglês eram recebidos com suspiros, e a comida? Uma decepção! Massas mornas e molhos sem graça e frango brango (nojo) fizeram os brasileiros sonharem com um feijão com arroz. Da mesma forma, teve alguns brasileiros dando show de falta de educação com os atendentes e guias ( na maioria das vezes, por falha na comunicação).
Perdidas na cidade eterna
E os perrengues não pararam por aí. Em Roma, três mulheres se perderam próximo ao Coliseu, sendo que duas, se viraram e conseguiram um táxi para chegar até o ponto de encontro dos peregrinos. Já Dona Clotilde Alves de Souza, moradora de Curitiba, ficou horas perambulando em um país estranho, sem saber falar italiano ou inglês. A sorte é que essa senhorinha, de 72 anos, encontrou um anjo brasileiro no caminho que a ajudou a se comunicar com o guia da excursão Caminhando com Maria. Mas quem achava que ela aprenderia a lição, que nada, a peregrina novamente foi notícia com novos sumiços. Com isso, o grupo inteiro ficou em função de vigiá-la.
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Malas pesadas
Por se tratar de uma viagem de duas semanas, passageiros transportavam malas grandes e pesadas ( até 23 kg). Agora imagine senhoras, idosas enfrentando os desafios de sobe com mala, desce com mala em cada parada da viagem. Só na itália foram quatro destinos: Roma, Florença, Verona e Milão. Na capital italiana, com os hotéis lotados de turistas chineses ( faltavam 10 dias para o verão europeu) no check-in, os elevadores viraram um campo de batalha. Abriu a porta, pequenos grupos entupiram a cabine no desespero de chegar ao andar e aos quartos. Cena que se repetiu em todos os hotéis visitados.
Orações
Apesar dos contratempos, a fé e o bom humor prevaleceram. A excursão, marcada por missas emocionantes em santuários icônicos, trouxe momentos de espiritualidade que compensaram as dores de cabeça. Os brasileiros, conhecidos por transformar limão em limonada, saíram da viagem com histórias hilárias para contar. “Valeu cada fila, cada prato ruim, por estar tão perto de Deus e dos amigos”, resumiu a devota Marciana Alvarenga, de Nova Era. Que venha a próxima peregrinação — com um guia de sobrevivência cultural na bagagem!