De olho em 2026, Zema reforça discurso na segurança pública
Após megaoperação policial no Rio, governador fez pelo menos 10 publicações nas redes sociais sobre o tema com críticas à gestão petista
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            "O país hoje é o paraíso dos criminosos e o inferno do cidadão de bem." A frase, destacada pelo governador Romeu Zema (Novo) nas redes sociais no último sábado (1/11), reflete o tom do que se tornou uma de suas principais bandeiras rumo à corrida presidencial de 2026: a segurança pública.
Nos últimos meses, Zema tem endurecido seu discurso na área, se posicionando de forma crítica às políticas do governo Lula (PT). O estopim dessa ofensiva foi a megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, considerada a mais letal da história do estado vizinho, com 121 mortes, 117 suspeitos e quatro policiais, segundo o governo fluminense. Desde então, foram, no mínimo, 10 publicações distintas sobre o tema.
“Uma semana após o presidente afirmar que o traficante é vítima do usuário, e seu ministro da Justiça reafirmar ser contra classificar facção como grupo terrorista, isso acontece", disse Zema logo após a divulgação do balanço da operação. “O Brasil precisa reconhecer essas facções como grupo terroristas e agir com toda a força do Estado”, emendou.
Enquanto a operação gerava debates sobre a letalidade policial, Zema se alinhou ao governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), no lançamento do “Consórcio da Paz”, iniciativa que reunirá sete governadores, incluindo o governador mineiro, para trocar informações de inteligência, realizar cooperação operacional e compras conjuntas de equipamentos, com a promessa de ampliar o combate ao crime organizado. O grupo é formado majoritariamente por gestores de direita e surge como alternativa à articulação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de Segurança Pública elaborada pelo governo federal.
- Zema responsabiliza Lula: 'Rio de Janeiro não produz armas e drogas'
 - Zema sobre operação no Rio: 'Brasil precisa reconhecer grupos terroristas'
 
Em das publicações, Zema disse acreditar “num Brasil onde o cidadão de bem não é refém, mas protagonista”. “O Brasil que eu quero é o paraíso da liberdade. Não o paraíso dos criminosos”, completou. Recentemente, também ressaltou o trabalho da Polícia Civil (PCMG), afirmando que "Minas não será quintal para terroristas".
Essa narrativa de Zema não é nova, mas vem se consolidando de forma ainda mais explícita com a aproximação do ano eleitoral. Desde agosto, quando lançou sua pré-candidatura à Presidência em São Paulo, sob o slogan “O Brasil primeiro”, Zema tem enfatizado a segurança como pilar central.
Com discurso focado em "PT nunca mais", ele disse que pretende livrar o país do "Lulismo, dos parasitas e das facções criminosas". Segundo o governador, o Brasil vive "sob a tirania das facções" e elas "ameaçam transformar o país em um narcoestado".
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“Modelo Bukele”
As críticas de Zema não são desacompanhadas de uma proposta. Zema tem defendido abertamente o modelo adotado em El Salvador pelo presidente Nayib Bukele, que visitou em maio. Para o governador, o país da América Central, antes com a maior taxa de homicídios do mundo, alcançou resultados expressivos com o encarceramento em massa de criminosos, simbolizado pelo megapresídio de segurança máxima Centro de Confinamento de Terroristas (CECOT). "O que aconteceu no Rio de Janeiro pode ser um divisor de águas pro Brasil. É a oportunidade de entendermos que facção não é vítima, que eles são sim terroristas e devem ser tratados e enfrentados como tal", publicou na última semana.
 
Oposição rebate
A ofensiva de Zema, porém, enfrenta resistência na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A oposição acusa o governador de usar a tragédia no Rio como cortina de fumaça para ocultar a situação da segurança no estado.
Na semana passada, o Bloco Democracia e Luta divulgou carta aberta afirmando que Zema "pega carona na barbárie" e se esconde "da realidade", usando "o holofote do estado vizinho" para "bradar uma falsa imagem de gestor".
Dados do Anuário 2025 de Segurança Pública apresentados pelo grupo apontam que Minas registrou aumento de 5% nas mortes violentas intencionais entre 2023 e 2024, enquanto o país teve queda de 5%. Ainda segundo o levantamento, o estado ocupa o terceiro lugar no ranking nacional de crescimento de homicídios dolosos, com alta de 7,38%.
O documento critica ainda o aumento das facções criminosas em Minas e aponta o "colapso" das polícias estaduais, com déficit de efetivo e rodízio de viaturas devido ao racionamento de combustível. O bloco afirma que seriam necessários 18 mil policiais para cobrir os 853 municípios, mas há pouco mais de 10 mil. Segundo a oposição, o "populismo de Zema" busca "pegar carona em cima do sangue derramado e jogar para debaixo do tapete a falência e a falta de planejamento".
Ações
Em nota encaminhada à reportagem, o governo de Minas afirmou que ampliou em 60% os investimentos em segurança pública desde 2019, com reforço no efetivo policial, renovação de frotas e modernização de equipamentos. O Executivo destacou que Minas alcançou o segundo lugar no ranking nacional de sensação de segurança em 2023, segundo o IBGE.
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Entre as ações recentes, o governo citou a criação do Grupo Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gerco), a atuação do Centro Integrado de Inteligência Cibernética (Ciberint) e a recaptura de 360 foragidos no último ano. Também informou que o Plano Estratégico da PM prevê investimento de R$ 1,1 bilhão até 2027 e que mantém diálogo com as forças de segurança, com recomposição salarial total de 23% desde 2019. Sobre o abastecimento das viaturas, o governo garantiu que ele ocorre regularmente.