Paralisia cerebral afeta 17 milhões de pessoas no mundo
Condição é a principal deficiência física na infância; cuidado contínuo iniciado precocemente é essencial para prevenir complicações ao longo da vida
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Considerada um grupo de distúrbios que engloba dificuldade de movimentação e rigidez muscular ou postural (espasticidade) a paralisia cerebral (PC) costuma ser resultado de uma lesão no cérebro ainda em formação – durante a gestação, parto ou na primeira infância. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil registra cerca de 30 mil novos casos por ano.
De acordo com a neuropediatra e fisiatra, Carla Caldas, embora a condição não piore com o tempo, ela pode impactar algumas funcionalidades. “A PC não progride, mas os sintomas podem mudar à medida que a criança cresce. Sem cura, o cuidado multidisciplinar precoce e constante é fundamental para aumentar a qualidade de vida e independência dos pacientes”, explica.
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Entre os fatores de risco da paralisia cerebral estão:
- Falta de oxigenação no cérebro (hipóxia)
- Prematuridade
- Infecções durante a gestação
- Traumatismos
A especialista avalia que o diagnóstico precoce ainda é um desafio, mesmo com os avanços em neuroimagem e nas ferramentas de avaliação do desenvolvimento. “Faltam protocolos de triagem e profissionais capacitados para aplicar avaliações mais modernas”, ressalta a médica.
Sintomas
Os sintomas e o grau de comprometimento variam conforme a extensão e a área do dano neurológico. Existem diferentes tipos de paralisia cerebral:
- PC espástica: marcada por rigidez muscular
- PC discinética: marcada por movimentos involuntários
- PC atáxica: em que a pessoa sofre problemas de equilíbrio e coordenação
- Formas mistas: combinam mais de uma característica
“Alguns pacientes apresentam apenas leve desequilíbrio, enquanto outros podem ter limitações motoras graves, o que exige órteses, andador ou cadeira de rodas. Também não podemos deixar de pontuar os impactos cognitivos”, explica a neuropediatra.
O tratamento da PC deve ser contínuo e adaptado a cada fase da vida. “A reabilitação envolve uma equipe multiprofissional, podendo contar também com tecnologias assistivas e medicamentos”, conta a especialista.
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Mitos e verdades
Com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre a condição e combater a desinformação, a especialista explica a seguir alguns mitos e verdades sobre a
paralisia cerebral:
“A paralisia cerebral sempre piora com o tempo”
Mito. A PC é uma condição não progressiva, portanto o que pode mudar ao longo dos anos são os sintomas e suas consequências, que precisam de acompanhamento constante.
“Falamos que é uma encefalopatia não progressiva, mas com consequências dinâmicas. O paciente pode desenvolver dor crônica, rigidez muscular e perda de mobilidade se não houver reabilitação adequada”, explica Carla. Segundo ela, o uso regular da toxina botulínica tipo A e o ajuste de equipamentos de assistência, como órteses e cadeiras de rodas, ajudam a manter a funcionalidade mesmo na fase adulta.
“O tratamento precisa ser ajustado ao longo dos anos”
Verdade. O manejo precisa ser ajustado a cada fase da vida. “Na adolescência e na vida adulta, as demandas mudam. Surgem desafios como dor crônica, fadiga, perda de força e dificuldades psicossociais — escolarização, trabalho, sexualidade e independência. O acompanhamento contínuo é o que garante qualidade de vida e evita complicações”, afirma a médica.
“A espasticidade é inevitável e não tem tratamento”
Mito. A rigidez muscular, típica da forma espástica da PC, pode ser controlada com terapias adequadas. “A toxina botulínica tipo A é um dos tratamentos mais consolidados para reduzir a espasticidade e a distonia. Ela melhora a amplitude dos movimentos, o conforto e até atividades como caminhar, se vestir e se alimentar”, explica Carla.
O tratamento, porém, deve ser combinado com fisioterapia e acompanhamento multidisciplinar. “Após a aplicação, o paciente é reavaliado e novas doses podem ser feitas a cada três meses, conforme a necessidade”, completa.
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“Com cuidado multidisciplinar e suporte familiar, é possível viver ter mais qualidade de vida”
Verdade. “Quando há diagnóstico precoce, acesso a terapias e apoio familiar, o paciente pode atingir um alto nível de funcionalidade e inclusão. A reabilitação regular, o uso de tecnologias assistivas e o controle da espasticidade com toxina botulínica A são pilares para que ele conquiste autonomia e bem-estar ao longo da vida”, pontua Carla.
“O diagnóstico precoce é essencial”
Verdade. Detectar precocemente a PC faz toda a diferença no desenvolvimento do paciente. “O diagnóstico precoce permite iniciar terapias direcionadas ainda nos primeiros meses de vida, quando o cérebro está em intensa fase de plasticidade. Isso pode mudar completamente o prognóstico motor e cognitivo”, destaca a neuropediatra.
A especialista ressalta que ferramentas como a General Movements Assessment (GMA) e o exame neurológico de Hammersmith têm acurácia de até 95% em bebês de risco. “Infelizmente, no Brasil, ainda são poucos os profissionais capacitados para aplicá-las, o que atrasa o início da reabilitação”, comenta.
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