Abuso de testosterona já é considerado uma epidemia silenciosa
Cardiologista alerta para os riscos do uso indiscriminado do hormônio e reforça a importância do acompanhamento médico
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A testosterona, hormônio essencial à saúde masculina e presente, em menor grau nas mulheres, tem sido usada de forma cada vez mais indiscriminada por homens jovens em busca de resultados rápidos na academia.
O que antes era um tratamento médico para casos específicos de deficiência hormonal, virou uma prática comum entre frequentadores de academias e influenciadores fitness. Com isso, o alerta dos médicos é claro: o abuso pode gerar consequências graves e, em muitos casos, irreversíveis.
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Quando é recomendado?
Segundo o cardiologista Ricardo Camarinha, a reposição de testosterona só deve ser feita quando há diagnóstico confirmado de hipogonadismo - mediante exames laboratoriais e sintomas clínicos relevantes.
“A testosterona é um hormônio fundamental para energia, libido, massa muscular e bem-estar. Mas, fora do contexto médico, seu uso se torna um veneno silencioso. Muitos homens estão interferindo os processos naturais do corpo sem qualquer acompanhamento profissional”, alerta o especialista.
Quais as consequências?
O uso abusivo do hormônio pode reduzir a produção natural de testosterona e espermatozoides, levando à infertilidade e atrofia testicular, nem sempre reversíveis. Além disso, o risco de infarto, acidente vascular cerebral (AVC), arritmias cardíacas e aumento da próstata cresce significativamente.
“A falsa sensação de vitalidade imediata esconde um colapso biológico a longo prazo. Muitos pacientes desenvolvem alterações hepáticas, retenção de líquidos, acne severa e até câncer de próstata”, reforça Ricardo.
Como a testosterona afeta o comportamento?
O cardiologista lembra que os níveis hormonais são fortemente influenciados por fatores comportamentais. “O sono ruim, o estresse e a obesidade reduzem naturalmente a produção de testosterona. Já a prática de exercícios, o controle de peso e o descanso adequado ajudam o corpo a produzir o hormônio de forma natural e segura”, explica.
Mesmo em casos clínicos diagnosticados, o excesso é perigoso. Há um limite de saturação hormonal a partir do qual o organismo deixa de obter benefícios e passa a acumular toxicidade.
Estética e desinformação
Ricardo Camarinha chama a atenção para o que considera uma “epidemia silenciosa” de uso indevido. “As redes sociais e os padrões estéticos inatingíveis estão estimulando homens a se medicarem por conta própria. Estima-se que uma parcela significativa dos praticantes de musculação utilize testosterona sem qualquer orientação médica. Estamos vendo cada vez mais casos de infartos e infertilidade em jovens - e poucos fazem a ligação com o abuso do hormônio”, alerta.
Para o cardiologista, é preciso resgatar o equilíbrio entre vaidade e saúde. “A busca por autoestima é legítima, mas precisa estar ancorada em responsabilidade. Testosterona não é suplemento alimentar, nem vitamina. É um hormônio poderoso, que só deve ser usado sob orientação médica e quando há real necessidade.”