O Alzheimer começa com perda de memória, mas apenas recente. Depois, o paciente perde até memórias antigas, delira e perde coordenação motora, que tem relação com o cérebro.  -  (crédito: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

O Alzheimer começa com perda de memória, mas apenas recente. Depois, o paciente perde até memórias antigas, delira e perde coordenação motora, que tem relação com o cérebro.

crédito: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Pacientes de COVID-19 longa têm alterações cerebrais parecidas com as que são causadas pelo Alzheimer e outras formas de demência. É o que mostra o estudo conduzido pelo Centro Sanders-Brown sobre envelhecimento, da Universidade de Kentucky.


O foco da pesquisa, feita com especialistas dos Estados Unidos, Turquia, Irlanda, Itália, Argentina e Chile, foi a "névoa cerebral" relatada por muitos pacientes de COVID-19, que inclui dificuldades de memória, confusão e problemas de concentração persistente meses após a recuperação.


Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia

 

De acordo com o estudo, mecanismos biológicos, como a neuroinflamação e a ativação de células de suporte do cérebro, conhecidas como astrócitos, que são fundamentais para a realização das sinapses, foram encontrados nos dois casos. “A anormalidade da atividade cerebral intrínseca nesses pacientes se assemelha àquelas vistas no Alzheimer e em demências relacionadas", afirmou Yang Jiang, professor do Departamento de Ciência Comportamental da Universidade de Kentucky e um dos autores do estudo. 

 

 

Os pesquisadores defendem o monitoramento contínuo desses pacientes com o eletroencefalografia (EEG) para poder a ajudar a identificar riscos de declínio cognitivo, como também o diagnóstico precoce de Alzheimer com o objetivo de abrir caminho para tratamentos futuros.

 

O que é COVID longa?

 

A pesquisadora em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Margareth Portela, define a COVID-19 longa como os sintomas experimentados a partir de quatro semanas depois de se recuperarem dos estágios iniciais da infecção. É o mesmo critério adotado pelo Ministério da Saúde.

 

"A COVID-19 mudou a vida de algumas pessoas. Uma pessoa entrevistada pela pesquisa relatou que antes fazia duas faxinas por dia e agora não consegue mais pegar o ônibus para ir trabalhar pela fadiga", disse.

 

Além de comprometimento cognitivo relacionados à "névoa mental", pesquisadora ressalta que é comum os pacientes sentirem fadiga, mal-estar após esforço (Post-exertional malaise), dor nas juntas, ansiedade, sensação de formigamento nos braços e pernas.

 

 

 

Como é feito o diagnóstico?

 

Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o primeiro passo é procurar serviço de atenção primária de saúde em Unidades Básicas de Saúde (UBS's) e Unidades de Saúde da Família (USF). O diagnóstico é feito pelo histórico clínico do paciente, atendimento médico especializado, exames laboratoriais e de imagem, além de alguns testes, como os cognitivos. Margareth ressalta que a doença ainda é não é muito visibilizada, o que dificulta diagnosticar a condição. "Para saber se você tem COVID-19 longa, é preciso descartar todas as outras opções possíveis", explica.

 

Como tratar?

 

Margareth ressalta que o ideal é ter uma abordagem multidisciplinar entre as especialidades médicas que possam fazer o tratamento. A fisioterapia também pode ser indicada, dependendo do caso. A especialista alerta que o exercício físico, em alguns casos, é potencialmente nocivo para recuperação do paciente.


 

A própria Fiocruz inaugurou em 2023 o Centro de Covid Longa que faz monitoramento, avaliação multidisciplinar e reabilitação de indivíduos com sintomas persistentes. Além dele, outras universidades e centros de saúde, tanto públicos quanto privados, oferecem o serviço.

 

Ainda não há remédios específicos para condição, no entanto, o pesquisador da Unicamp explica que os tratamentos podem envolver a "restauração da função mitocondrial". "É justamente nesse ponto que vamos focar nos próximos estudos”, afirma.