Abi-Ackel diz que falta de diálogo e 'engenhosidade política' prejudicou MG
Presidente do PSDB mineiro Abi-Ackel afirmou que o estado hoje sofre um desmonte, 'inclusive da imagem de sabedoria que o político mineiro carregava'
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Siga noDeputado federal por quatro mandatos consecutivos e presidente do PSDB mineiro, o advogado Paulo Abi-Ackel, em conversa no podcast EM Entrevista, confessou sentir atualmente um certo desalento com os rumos tomados pela política, segundo ele, uma atividade que, feita de forma ética, é uma das mais relevantes e o único caminho para resolver os problemas do país.
O motivo para esse desânimo, afirmou, seria uma busca de “lacração” nas redes sociais, que para ele domina o parlamento e seus representantes, assim como o que considera um radicalismo que interdita o debate que sempre existiu no parlamento brasileiro, mesmo entre partidos antagônicos, como o PT e o PSDB.
O parlamentar também se disse preocupado com Minas que, segundo ele, sempre esteve na “posição de maquinista, não de vagão”. Abi-Ackel afirmou que o estado hoje sofre um desmonte, “inclusive da imagem de sabedoria que o político mineiro carregava, de qualidade intelectual que o político mineiro carregava, de habilidade política que o político mineiro carregava”.
Sobre os rumos do seu partido, que chegou a anunciar uma fusão com o Podemos, revertida na última hora, ele afirmou “achar graça daqueles que profetizam o enterro, o velório, e mandam coroas de flores para o para o enterro do PSDB”: “Isso não vai acontecer. Nós somos do centro político, nunca fomos nem Lula, nem Bolsonaro, e nossa força no interior do Brasil é imensa”, afirmou o deputado. Confira os principais trechos da entrevista e veja a íntegra da entrevista no canal do Portal Uai no YouTube.
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O que ocorreu nas conversações entre PSDB e Podemos, que chegaram a anunciar uma fusão?
Tentamos uma aliança com o Podemos, porque identificamos no partido semelhanças conosco, já que a legenda nunca chegou a ser ligada ao bolsonarismo e nem ao petismo, o que nos trazia alguma identidade. Mas me parece que para o Podemos só interessava a fusão, mas na verdade, e talvez esteja aí o problema, na verdade era uma incorporação. O PSDB estava incorporando o Podemos e algumas pessoas se incomodaram um pouco com isso. E assim tinha que ser porque o PSDB é um partido muito maior do que o Podemos, apesar de ter hoje uma bancada de deputados federais em menor número. Mas nós temos prefeitos municipais, deputados estaduais, vereadores, um número, representação de diretores estaduais e comissões provisórias e a história. Legado que não se compara, né?
Qual a responsabilidade do deputado federal e ex-governador e ex-senador por Minas Gerais, Aécio Neves, nesse encolhimento do PSDB?
Quando Lula é condenado e levado a cumprir pena em regime fechado, houve um sentimento de alguns setores da política brasileira, do Ministério Público, do Judiciário, setores digamos, do universo pensante brasileiro, de que esse castigo deveria ser dado a todos os atores daquela fase da política brasileira. E deu-se início então a um processo de perseguição política. Hoje está comprovado isso, porque estão todos absolvidos de todos os seus processos. Naquele momento foram para cima dos principais nomes do PSDB: Beto Richa, no Paraná, chegou a ser preso. Marconi Perillo, em Goiás, chegou a ser preso, infelizmente. E o Aécio Neves, que não passou por isso, mas teve um enorme desgaste. Mas todos foram absolvidos, mas passaram antes por sofrimentos terríveis, que não tem como serem mensurados por ninguém. (...) Isso causou um dano enorme para o PSDB.
Quais erros o partido cometeu nas últimas disputas?
João Dória (ex-governador de São Paulo que concorreu à Presidência da República pelo PSDB nas eleições de 2022) foi péssimo para o PSDB. Era uma figura absolutamente fora, não compreendia o que era o papel dele, o que era ser governador e líder político. Isso aconteceu lá em São Paulo também, não é só aqui em Minas que isso acontece. Tudo isso causou enormes prejuízos para o PSDB, com uma desagregação interna muito grande, que culminou com um desgaste muito grande, mas nada que não possa ser revertido com muito trabalho.
O nome do ex-governador Aécio Neves aparece em algumas sondagens para a disputa pelo governo de Minas. Qual é a perspectiva hoje política dele? Ele pretende concorrer ao governo de Minas?
Aécio decidiu ser candidato ao governo de Minas pela primeira vez em junho do ano da eleição, em 2002. Ele sabe muito bem jogar e trabalhar com o tempo. E é o tempo que oferece informações, vamos dizer assim, o próprio andar da carruagem vai mostrando por onde deve ser o caminho. Acho que realmente ainda é um pouco prematuro sair dizendo que é candidato, mas pode esperar surpresas por parte do Aécio, que tem, como eu tenho no sangue, esse componente terrível que se chama política.
Como é que é hoje assistir ao negacionismo em relação à ciência, e muitas vezes em relação à própria democracia, à história?
É terrível, muito desestimulante, porque o debate político de verdade é bom de ser feito. Fui líder da oposição ao governo Dilma por dois anos. Tínhamos embates duríssimos, algumas vezes levei melhor, outras tantas vezes foi o meu oponente, então líder do governo do PT, que tinha figuras talentosíssimas na tribuna. (...) Então, ficar no plenário assistindo àquele espetáculo de horrores que virou o debate hoje na Câmara dos Deputados é absolutamente desestimulante. Dá vontade da vontade realmente de deixar a vida pública. A motivação são as inúmeras melhorias nas cidades do interior, a quantidade de estações departamento de esgoto e de água, que trazem benefícios diretos para a população, além de estradas e pavimentações de ruas. Tudo isso, de certa maneira, acalenta um pouco o coração da gente, já bem machucado com o ambiente político de Brasília e também com o ambiente entre os partidos.
Hoje, no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF), tem uma discussão em relação à regulamentação das mídias digitais. Qual é a sua posição sobre?
Sou francamente a favor da regulação das mídias sociais. (...) A rede social trouxe benefícios e grandes vantagens, como mais informação para as pessoas, sobretudo àqueles estavam mais distantes dos grandes centros, mas qualificou muito baixo a consciência política do brasileiro. Então, o mau gosto passou a ser um elemento fundamental no sucesso e no processo da atividade política. Aquela coisa meio auditório de programa de piada que havia ou ainda há no Brasil passou a fazer parte da política brasileira.
O senhor falou sobre os tempos da política em que os opositores conversaram e hoje são inimigos. Parece que houve uma quebra também de uma coisa importante, muito cara para os mineiros, que sempre foi o diálogo dentro da política, o rito dentro da política…
Bom, isso se perdeu em Minas Gerais, eu não tenho a menor dúvida. E o surgimento, e aqui devo dizer de antemão com todo respeito, do governador Zema, que até pode ser um homem bem-intencionado, honesto, mas falta conhecimento sobre o que é ser exatamente ser o governador do estado de Minas Gerais. Ele não estava preparado para o exercício do cargo. Também o vice, que me parece um homem até inteligente, é professor de direito, mas também era vereador na Câmara de Belo Horizonte, sem qualquer demérito para a Câmara de Belo Horizonte, mas foi um salto muito grande para ter tanta responsabilidade em mãos. E, sobretudo a negação à política, porque eles sempre disseram: “Não, não somos políticos”. Isso talvez tenha sido o maior erro.
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Qual o custo disso para Minas Gerais?
Eu acho que ao contrário, no sentido inverso, o que está acontecendo agora é uma falta de capacidade política do governador, de ser oposição e o uso disso como elemento de busca de likes, seguidores e essa coisa de rede social, acabaram colocando o governador do estado de Minas Gerais numa linha de afastamento cada vez maior do governo federal. (...) Minas está perdendo cada vez mais, exatamente por causa dessa falta de engenhosidade política, de capacidade de dialogar, de fazer oposição, uma coisa não prejudica a outra. (...) Minas perdeu lugar. Éramos respeitadíssimo no Congresso Nacional.