Ex-juiz da Lava Jato é suspeito de furtar champanhe em supermercado
O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) informou que recebeu uma notificação da Polícia Civil de Santa Catarina e que investiga o caso
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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O juiz federal Eduardo Appio, da 18ª Vara de Curitiba, que chegou a assumir a Lava Jato criticando os métodos da operação, é alvo de apuração sob suspeita de furtar garrafas de champanhe em um supermercado na cidade de Blumenau (SC) na quarta-feira (22).
Procurado pela reportagem, Appio afirmou: "Não posso [me manifestar] porque não sei de nada. Estou me informando".
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O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) informou apenas que recebeu uma notificação da Polícia Civil de Santa Catarina contra um juiz federal nessa quinta-feira (23/10) e que "serão tomadas as providências cabíveis".
Autoridades ligadas à Polícia Civil do estado afirmaram à reportagem nesta sexta-feira (24/10) que há imagens de câmeras de segurança do local que teriam registro do furto.
O TRF-4 diz que o caso vai tramitar de forma sigilosa. Em situações assim, o tribunal geralmente abre um PAD (procedimento administrativo disciplinar) contra o magistrado.
Appio atuou na 13ª Vara de Curitiba, que ficou conhecida como a "Vara da Lava Jato", de fevereiro a maio de 2023.
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Abertamente crítico dos métodos da operação deflagrada em 2014 e da atuação das autoridades que ganharam notoriedade durante a investigação - como o ex-juiz Sergio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol -, Appio assinou decisões polêmicas e se tornou alvo de pedido de suspeição proposto pelo Ministério Público Federal.
Entre outras coisas, o MPF apontava os vínculos de Appio com lideranças do PT. Até o início de 2023, Appio usava o login "LUL2022" para acessar o sistema da Justiça Federal.
Mas o episódio que gerou o afastamento de Appio da 13ª Vara Federal foi uma ligação para o advogado João Eduardo Barreto Malucelli, sócio do ex-juiz Sergio Moro (hoje senador) em um escritório de advocacia e filho do desembargador federal Marcelo Malucelli, então relator da Lava Jato em segunda instância.
Na ligação, Appio fingiu ser outra pessoa, na tentativa de comprovar que falava com o filho de Marcelo Malucelli.
Publicamente, Appio negava ter feito a ligação, que foi gravada por João Eduardo. Admitiu apenas em setembro de 2024, durante uma entrevista exibida na TV Brasil, quando também explicou que seu objetivo era comprovar que Malucelli não teria a isenção necessária para atuar em processos envolvendo o advogado Rodrigo Tacla Duran, por conta do vínculo entre seu filho, João Eduardo, e Moro.
"[A ligação] era para entender se [João Eduardo] era filho ou sobrinho [de Marcelo Malucelli]. Se fosse sobrinho, não haveria qualquer problema. Sendo filho, problemas graves e indícios de corrupção. Porque Malucelli estava jurisdicionando os processos que afetavam diretamente o interesse do Sergio Moro. Tacla Duran sempre foi o arqui-inimigo do Moro. Então, como que poderia jurisdicionar e, ao mesmo tempo, o filho ser sócio do Moro?", afirmou Appio, na ocasião.
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O episódio gerou um processo administrativo disciplinar contra Appio na Corregedoria do TRF-4. Mas o magistrado conseguiu transferir o caso para análise da Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).