Nos finais de semana, a Av. Paulista fica fechada para veículos e se transforma em um importante corredor cultural. Destaque para o prédio icônico do Masp -  (crédito: Rogério Casimiro/MTur)

Nos finais de semana, a Av. Paulista fica fechada para veículos e se transforma em um importante corredor cultural. Destaque para o prédio icônico do Masp

crédito: Rogério Casimiro/MTur

Se você, assim como eu, acredita que o melhor lugar de São Paulo é a saída, acredite: estamos errados. Dei o braço a torcer e fui conhecer a capital paulista, que completou 471 anos no dia 25 de janeiro. Em apenas três dias, conheci, pela primeira vez, um pouco da potência econômica, cultural e turística, que ostenta uma agenda de atrações para todos os gostos. De sexta (24/1) à segunda-feira (27/1), pude conferir a riqueza gastronômica, pontos turísticos e, principalmente, confirmar que dá sim para conhecer Sampa em um fim de semana. 

 

Minha aventura começa com uma viagem de Buser, entre os dias 24 e 25, em um trajeto de nove horas com o ar-condicionado no negativo. Por isso, a primeira dica é levar um cobertor se for viajar de ônibus. Deixando essa parte de lado, desembarquei na Feira da Madrugada, o maior circuito de compras popular da América Latina, localizado na Região Central da cidade, mais especificamente no bairro do Brás. Ao entrar no prédio você já se depara com variedades de roupas, acessórios, eletrônicos, comida, entre outros. Aqui é o momento de você se concentrar para não gastar todo o dinheiro ali. 


Criada em 2000, a feira segue sendo referência para quem quer comprar muito por preços reduzidos. Para se ter uma ideia da demanda, eles realmente trabalham de madrugada, funcionando das 00h às 16h.  


 

Dali, fugindo do espírito do consumismo, parti para a Mooca, bairro da Região Leste.  


De acordo com a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa de São Paulo, a Mooca foi, possivelmente, a região de maior concentração indígena do Brasil. Acredita-se que o nome mooca surgiu no século XVI, quando os primeiros habitantes brancos começaram a construir suas casas. Os indígenas, curiosos com a novidade, exclamavam: _“moo oca!”_ ("moo" = faz, "oca" = casa). Outros pesquisadores defendem que "moo oka" significa "ares secos" ou "enxutos".  


Com o avanço social e econômico, a região recebeu muitos imigrantes em busca de trabalho, especialmente italianos, que permanecem até hoje. O bairro, tradicional e familiar, é cercado de comércio, hospitais e feiras livres. Vale destacar que a Mooca tem um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) de São Paulo.  


Para os fãs da gastronomia, o bairro tem forte influência italiana. Um dos estabelecimentos mais antigos, com cerca de 120 anos, é o Di Cunto, uma padaria e confeitaria que trouxe o panetone ao Brasil. Vale a visita.  


Sem tempo para descanso, deixei minhas malas e parti para a Liberdade. Por estar bem localizada, a Mooca oferece diversas opções de transporte, incluindo metrô, trem, ônibus e vias expressas, como a Radial Leste.  


O Japão em São Paulo


O bairro da Liberdade, na região Central, é conhecido pela Feira da Liberdade, que funciona aos fins de semana, e pelos pontos turísticos que preservam a história da imigração japonesa no Brasil. A rua principal do bairro, Galvão Bueno, é parada obrigatória para fotos com os famosos postes vermelhos ao fundo - um clique clássico de turista raiz.  


A feira começa com barracas vendendo acessórios, camisetas, quadros e bolsas temáticas da cultura japonesa. Ao redor, há vários restaurantes orientais, e foi em um deles que fiz minha primeira parada: a Galeria Ohayo, repleta de estabelecimentos com mesas espalhadas pelos corredores. O perfume e o calor das cozinhas tomam conta do ambiente.  


Foi nesse cenário que provei o Takoyaki (R$ 25,00) , um bolinho de polvo servido quente, com um toque defumado das raspas de bonito seco (um tipo de peixe). A porção serve duas pessoas tranquilamente. No calor de 34°C, continuei a jornada gastronômica, experimentando coco caramelizado enquanto observava a diversidade de visitantes: turistas, paulistas e jovens fantasiados com roupas típicas do Japão, incluindo cosplays de animes.  

 

São Paulo

Takoyaki da Galeria Ohayo

Nara Ferreira/EM/D.A Press


 

Minha próxima parada foi uma barraca de pastel, já que ouvi muitas recomendações sobre essa iguaria típica paulista, acompanhada de caldo de cana com limão ou maracujá. Encarei um pastel bem recheado de carne (R$14), com caldo de cana com limão (R$ 12) e um inesperado toque de gengibre. Quando já estava satisfeita, minha guia/companhia anunciou que havia pedido um tempurá - iguaria feita de massa frita com legumes, mas recebeu um Udon Tempurá (R$ 40,00) – prato japonês que combina macarrão udon grosso, caldo aromático, omelete fatiada e tempurá crocante.  


 

O sabor era maravilhoso, o caldo bem temperado... mas estávamos sob um sol escaldante. Sem volta, comemos aos pingos de suor.  Na sequência, pegamos o metrô para a Mooca, o que significava encarar a temida Linha Vermelha. E foi nesse momento que me avisaram: "Para entrar, tem que empurrar e ser empurrada."  


A dica se mostrou verdadeira. Precisei me espremer no vagão por pelo menos duas estações.  


Aqui vale ressaltar que precisei pegar o metrô em várias ocasiões, mas em nenhuma delas em dia de semana ou em horário de pico. Dessa forma, não presenciei a superlotação típica da cidade. O ambiente muda dependendo da estação que você está, por exemplo, a estação da Faria Lima é visualmente melhor que as outras. Todas as viagens que fiz foram com o ar condicionado ligado e os vagões não demoravam a passar. 

 

Arte e entretenimento  


A próxima parada foi o Teatro Bravos, no bairro dos Pinheiros, na região Oeste. No local, estava em cartaz a peça “Brilho Eterno”, do diretor Jorge Farjalla, estrelada por Reynaldo Gianecchini e Tainá Müller. A obra (R$ 90,00 meia + 13,50 taxas), que fica em cartaz até 23 de fevereiro, retorna ao teatro após três anos desde a primeira versão e mais de 20 anos do lançamento do filme que inspira a peça: “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças".


A obra utiliza elementos marcantes do filme e adiciona componentes que enriquecem a reflexão central: o quão complexo é o amor e até onde estamos dispostos a ir para preservá-lo. Até que ponto lutamos para manter nossas condições em um cabo de guerra emocional com outra pessoa?


São Paulo

Em apenas três dias, conheci um pouco da potência econômica, cultural e turística, que ostenta uma agenda de atrações para todos os gostos

Nara Ferreira/EM/D.A Press

 

A discussão sobre amor como uma "doença" ou uma necessidade humana, embora instigante, acaba sendo prejudicada por um roteiro que insere memes já saturados, o que enfraquece a narrativa. Ainda assim, isso não compromete totalmente a experiência. Para mim, a Tainá Müller é o ponto alto da peça. (Ela também interpreta na série “Bom Dia, Verônica”). Sua atuação é excelente e se destaca. 


O teatro é magnífico, com um primeiro andar e um mezanino. Ao sair, percebi que os bares da região estavam lotados às 21h de um sábado, especialmente o Quintal, um bar com música ao vivo, que não tinha mais espaço nem dentro, nem fora.   


Imersão na Avenida Paulista 


Next station: Trianon-Masp, uma das três estações (Consolação, Brigadeiro e Trianon/Masp) que dão acesso à Avenida Paulista, uma via de quase três quilômetros de extensão e mais de 130 anos. Dizem as lendas que é possível percorrê-la com aproximadamente 3.818 passos, mas não testei empiricamente, pois já havia caminhado na Liberdade, onde provei o famoso sorvete de melona com morango (R$ 6,00) - uma sobremesa coreana de melão. De lá, parti para conhecer uma das avenidas mais famosas e movimentadas de São Paulo. 


Assim, como a Liberdade que fecha as ruas aos fins de semana, a Avenida Paulista é fechada para carro nos domingos, e vira palco de uma ampla variedade de opções gastronômicas, como a culinária japonesa; feirinhas e atrações culturais. Além dos museus e centros culturais, como: 

 

  • Japan House São Paulo 
  • Casa das Rosas  
  • Sesc Avenida Paulista 
  • Itaú Cultural 
  • MASP
  • Centro Cultural Fiesp  
  • Instituto Moreira Salles 


Diante da sua importância, não é incomum ver a avenida se tornar palco de manifestações políticas e culturais. Na ocasião presenciei pelo menos três “shows” de artistas independentes e outras ações políticas, incluindo uma religiosa. 


Entre uma parada e outra, experimentei um bolinho de camarão no espeto e um baozi (R$ 18,00 tudo), uma espécie de pão recheado com carne de porco temperada e legumes. Como a chuva tinha dado uma trégua neste dia, a avenida estava repleta de pessoas praticando corrida, andando de bicicleta e de patinete. Tinha famílias caminhando com doguinhos e muita música rolando durante a caminhada. Vale a pena tirar algumas fotos, mas fique esperto com o celular. 

  

Nos dias úteis, o local abriga uma infinidade de escritórios comerciais, instituições financeiras e sedes de empresas, tornando-a um importante centro empresarial da cidade.  


Caso você não consiga ir no domingo, ainda assim, você consegue ter uma experiência culinária e cultural. A Avenida Paulista tem diversos restaurantes e cafés - desde estabelecimentos sofisticados e renomados até lanchonetes e restaurantes populares, há algo para todos os gostos e bolsos. Além disso, há cinemas, museus, como já citado, e o Shopping Pátio Paulista que oferece restaurantes e lojas. 


Um fechamento cinematográfico  


Para encerrar o roteiro, fui ao Centro de Cultura Belas Artes Cinemas, um dos mais antigos cinemas de São Paulo. O local tem um ar nostálgico, com luzes neon e cartazes de filmes clássicos como Nosferatu, Metrópolis e O Gabinete do Dr. Caligari. 

 

São Paulo

Em apenas três dias, conheci um pouco da potência econômica, cultural e turística, que ostenta uma agenda de atrações para todos os gostos

Nara Ferreira/EM/D.A Press


O local encontrava-se lotado, acredito que por dois  motivos: os preços atrativos, já que a meia do ingresso custa 10 reais. Além disso, o anseio do público em ver o sucesso nacional “Ainda Estou Aqui”, indicado a três Oscars. Antes de ver a obra dirigida por Walter Salles, assisti ao filme Babygirl, com atuação de Nicole Kidman, Antonio Banderas e o queridinho do momento Harris Dickinson. Com uma sala vazia, a tela do cinema apresentava a diversidade da programação do Cine Belas Artes, que inclui sessões comentadas por especialistas, sessões na madrugada e o plano de streaming que, por um preço justo, você assiste a filmes independentes, nacionais e de décadas passadas. 


Correndo para não perder a próxima sessão, peguei uma pipoca, refrigerantes e chocolate (R$ 51,00) em um bomboniere com cara dos anos 80. Assim, segui para ver a atuação da Fernanda Torres, indicada a melhor atriz. Aqui não posso descrever o filme, mas me limito a insistir que você assista a obra que narra sobre uma das milhares de famílias que foram afetadas pela Ditadura Militar (1964-1985); e a história de uma mulher que teve que se manter firme para não viver nas sombras de um dos piores capítulos da história do país. Vale destacar que ao acabar o filme, a plateia estava catatônica com alguns chorando (incluindo eu). Sobrou para o funcionário informar que só tinham cinco minutos para arrumar a sala e liberar o acesso do público da próxima sessão - a qual já tinha uma fila que inundou o cinema. 


Dali, parti para a Padaria Bella Paulista, um dos mais famosos cafés da região. O ambiente combina com um restaurante para um papo depois do serviço, uma padaria para pegar o pãozinho antes de casa e uma variedade de doces e bolos confeitados para quem quer desfrutar de mais uma experiência gastronômica. Há doces árabes, como Kadaif e Basboussa. Além deles, há profiteroles e croissants tradicionais recheados com creme de avelã, sonho, entre outras delícias.   


As opções vão além: o cardápio oferece refeições, sanduíches naturais, waffles, hambúrgueres, tapiocas, bebidas quentes e geladas. Não tive coragem de pedir o pão de queijo deles depois que o Cine Belas Artes disponibilizou um pão de queijo com grãos - o que deveria ser crime.  


Meu pedido foi uma torta de frango (R$22,00) e um croissant com requeijão (R$ 16,00), acompanhados de um espresso com creme de chocolate e chantilly: o Cioccolatino (R$ 28,00). O ambiente é movimentado, mas ainda assim agradável, e o atendimento é formidável, já que há funcionários disponíveis a todo momento. Um detalhe é que, na maioria dos estabelecimentos que visitei, há a presença de uma catraca para entrada e saída, com uma comanda.  


São Paulo

Cioccolatino

Nara Ferreira/EM/D.A Press

 

Dali, fui arrumar minhas malas para voltar para Beagá, com a certeza de que a famosa cidade paulista não é tão ruim assim. Rica em diversidade cultural e gastronômica, São Paulo não pode ser conhecida em apenas um final de semana – quem dirá em um mês. Mas é uma ótima pedida para quem quer conhecer gente nova, comer bem e sair em uma cidade que quase não dorme.  


O saldo final é que não fui assaltada, pois andei com minha bolsa agarrada no colo, mas meu coração acabou sendo roubado por Sampa.