ARTIGO

Agro brasileiro assume papel central na COP30 e testa compromisso entre dis

Sem instrumentos financeiros que remunerem práticas regenerativas, o discurso verde continuará vulnerável à contestação externa e interna

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Ricardo Harbs
Economista e professor do Instituto Pecege

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A COP30 em Belém aparece como uma oportunidade histórica para o agronegócio brasileiro se consolidar como protagonista na agenda climática global, mas essa liderança só valerá se for acompanhada por compromissos concretos. É insuficiente exibir programas e metas se não há mecanismos claros para transformar restauração de solo, redução de emissões e inclusão regional em investimentos de longo prazo. O agro pode e deve ser solução, mas antes precisa provar que sua ambição ambiental não será apenas retórica.

Projetos como a iniciativa RAIZ (Resilient Agriculture Investment for Net Zero Land Degradation) e programas nacionais como Caminho Verde mostram que o país já tem a musculatura técnica e institucional para transformar áreas degradadas em ativos produtivos e de baixo carbono. Lançada pelo Ministério da Agricultura, a RAIZ pretende acelerar financiamento e tecnologia para recuperar terras agrícolas degradadas, unindo segurança alimentar, mitigação e geração de renda. Isso é exatamente o tipo de agenda que traduz ESG em resultado mensurável quando há governança, métricas claras e mercado para financiar a transição.

Ao mesmo tempo é preciso enfrentar as contradições que minam a credibilidade do setor. O Brasil registrou avanços recentes no combate ao desmatamento, o que é positivo, mas vigilância e coerência de políticas são condicionantes para que esses avanços se consolidem. Sem transparência nas cadeias, sem inclusão dos produtores familiares e sem instrumentos financeiros que remunerem práticas regenerativas, o discurso verde continuará vulnerável à contestação externa e interna. Por isso é essencial conectar iniciativas de restauração a planos como o ABC+, que já oferece ferramentas para quantificar emissões evitadas na agricultura, e a mercados de carbono com normas claras de integridade ambiental e social.

Há também um argumento econômico irrefutável para não postergar a transformação. O agronegócio responde por parcela substancial das exportações brasileiras e depende de imagem e previsibilidade regulatória para acessar investimentos. Em 2024 as exportações do setor superaram 153 bilhões de dólares, o que mostra que produtividade e sustentabilidade podem andar juntas desde que políticas e incentivos alinhem retorno privado e bem público. Investidores exigem transparência em ESG, e não entregar isso significa perder mercados e capital, não apenas elogios em eventos.

A COP30 tem tudo para ser um divisor de águas se sair do palco das boas intenções e entrar na arena dos instrumentos. O agronegócio brasileiro deve reivindicar protagonismo, mas assumir compromissos verificáveis, como planos de restauração com metas, mecanismos financeiros que remunerem remoções e práticas regenerativas, e governança que garanta participação da Amazônia e dos pequenos produtores. Sem isso, corremos o risco de transformar um momento simbólico em uma oportunidade perdida. A hora é de transformar promessas em projetos que realmente reduzam emissões e recuperem terras, com retorno social e econômico mensurável.

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