RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Brics: Avaliação de Zema não é clara, explica especialista

Analista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) destaca que sair dos Brics é improvável e lembra que nem Bolsonaro tirou o país do bloco

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A posição do governador Romeu Zema (Novo), pré-candidato à Presidência da República, em defender a saída do Brasil dos Brics, bloco de articulação político-diplomática que envolve Rússia, Índia, China e Rússia e mais 11 países, não encontra lastro nas Relações Internacionais. O chefe do Executivo mineiro classificou o grupo como “um bloco ideológico recheado de ditaduras”, e que não agrega ao país.

As declarações de Zema foram publicadas em um artigo de opinião na Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (31/7) com o título: “Sai do Brics, Brasil!”. No texto, o governador atribuiu a tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras aos Estados Unidos, imposta pelo presidente Donald Trump, ao que chamou de “alinhamento errático” com os Brics.

Segundo o cientista político Leonardo Paz, analista de Inteligência Qualitativa no Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional (NPII) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as críticas do governador mineiro mostram uma “falta de clareza do que é o Brics e sua importância".

Para o especialista, a saída do Brasil do bloco é “muito improvável” e o tema se tornou “emocional” para alguns segmentos da direita e da extrema direita do país. “O melhor indicador para a baixa probabilidade disso é que a gente teve um governo Temer e um governo Bolsonaro muito críticos à China, inclusive na época da pandemia. Eles foram presidentes, tiveram a oportunidade de sair, mas nunca saíram porque viram o valor”, disse.

Paz ainda explica que o Brics é importante para posicionar o Brasil nas principais discussões da geopolítica e aumentar a interlocução com os principais atores globais, em especial com a China. Porém, isso não significa um alinhamento expresso com o bloco e destaca que existe espaço para discordância e disputas internas entre os países.

“Sem dúvida o governador, que não é da área de Relações Internacionais, mostra bastante desconhecimento quando não tem clareza de que é importante fazer parte de onde os principais atores do mundo estão discutindo diversos temas. Me chama atenção que o Brics talvez seja a única associação internacional que algumas dezenas de países aplicam para entrar, e tem alguém dizendo que a gente tem que sair porque o Trump quer? Só por esse fato não deveria fazer sentido”, disse.

Em suas falas, Zema destacou que os Brics não são um bloco econômico, nem uma zona de livre comércio. O governador defende ainda que o Brasil entre para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o que “representaria um compromisso com o Estado de Direito, com as boas práticas de governança, com a transparência fiscal e com marcos regulatórios modernos”.

De acordo com o especialista, essa defesa do governador também não faz sentido e demonstra desconhecimento. “São coisas completamente distintas. A OCDE não é uma organização política, ela tem um foco exclusivo em políticas públicas. Você não tem reunião de chefes de estado na OCDE, ela discute como mensurar políticas de educação, combate à corrupção no sistema previdenciário. Não tem relação com uma aliança política que você discute geopolítica”, destacou.

Leonardo Paz também discorda em cortar relações com os Brics pela questão do envolvimento com países que são questionados por não serem regimes democráticos. O especialista classifica o argumento como parcial, que não pode definir quem vai participar de blocos mundiais. “As pessoas reclamam da falta de democracia da China e da Rússia, mas ninguém reclama da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes. No final das contas, você tem regimes relativamente autoritários na própria União Europeia, como a Hungria”, disse.

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Ele ainda destaca que o Brasil não é convidado para ser membro dos grupos dos países considerados democráticos, desde antes da criação dos Brics, há 15 anos. “As grandes iniciativas internacionais partem desses grupos, partem do G20, partem do G7, partem dos Brics de certa maneira. Se você é um país que não faz parte disso, você fica a reboque do que acontece no mundo”, completou.

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