"A alegria de poder ser triste"

Reflexões sobre a vida, a felicidade e a dor

Leila Ferreira reuniu jornalistas para o pré-lançamento do sétimo livro "O nome disto é vida", que inclui sua própria voz entre as 22 entrevistas

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A busca pela felicidade é, talvez, o fio invisível que costura as experiências humanas, atravessando culturas, idades e geografias. No entanto, como Leila Ferreira revela em seu novo livro, "O nome disto é vida", a felicidade não é um destino fixo, mas um mosaico de momentos, reflexões e relações que se constroem em meio ao caos, à dor e à transitoriedade da existência. A partir das vozes de 22 pessoas entrevistadas em nove países, a escritora nos convida a repensar o que significa viver bem, lidar com a tristeza e envelhecer sem os rótulos que tantas vezes nos aprisionam. 

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Leila Ferreira, jornalista e escritora mineira conhecida pela leveza de seus textos sobre viagens, beleza e comportamento, carrega há mais de três décadas um companheiro invisível e implacável: a depressão crônica. Não é um episódio passageiro, nem uma tristeza pontual — é uma condição persistente, diagnosticada clinicamente, que ela descreve como “uma dor na alma que não explica, não avisa e não passa”. Em entrevistas, crônicas e agora em "O nome disto é vida", ela fala abertamente sobre como convive com essa realidade, transformando o que poderia ser um fardo em matéria-prima para reflexão profunda sobre a existência.

 

 
 
 
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O diagnóstico e a aceitação sem rótulos

A depressão entrou na vida de Leila aos 27 anos, durante uma crise que a levou ao fundo do poço: insônia absoluta, perda de apetite, apatia total e pensamentos suicidas. “Eu não queria morrer, mas também não queria mais viver daquele jeito”, contou em uma entrevista à Revista Marie Claire em 2018. O diagnóstico veio como um alívio — finalmente um nome para o que sentia. Desde então, ela faz tratamento contínuo: psiquiatria, psicoterapia (psicanálise lacaniana) e medicação antidepressiva (atualmente um inibidor seletivo de recaptação de serotonina, ajustado ao longo dos anos).

Diferente de muitos que escondem a doença por vergonha, Leila optou pela transparência radical. Em seu livro anterior, "Viver não dói" (2015), ela dedicou capítulos inteiros à depressão, desmontando mitos: “Não é frescura, não é falta de Deus, não é preguiça. É química cerebral, é genética, é trauma acumulado”. 

 

Estratégias práticas e filosóficas

Leila não romantiza a depressão, mas também não a demoniza. Ela a trata como uma condição crônica, como diabetes ou hipertensão: exige monitoramento diário, mas não impede uma vida plena. Suas estratégias são uma mistura de ciência, disciplina e poesia:

Medicação como aliada, não vergonha - “Tomo remédio todo dia, como quem toma para pressão alta. Sem ele, eu não funciono.” Ela critica o estigma psiquiátrico e defende o uso de antidepressivos como ferramenta essencial, especialmente em casos crônicos onde a serotonina não se regula sozinha.

Psicoterapia como espaço de escuta  - Há 30 anos em análise, Leila vê a terapia como “um lugar onde posso falar sem filtro”. Lá, ela desconstrói pensamentos automáticos (“sou um peso”, “nada vale a pena”) e reconstrói narrativas mais gentis consigo mesma.




A busca pela felicidade: um caminho sem fim

Leila fará o lançamento oficial do livro "O nome disto é vida" em 3 de novembro, às 19h30, no Teatro do Minas 1, na rua da Bahia
Leila fará o lançamento oficial do livro "O nome disto é vida" em 3 de novembro, às 19h30, no Teatro do Minas Tênis Carlos Altman/EM

A felicidade, tão almejada, é frequentemente confundida com a ausência de dor ou com a conquista de um ideal fixo — seja ele um cume, como o Monte Everest citado pelo alpinista brasileiro Manoel Morgado, ou uma vida sem conflitos. Mas, como Andrew Solomon aponta, a beleza da vida reside em sua transitoriedade. A felicidade não é um estado permanente, mas um instante que se dissolve e se renova. É o riso do velho jardineiro que, ao caminhar pela natureza, encontra alívio para a tristeza. É a coragem de Morgado ao mudar de rumo, um ato mais significativo do que qualquer conquista material. A felicidade, portanto, não está em evitar os desafios, mas em encontrar sentido neles.

Essa busca obsessiva por um estado ideal de felicidade muitas vezes nos cega para a riqueza do presente. Vivemos sob o peso da pressa, do consumismo e das redes sociais, que nos vendem a ilusão de vidas perfeitas. Ferreira, ao ouvir vozes tão diversas — de filósofos a pastores de ovelhas —, nos lembra que a felicidade não se encontra em fórmulas prontas, mas nas pequenas escolhas: uma conversa sincera, um momento de pausa, a decisão de mudar. Como diz o jardineiro, “as ideia tão mió” quando se dá espaço para a reflexão, para o simples ato de “dar uma volta” e deixar a mente respirar.

A dor e a tristeza: janelas para o mundo

Se a felicidade é transitória, a dor e a tristeza também o são. Mia Couto, com sua sensibilidade poética, descreve a tristeza e a angústia como “janelas” para enxergar o mundo. Essa metáfora ressoa profundamente: a dor não é um obstáculo a ser eliminado, mas uma lente que nos permite ver a vida com mais clareza. O velho jardineiro, que nunca aprendeu a escrever seu nome, entende isso intuitivamente. Ele não nega a tristeza, mas a transforma, caminhando ao ar livre, onde “a natureza não tem inveja de ninguém”. Essa sabedoria, tão simples quanto profunda, ecoa a frase de Nietzsche citada por Ferreira: a natureza não nos julga, e é nesse espaço de aceitação que encontramos alívio.

Lidar com a dor exige coragem para não se acostumar à brutalidade do mundo, como Marina Colasanti sugere. A falta de delicadeza, a insensibilidade e a violência cotidiana não devem ser normalizadas. Em vez disso, precisamos cultivar relações e vínculos que nos sustentem. A dor pode ser um convite à introspecção, mas também à conexão com os outros. O jardineiro encontra sua maior alegria “no meio de pessoas boas”, um lembrete de que a qualidade de nossas relações é um antídoto poderoso contra o sofrimento.

Envelhecer sem rótulos: A liberdade de ser

Envelhecer é, em si, um ato de coragem. Em um mundo que glorifica a juventude e teme a finitude, Ferreira nos desafia a olhar para o envelhecimento como uma oportunidade de liberdade. O velho jardineiro, com sua simplicidade, nos ensina que envelhecer bem não depende de conquistas grandiosas, mas de uma relação honesta consigo mesmo e com o mundo. Ele não carrega o peso de rótulos — não se define como triste ou alegre, mas como alguém que vive, ri e encontra consolo na natureza. Sua recusa em lembrar a maior tristeza de sua vida é, talvez, um ato de resistência: ele escolhe não ser definido pela dor.

Envelhecer sem rótulos é também rejeitar as expectativas impostas pela sociedade. Não é necessário ser sempre produtivo, bem-sucedido ou eternamente jovem. Manoel Morgado, ao falar de sua coragem de mudar, nos lembra que a inércia é uma força poderosa, mas a transformação é possível em qualquer idade. A vida, com suas imperfeições e transitoriedades, nos convida a abandonar os rótulos de “feliz” ou “triste”, “jovem” ou “velho”, e a abraçar a complexidade do que significa ser humano.

 

 

Um convite à reflexão

O livro de Leila Ferreira, com suas vozes tão diversas, é um convite para que paremos e reflitamos sobre as vidas que levamos — e as que poderíamos levar. A felicidade não está em evitar a dor, mas em aprender com ela. A tristeza não é um fracasso, mas uma janela para o mundo. E envelhecer, longe de ser um peso, pode ser um exercício de liberdade, de desapego aos rótulos e de conexão com o que realmente importa: as pessoas, a natureza, os momentos de silêncio e as conversas que nos transformam.

Como o jardineiro nos ensina, às vezes basta “dar uma volta” para que as ideias fiquem melhores. E, no final, é isso que a vida pede de nós: que sigamos caminhando, abertos ao que vier, sem medo de sentir, mudar ou simplesmente ser.

Serviço

Título: O nome disto é vida
Autora: Leila Ferreira
224 páginas
R$ 64,90
Editora Planeta


LANÇAMENTO EM BH
Leila recebe o público da capital mineira para o lançamento oficial de "O nome isto é vida" em 3 de
novembro, às 19h30, no Teatro do Minas Tênis Clube (R. da Bahia, 2.244 - 5º andar – Lourdes).
 

 




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