viagem interior

Tão iguais, tão diferentes: 3 vilas de MG disputam prêmio de turismo da ONU

Tendo as principais montanhas de Minas como abrigo, elas comungam a mineiridade ao extremo; o que fazer nesses destinos além das cachoeiras e apreciar estrelas?

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Como irmãs, três vilas mineiras compartilham a mesma essência, mesmo sendo tão distintas. Cada uma carrega em si a alma de Minas Gerais: a simplicidade que acolhe, a natureza que abraça e a história que sussurra em cada canto. São lugares que parecem feitos para quem busca um respiro, um momento para sentir a vida pulsar no ritmo calmo do interior, onde o tempo é medido pelo som do vento, pelo aroma do café fresco e pelas conversas despretensiosas com os moradores. São lugares para admirar noites estreladas, vagalumes e borboletas.

Conceição do Ibitipoca (na Serra da Mantiqueira), Delfinópolis (na Região da Canastra) e Grão Mogol (na Cordilheira do Espinhaço)  são as três cidades mineiras concorrentes ao prêmio “Melhores Vilas Turísticas” da ONU Turismo em 2025. São joias escondidas no coração de Minas Gerais, onde a mineiridade pulsa em cada pedra, cachoeira e história contada à beira de um fogão a lenha. 

O prêmio “Melhores Vilas Turísticas” da ONU Turismo, instituído em 2021, reconhece destinos rurais com até 15 mil habitantes que promovem turismo sustentável, cultura local e desenvolvimento comunitário. Desde sua criação, 254 vilas em todo o mundo foram agraciadas com o selo de qualidade.

Essas vilas encapsulam o turismo rural em sua essência mais pura: a simplicidade acolhedora, a conexão com a natureza e a preservação de tradições que ecoam o jeito mineiro de viver – com calma, generosidade e um café sempre quente. Abaixo, mergulhamos nos encantos de cada uma, detalhando seus atrativos, a atmosfera que as torna únicas e como chegar a esses refúgios que celebram a alma de Minas.



Conceição do Ibitipoca: A janela da Mantiqueira




Conceição do Ibitipoca, aninhada na Serra da Mantiqueira, é como um segredo bem guardado. Suas ruas de pedra e casinhas coloridas parecem convidar o visitante a desacelerar. O Parque Estadual do Ibitipoca, com suas cachoeiras cristalinas como a Janela do Céu, é um convite a se perder na beleza bruta da natureza, enquanto a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, com seus traços barrocos, lembra que ali a fé e a história caminham juntas. É uma vila que faz você sentir o calor humano nos olhares dos moradores, que oferecem um pão de queijo quente como se fosse um gesto de amizade antiga.



Aninhada na Serra do Ibitipoca, a 275 km de Belo Horizonte, Conceição do Ibitipoca é um convite à contemplação. O nome tupi-guarani, que significa “serra que explode”, ressoa nas lendas locais sobre os sons das montanhas, enquanto a vila, com suas casinhas coloridas e ruas de pedra, parece sussurrar histórias do ciclo do ouro. Aqui, a mineiridade se revela na hospitalidade dos moradores, na roda de viola que anima as noites e no cheiro de pão de queijo que paira nas pousadas. É um lugar onde o tempo desacelera, e o turista é recebido como um velho amigo.

Atrativos  

 Paredão de Santo Antônio, no Parque Estadual do Ibitipoca
Paredão de Santo Antônio, no Parque Estadual do Ibitipoca Evandro Rodney/divulgacao

Parque Estadual do Ibitipoca: Um dos destinos mais cobiçados de Minas, o parque é um paraíso para quem busca ecoturismo. Suas trilhas levam a cenários de tirar o fôlego, como a Janela do Céu, uma cachoeira que parece se abrir para o infinito, e o Pico do Pião, com vistas panorâmicas da serra. Grutas como a dos Moreiras e cachoeiras como a do Macaco complementam a aventura. O parque limita a entrada diária, garantindo preservação e uma experiência mais íntima com a natureza.  

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição: Construída em 1768, essa joia barroca é o coração histórico da vila. Sua simplicidade exterior esconde um interior rico em detalhes, com altares dourados que refletem a fé mineira. É ponto de encontro em celebrações religiosas e eventos comunitários.  

Cultura e gastronomia: A vila vibra com festas populares, como a da padroeira, e feiras de artesanato que exibem peças de madeira e cerâmica. Restaurantes como o Ibitilua servem pratos típicos, como frango com quiabo e doce de leite caseiro, enquanto bares como o Raiz oferecem cachaças artesanais que aquecem as conversas ao entardecer.  

Sustentabilidade: A Associação de Moradores e Amigos do Distrito de Conceição de Ibitipoca (Amai) lidera iniciativas de turismo responsável, como a gestão de resíduos e a capacitação de guias locais, garantindo que o crescimento turístico preserve a essência da vila.

Como chegar  

De carro: Partindo de Belo Horizonte, siga pela BR-040 até Barbacena, depois pela MG-135 até Lima Duarte e, por fim, uma estrada secundária de 27 km até Conceição do Ibitipoca. A última parte inclui trechos de terra, exigindo cuidado, especialmente em períodos chuvosos. O trajeto leva cerca de 4 horas.  

De ônibus: A Viação Sandra opera linhas de Juiz de Fora a Lima Duarte, de onde é necessário contratar um táxi ou transporte local (cerca de R$100) até a vila.  

Dica: Alugar um carro é a melhor opção para maior autonomia, já que o acesso ao Parque Estadual exige deslocamentos.

A experiência rural: Em Ibitipoca, o turismo rural é uma imersão na vida simples. Hospedar-se em pousadas como a Meu Recanto ou Janela do Céu, ou mesmo acampar no parque, coloca o visitante em contato direto com a natureza. Caminhar pelas trilhas ao som dos pássaros, tomar banho em cachoeiras cristalinas e ouvir histórias dos moradores sobre os tempos dos bandeirantes é sentir a mineiridade em sua forma mais autêntica.





Delfinópolis: O paraíso da Canastra

O modo de fazer o Queijo canastra é patrimônio pela Unesco
O modo de fazer o Queijo canastra é patrimônio pela Unesco Aprocan/Divulgação

Aos pés da Serra da Canastra, Delfinópolis é um oásis de águas cristalinas e horizontes verdes, onde o cerrado mineiro abraça o visitante com sua biodiversidade. A cidade celebra o famoso Queijo Canastra, nas conversas despretensiosas nos botecos e nas trilhas que revelam a generosidade da natureza. Lá, o turista não é apenas um forasteiro, mas alguém convidado a partilhar o orgulho local pela terra farta e acolhedora.

Atrativos  

O turista que visita Delfinópolis poderá curtir a Cachoeira da Gruta
O turista que visita Delfinópolis poderá curtir a Cachoeira da Gruta campingcasadepedra.com.br/Reprodução

Cachoeiras: Delfinópolis é chamada de “paraíso das cachoeiras” por suas mais de 100 quedas d’água. Destaques incluem a Cachoeira do Claro, com piscinas naturais perfeitas para banho, a Cachoeira do Luquinha, acessível por trilha leve, e a Fazenda Paraíso, que abriga oito cachoeiras em um único complexo, incluindo a majestosa Cachoeira do Paraíso.  

Trilhas e ecoturismo: As trilhas, como a do Pico Dois Irmãos e Chapadãozinho, oferecem vistas panorâmicas e a chance de avistar fauna local, como tamanduás e lobos-guará. A Trilha Chora Mulher é um convite à aventura, com caminhos que cruzam rios e matas ciliares.  

Cultura canastreira: A vila é um polo da produção do Queijo Canastra, premiado internacionalmente. Visitar fazendas produtoras, como a da família Claro, permite degustar o queijo artesanal e conhecer o processo tradicional. Festivais gastronômicos locais celebram essa iguaria, muitas vezes acompanhada de café coado e pão caseiro.  

Atividades ao ar livre: Passeios de jipe, cavalgadas e rafting no Rio Grande complementam a oferta turística, enquanto a observação de aves atrai ornitólogos em busca de espécies raras do cerrado.

Como chegar  

De carro: De Belo Horizonte (cerca de 400 km), siga pela BR-381 até Passos, depois pela MG-050 até São João Batista do Glória e, por fim, uma estrada secundária até Delfinópolis. O trajeto leva cerca de 6 horas, com trechos de asfalto e terra.  

De ônibus: A Viação Santa Cruz opera linhas de Belo Horizonte a Passos, de onde é necessário um táxi ou transporte local (cerca de R$150) até Delfinópolis.  

Dica: A região é melhor explorada de carro ou com guias locais, já que muitas cachoeiras estão em propriedades privadas, e o acesso pode ser desafiador em estradas de terra.

A experiência rural: Delfinópolis é um convite a desconectar-se do mundo e reconectar-se com a terra. Hospedar-se em pousadas familiares ou fazendas, como a Pousada Cachoeira do Claro, e compartilhar uma refeição com produtores locais é vivenciar a essência do interior mineiro. A combinação de natureza intocada e a hospitalidade calorosa faz da vila um refúgio para quem busca paz e aventura.



Grão Mogol: A pérola do Espinhaço

Rústica e feita de pedras, Matriz de Santo Antônio é o símbolo da cidade
Rústica e feita de pedras, Matriz de Santo Antônio é o símbolo da cidade Prefeitura de Grão Mogol/Divulgação

Na Cordilheira do Espinhaço, declarada Reserva Mundial da Biosfera pela Unesco, Grão Mogol é um tesouro do Norte mineiro, onde o passado do ciclo do diamante se entrelaça com a riqueza natural do cerrado, da caatinga e da Mata Atlântica. A mineiridade está na simplicidade das ruas de pedra, no sorriso dos moradores que contam causos antigos e na comida farta servida em fogões a lenha. É um lugar onde o silêncio da natureza convida à reflexão, e a história sussurra em cada esquina.

Atrativos  

Produção de vinhos vem se destacando em Grão Mogol nos último anos
Produção de vinhos vem se destacando em Grão Mogol nos último anos Prefeitura de Grão Mogol/Divulgação

Belezas naturais: A vila é cercada por cânions, lagos, rios e cachoeiras, como a Cachoeira Véu de Noiva, ideal para banhos refrescantes. O Parque Estadual de Grão Mogol oferece trilhas que revelam a biodiversidade única da região, com mirantes que proporcionam vistas de tirar o fôlego.  

Igreja Matriz de Santo Antônio: Construída em pedra no século XVIII, é um símbolo da rusticidade e da fé mineira, com sua arquitetura que remete à época dos diamantes.  

Turismo rural: Fazendas locais, como a Fazenda São João, oferecem hospedagem e experiências imersivas, como colher frutas no pomar, ordenhar vacas ou aprender sobre a produção de rapadura. A gastronomia destaca pratos como feijão tropeiro, carne de sol e doces caseiros.  

História e cultura: Grão Mogol preserva o legado do ciclo do diamante, com histórias de garimpeiros e bandeirantes. Eventos como a Festa de Santo Antônio e feiras de artesanato mantêm vivas as tradições locais.

Não sei se te contaram, mas esta cidade em Minas promete bombar em 2024

Como chegar  

De carro: De Belo Horizonte (550 km), siga pela BR-040 até Curvelo, depois pela BR-135 até Montes Claros e, por fim, pela MG-307 até Grão Mogol. O trajeto leva cerca de 8 horas, com trechos de asfalto e estradas secundárias.  

De ônibus: A Viação Gontijo conecta Belo Horizonte a Montes Claros, de onde é necessário um transporte local (táxi ou van, cerca de R$200) até Grão Mogol.  

Dica: Devido à distância e à infraestrutura limitada, planejar a viagem com antecedência é essencial. Carros com tração ajudam nas estradas de terra, especialmente na temporada de chuvas.

A experiência rural: Grão Mogol é um convite a vivenciar a mineiridade em sua forma mais crua. Dormir em uma fazenda, caminhar por trilhas que cruzam três biomas e ouvir os moradores contarem histórias do passado é como voltar no tempo. A vila oferece uma experiência de turismo rural que combina aventura, cultura e a calma típica do interior de Minas.

A Mineiridade no Turismo Rural

Visitar Conceição do Ibitipoca, Delfinópolis e Grão Mogol é mais do que explorar destinos turísticos; é mergulhar na alma de Minas Gerais. A mineiridade se manifesta na simplicidade das vilas, no acolhimento dos moradores, na comida que aquece o coração e na natureza que inspira reverência. Essas vilas representam o turismo rural em sua essência: um convite a desacelerar, a se conectar com a terra e a valorizar as tradições que moldaram o estado. Seja nas trilhas de Ibitipoca, nas cachoeiras de Delfinópolis ou nas histórias de Grão Mogol, o visitante encontra um pedaço do Brasil que pulsa com autenticidade e orgulho.



Outras cidades vencedoras ou indicadas ao prêmio

No Brasil, as seguintes vilas foram destaque em edições anteriores ou estão concorrendo em 2025:

Rota do Enxaimel, Pomerode (SC): Vencedora em 2021, essa rota em Pomerode, Santa Catarina, é conhecida pela preservação da cultura germânica e pela técnica construtiva enxaimel (tijolos com vigas de madeira aparentes). A premiação impulsionou o turismo em cerca de 30%, promovendo sustentabilidade, capacitação de empresários e geração de empregos. A vila destaca-se por parques, museus, cervejarias, artesanato e produtos coloniais.

São Bartolomeu, Ouro Preto (MG): Indicada em 2021, esse distrito mineiro é famoso pelos doces artesanais, registrados como patrimônio imaterial de Ouro Preto desde 2008. Fundada no século XVII por bandeirantes, combina turismo religioso, cicloturismo (Rota das Capelas) e festas populares. Apesar de não vencer, sua indicação destacou sua relevância cultural.

Alberto Moreira, Barretos (SP): Também indicada em 2021, essa vila rural é conhecida pelo turismo religioso, artesanato e doces artesanais, com uma economia fortemente apoiada no turismo.

Outras vilas indicadas em 2025: Além das três mineiras, concorrem ao prêmio em 2025:  

Antônio Prado (RS): Preserva o maior conjunto arquitetônico da imigração italiana no Brasil, com 48 edificações tombadas pelo IPHAN. Oferece gastronomia, artesanato e eventos como a Fenamassa e a Noite Italiana.

Linha Bonita, Gramado (RS): Vila rural com herança italiana, conhecida pela preservação de tradições, casarões antigos e hospitalidade familiar.

Cocanha, Caraguatatuba (SP): Comunidade caiçara que promove turismo de base comunitária, com foco na pesca artesanal, cultura local e preservação ambiental.

Leoberto Leal (SC): Destaca-se pelo ecoturismo, agricultura familiar e a Rota Caminho do Louvor, que combina fé e natureza.

Piraí (SC): Preserva a colonização alemã com construções enxaimel, rios, cachoeiras e a Festa do Colono, ideal para atividades ao ar livre.

Premiação

O prêmio da ONU Turismo avalia critérios como sustentabilidade, preservação cultural, ambiental e desenvolvimento econômico e social. Das oito vilas brasileiras indicadas em 2025, duas avançarão para a etapa final, com resultados anunciados entre 7 e 11 de novembro, em Riad, Arábia Saudita. As vencedoras integrarão a rede global de 254 vilas, recebendo um selo que atrai turistas e investimentos, promovendo o desenvolvimento regional.

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