Deputadas acreditam em mais mulheres no poder em 2026
Parlamentares mineiras avaliam que bancadas no Legislativo podem ser ampliadas com o voto do eleitorado feminino, reduzindo ainda mais uma desigualdade históric
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“As mulheres são 52% do eleitorado brasileiro, mas ocupam apenas 15% das cadeiras na Câmara dos Deputados e governam só 13% dos municípios. Esse abismo entre quem vota e quem decide perpetua desigualdades históricas.” A frase da deputada federal Ana Pimentel (PT) abre uma discussão que deve marcar a eleição de 2026 em Minas Gerais: a distância entre o peso das mulheres nas urnas e seu espaço nos cargos de decisão.
Hoje, Minas Gerais tem 15 deputadas entre 77 parlamentares na Assembleia Legislativa, o equivalente a 19% da Casa. Na Câmara dos Deputados, a representatividade feminina ainda é baixa: das 53 cadeiras destinadas ao estado, nove são ocupadas por mulheres. No Senado, Minas segue sem nenhuma senadora titular.
Para Ana Pimentel, esse desequilíbrio afeta diretamente a formulação de políticas públicas. “Quando a maior parte da população não está nas instâncias de poder, a política fica incompleta. Falta perspectiva, falta prioridade, falta sensibilidade a problemas que atingem milhões de mulheres.” Ela avalia que 2026 pode ser um marco de inflexão. “As mulheres precisam votar em mulheres se quiserem transformar a política. Não é um apelo identitário, é um dado concreto.”
A evolução recente reforça esse discurso. Em pouco mais de uma década, a presença feminina na política mineira não apenas cresceu, mas se consolidou como tendência. Em 2022, a ALMG registrou o maior número de deputadas da história, enquanto a bancada feminina da Câmara alcançou patamares inéditos.
O cientista político João Henrique Carvalho, da PUC Minas, interpreta o avanço como consequência direta do voto feminino. “Todos os ciclos mostram aumento. A curva é ascendente. Se o eleitorado feminino quiser, pode ampliar a bancada e até definir chapas majoritárias.” Ele afirma que partidos terão dificuldade em montar chapas sem elas. “O custo eleitoral de deixá-las de fora aumentou. Não se trata de benevolência partidária, mas de cálculo político.”
A deputada estadual Lud Falcão (Podemos) reforça a importância dessa construção coletiva. “Podemos ter partidos diferentes, trajetórias distintas. Mas existe um pacto silencioso entre nós: o de cuidar. Cuidar das pessoas, das cidades, das políticas públicas que transformam vidas.” Para ela, o aumento da representatividade “abre espaço para uma política que acolhe, constrói e entrega” e fortalece o diálogo em ambientes polarizados.
Violência de gênero
A possibilidade de avanço ocorre em meio a um quadro de agravamento da violência contra mulheres. Feminicídios, tentativas de feminicídio, estupros de vulneráveis e agressões graves continuam crescendo.
Para Ana Paula Siqueira (PSOL), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher na ALMG, o principal problema é a falta de implementação das leis que protegem a mulher. “Entre 2019 e 2025, foram aprovadas 82 leis voltadas às mulheres, sendo 22 especificamente para enfrentar a violência. Apenas seis foram regulamentadas. A maioria poderia salvar vidas, mas sem regulamentação fica no papel.”
Ela também critica a ausência de estrutura permanente. “Minas é o único estado do Sudeste sem uma secretaria de políticas para mulheres. Sem orçamento e equipe técnica, a rede fica fragmentada.” A deputada afirma que “quando o governo não implementa ações de combate à violência, ele escolhe um lado. E o lado que tem sido escolhido é o do agressor.”
Essa leitura é complementada pela deputada Lohanna (PV), líder da bancada feminina na ALMG. Para ela, a falta de participação feminina explica o fracasso de políticas públicas. “Nada por nós sem nós. Não existe possibilidade de construir uma política pública que atenda verdadeiramente as mulheres sem a participação efetiva delas.” Ela lembra que, sem essa presença, a política ignora questões centrais. “Quem mais sofre com ausência de creches são as mulheres. E o resultado aparece no aumento de feminicídios.”
Novas candidaturas
A violência política de gênero também afasta potenciais candidatas. Ana Paula Siqueira relata ataques racistas, ameaças e e-mails de estupro virtual. “Antes de ser deputada, eu já estava na política e não vivia isso. Quando você ocupa um cargo de poder, o ataque vem. E ele vem pesado.” Segundo ela, isso gera um efeito cascata: “Quando uma mulher vê outra sendo atacada, pensa duas vezes antes de se candidatar.”
A deputada Amanda Teixeira Dias (PL) viveu situação semelhante. “Ser mulher na política, especialmente na direita, é carregar a voz da mulher real, a periférica, a mãe solteira. Isso incomoda muita gente.” Após ser chamada de “Barbie da Shopee”, ela avalia que a violência tenta “minar credibilidade e impedir avanço”.
As avaliações convergem para um mesmo diagnóstico: sem mulheres, a política não enxerga problemas básicos. Como afirma Lohanna, “as políticas públicas construídas sem nós resultam nessa deficiência que mais impacta as mulheres.”
Democracia
Para Ana Pimentel, a presença das mulheres na política é fundamental para a democracia. “Não existe democracia plena com metade da população fora das decisões.” Amanda Teixeira segue a mesma linha e afirma: “As mulheres conhecem a realidade das famílias brasileiras. Precisamos delas nos espaços de comando.”
Lohanna reforça que diversidade ideológica não impede avanços. “A gente precisa de mulheres de todas as cores ideológicas e de todos os partidos. Quando atuamos conjuntamente, conseguimos consensos e políticas públicas reais.” Ela cita o auxílio emergencial em dobro para mães solo: “Foi construído pela bancada feminina do Congresso, com mulheres de todos os partidos.”
“Quando a maior parte da população não está nas instâncias de poder, a política fica incompleta. Falta perspectiva, falta prioridade, falta sensibilidade a problemas que atingem milhões de mulheres”
Ana Pimentel (PT)
Deputada federal