Emojis mascaram sentimentos? Os limites da comunicação digital
Símbolos promovem empatia, mas também desafiam a expressão de emoções complexas; psicologia e alfabetização emocional digital ajudam a nomear sentimentos
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Siga noEmojis estão por toda parte: nas mensagens, nos perfis e nos desabafos digitais. Mas será que eles representam, de fato, os sentimentos? Segundo pesquisa realizada com mais de 1,5 mil brasileiros e divulgada em 2024 pela Preply, 66% afirmam usar emojis diariamente. Para a psicóloga e docente do curso de psicologia do centro Universitário de Jaguariúna (UniFAJ), Maria Beatriz Zanarella Cruz, “o uso crescente de emojis indica tendências positivas de empatia digital, mas também pode mascarar emoções complexas”.
Embora promovam essa conexão, para a especialista, há um risco de atalho emocional: “Há uma preocupação sobre reduzir sentimentos a símbolos, gerando interpretações equivocadas e invisibilizando dores reais. Não podemos substituir conversas significativas sobre o que realmente sentimos”, alerta.
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Em um mundo hiperconectado, os emojis funcionam como extensão da comunicação não verbal. No entanto, o uso excessivo de telas já é associado a sintomas de ansiedade e solidão, o que preocupa os profissionais de psicologia. “Nesse contexto, entender como nos comunicamos emocionalmente por símbolos pode ajudar a compreender melhor os impactos sobre a saúde mental e relações digitais.
Jovens e a linguagem dos símbolos
É necessário refletir sobre a educação de crianças e adolescentes diante do cenário atual. Segundo a psicóloga Maria Beatriz, “ao educarmos jovens nesse universo simbólico, podemos estimular a alfabetização emocional”. Isso significa não apenas orientá-los a usar emojis, mas também ajudá-los a decodificar, questionar e complementar essa linguagem com palavras, expressões corporais e escuta empática. Para ela, esse processo resgata a profundidade da experiência emocional que os emojis apenas sinalizam de forma superficial.
O acompanhamento da família é fundamental para identificar mudanças de comportamento, explica a professora universitária. Ela complementa que não se deve minimizar quadros de tristeza, ansiedade ou solidão, especialmente entre adolescentes, que vivem uma fase mais vulnerável à cultura digital.
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Para o público infantojuvenil, os emojis funcionam como uma espécie de atalho afetivo. “São uma forma de expressar o que ainda não conseguem verbalizar com clareza. Ignorar ou ridicularizar esse universo simbólico”, afirma a docente, “é como romper uma ponte de comunicação”.
Maria Beatriz observa ainda que há uma diferença geracional na maneira como os emojis são usados e interpretados. Enquanto adolescentes tendem a atribuir significados subjetivos e afetivos, os adultos geralmente os entendem de forma literal. Esse descompasso pode gerar ruídos e reforça, segundo ela, a importância da escuta qualificada.
Segundo ela, compreender esses códigos é uma forma de se aproximar de um mundo emocional rico, mesmo quando silencioso. “Um exemplo é quando alguém recebe uma mensagem com um emoji triste e perguntar “O que esse emoji significa para você agora?" pode abrir espaço para o diálogo, o acolhimento e a construção de vínculos”.
Emojis como fenômeno cultural
A evolução dos emojis, dos primeiros símbolos às variações atuais, acompanha transformações sociais ligadas à diversidade, inclusão e representatividade. Essas figuras tornaram-se indicadores culturais e emocionais, dialogando com demandas por pertencimento e reconhecimento. Para Maria, no entanto, “a linguagem visual reflete essas mudanças, mas não substitui o diálogo emocional estruturado, algo que a psicologia continua promovendo.”
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No contexto de relações interpessoais, o emoji pode causar mal-entendidos, lacunas emocionais ou até reforçar vínculos. “No trabalho, relacionamento ou ensino a distância, o uso (ou ausência) de emojis pode influenciar a percepção da mensagem, e isso já é cultural. Muitas vezes, a presença de um emoji é lida como empatia, e sua ausência, como frieza”, comenta a especialista.
Nem herói, nem vilão, o emoji se tornou um espelho da vida digital. Para a psicóloga, é necessário refletir sobre o que as pessoas sentem e o que escolhem compartilhar nas telas. “Nesse cenário, a psicologia contribui para a alfabetização emocional digital, ajudando as pessoas a nomearem sentimentos. A escuta começa onde termina o julgamento. E às vezes, começa com um emoji”, diz.
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