O novo rosto: entre a liberdade e a máscara
Preenchimentos, bioestimuladores e tecnologias a laser já não são apenas correções discretas: são ferramentas capazes de reescrever narrativas pessoais
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Nos últimos anos, a expressão "novo rosto" deixou de ser metáfora e tornou-se um dos grandes símbolos da transformação cultural contemporânea. Mais do que moda, é um paradigma em mutação: já não falamos apenas de estética, mas de como entendemos identidade, imagem e autenticidade.
A medicina estética alcançou um grau de sofisticação sem precedentes. Preenchimentos, bioestimuladores e tecnologias a laser já não são apenas correções discretas: são ferramentas capazes de reescrever narrativas pessoais, alinhando o espelho com a forma como cada indivíduo deseja ser percebido.
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O rosto, epicentro da identidade humana, sempre foi mais do que pele e traços. Ele carrega histórias, origens, emoções e valores. Alterá-lo, ainda que levemente, é intervir na própria biografia. E é aí que surge a questão crucial: estaríamos diante de uma vaidade fútil ou de um exercício legítimo de liberdade?
“As redes sociais complicaram ainda mais esse dilema. Filtros e avatares criam belezas virtuais que inspiram e oprimem, oferecendo modelos tão sedutores quanto inatingíveis. O risco é óbvio: perder a singularidade na busca por um rosto que se confunde com pixels e tendências passageiras”, ressalta o cirurgião plástico, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Eduardo Sucupira.
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É nesse ponto que a ética médica deve ser inegociável. Eduardo Sucupira reforça que o cirurgião plástico não pode ser cúmplice da padronização, mas guardião da diversidade facial e da saúde emocional dos pacientes. “Como ensinava o professor Ivo Pitanguy, 'a cirurgia plástica deve servir para harmonizar o corpo com a alma, e não para fabricar máscaras'. Essa visão filosófica ressoa ainda mais forte hoje, quando a tentação do artifício digital ameaça apagar a verdade interior”, lembra.
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A estética, portanto, não é mero artifício de embelezamento. Ela é instrumento de reinvenção pessoal e, ao mesmo tempo, campo de responsabilidade ética. “O 'novo rosto' digno de celebração não é o homogêneo, moldado pela ansiedade de pertencimento, mas aquele que nasce da convergência entre tecnologia, autenticidade e verdade interior. Porque, no fim, a verdadeira transformação estética não está no espelho, mas na coerência entre quem somos e como decidimos ser vistos”, aponta o cirurgião plástico.