SAÚDE PÚBLICA

Doenças respiratórias crônicas matam mais que a gripe no Brasil

No Agosto Branco, especialistas alertam para o avanço silencioso de enfermidades como DPOC, asma e câncer de pulmão

Publicidade
Carregando...

Quando o assunto é doença respiratória, é comum pensar primeiro em gripes, resfriados, ou no vírus sincicial respiratório (VSR), especialmente durante os meses mais frios do ano. No entanto, há um conjunto de enfermidades pulmonares que não são preveníveis por vacinas e têm ganhado proporções alarmantes no Brasil: é o caso da asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), fibrose pulmonar, hipertensão pulmonar e do câncer de pulmão.

De acordo com dados do DataSUS, essas doenças crônicas já são responsáveis por mais de 60 mil mortes por ano no país, número que supera o de óbitos por gripe e outras infecções respiratórias. A comparação ajuda a dimensionar a gravidade do problema. Em 2023, por exemplo, 10.950 pessoas morreram por complicações da síndrome respiratória aguda grave (SRAG), conforme boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, condição muitas vezes associada a vírus, mas que também pode ocorrer por causas crônicas descompensadas.

Especialistas alertam que o envelhecimento da população, o avanço do tabagismo e o agravamento da poluição atmosférica contribuem para o crescimento silencioso dessas doenças, que se instalam de forma gradual e, muitas vezes, sem diagnóstico precoce. Isso acaba pressionando ainda mais o Sistema Único de Saúde (SUS), que não está estruturado para enfrentar esse tipo de demanda crescente.

Foi nesse contexto que a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) lançou, nesta semana, a campanha “A Vida está no Ar”, como parte das ações do Agosto Branco, mês de conscientização sobre a saúde pulmonar. A iniciativa pretende mobilizar profissionais da saúde, gestores públicos e a população sobre a importância de prestar mais atenção às doenças respiratórias crônicas, que seguem sendo negligenciadas.

“Existe um problema que já faz parte da rotina dos médicos e ainda não é evidenciado que vai sobrecarregar muito mais o sistema nos próximos anos: as doenças respiratórias que não têm vacina e cujo diagnóstico, muitas vezes, ainda é tardio ou nem acontece”, alerta o presidente da SBPT, Ricardo Amorim Corrêa. “Já conseguimos avançar na prevenção de doenças como a gripe e a COVID-19, com campanhas e vacinas. Agora, o desafio é outro”, reforça o especialista.

Hoje, um paciente com hipertensão ou diabetes costuma ser acompanhado pelo médico da família na atenção básica, com verificação regular da pressão arterial e da glicemia. Mas o mesmo cuidado não é estendido ao pulmão, ainda que os sintomas respiratórios sejam limitantes e recorrentes. "Temos que lembrar que o processo de prevenção realizado com as doenças respiratórias preveníveis por vacina, agora deve acontecer nas doenças crônicas e no câncer de pulmão."

Na busca por soluções, Ricardo destacou a iniciativa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com o projeto Tele-espirometria, um serviço de telessaúde que permite a realização de exames de espirometria (que avaliam a função pulmonar) a distância. A análise dos resultados é feita por especialistas do Hospital das Clínicas da universidade.

“É uma ferramenta essencial, principalmente para regiões remotas, onde não há pneumologistas disponíveis. A tecnologia pode ajudar a ampliar o diagnóstico e o acompanhamento, mas ainda está muito concentrada em poucos estados”, lamenta o presidente da SBPT.

Dificuldade até para respirar

Durante o lançamento da campanha, o pneumologista Roberto Stirbulov, coordenador da comissão científica de DPOC da SBPT, convidou o público a fazer um exercício simples. “Inspirem profundamente. Sentiram os pulmões cheios? É assim que uma pessoa com DPOC vive o tempo todo. Como se não houvesse espaço para mais ar.” Segundo ele, o esforço contínuo para respirar causa cansaço, sedentarismo e piora progressiva da qualidade de vida.

Além do tabagismo, outros fatores de risco são igualmente alarmantes: exposição ambiental à poluição, exposição ocupacional a agentes químicos, histórico familiar, baixa escolaridade, pobreza e questões raciais. Esses elementos, segundo os especialistas, contribuem para que pessoas em situação de maior vulnerabilidade sofram mais intensamente com as doenças respiratórias, que muitas vezes são diagnosticadas tardiamente.

A pneumologista Lilian Ballini, da comissão de Asma da SBPT, destacou o desafio específico em torno da doença, que afeta cerca de 20 milhões de brasileiros. “Muitos pacientes vivem anos com sintomas como tosse, chiado no peito e falta de ar sem diagnóstico formal. Além disso, o tratamento costuma ser inadequado, tanto por falta de orientação quanto por barreiras sociais e econômicas.”

Embora haja medicamentos inalatórios eficazes, a disponibilidade ainda é desigual nas farmácias populares. A falta de profissionais capacitados para orientar o uso correto dos inaladores e o preconceito com o uso contínuo da medicação agravam ainda mais o cenário. “A asma é controlável, mas não curável. Exige cuidado contínuo e acompanhamento próximo”, reforça.

A campanha “A Vida está no Ar” reforça que cuidar do pulmão é tão importante quanto controlar a glicemia ou a pressão arterial. Os especialistas defendem que o sistema de saúde precisa ampliar o rastreio, diagnóstico e tratamento de doenças respiratórias crônicas. E, sobretudo, é necessário criar políticas públicas de prevenção, com foco na redução do tabagismo, controle da poluição, acesso a exames e medicamentos, e formação de profissionais da atenção primária para lidar com essas doenças.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
 

Tópicos relacionados:

agosto-branco asma doencas-cronicas dpoc

Parceiros Clube A

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay