editorial

Queda no desemprego: os dois lados da balança

O desafio real é transformar emprego em trabalho de qualidade: reduzir a subutilização, formalizar ocupações, elevar rendimentos reais e combater desigualdades

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O último dado oficial é, inegavelmente, um alento: a taxa de desemprego no Brasil tem alcançado os menores patamares históricos, um feito notável que merece ser reconhecido. De acordo com os dados divulgados na sexta-feira, 31 de outubro, pelo IBGE, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) constatou que a taxa de desocupação ficou em 5,6% no trimestre encerrado em setembro de 2025, o menor nível desde o início da série em 2012, com a população desocupada em cerca de 6 milhões de pessoas. Esse resultado representa uma queda de 3,3% (menos 209 mil) em relação ao trimestre anterior e de 11,8% (menos 809 mil) na comparação com o mesmo período de 2024.

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É algo que devemos exaltar, mas não pode ser lido como prova de que o problema estrutural do trabalho no país foi vencido. A precarização e subutilização da força de trabalho permanece, embora também registrando níveis um pouco mais baixos.


A chamada taxa de subutilização – que reúne pessoas que gostariam de trabalhar mais, que estão subempregadas ou desencantadas – no terceiro trimestre de 2025 ficou em torno de 13,9%, representando 15,8 milhões de pessoas. Isso significa que continuam fora do emprego pleno.


E há ainda o recorte da informalidade, que afeta mais de um terço da força de trabalho: cerca de 37,8% das pessoas ocupadas estavam em trabalhos informais no período mais recente – isto é, sem carteira, sem proteção previdenciária e com renda e direitos fragilizados. O total de trabalhadores nessa condição (excluindo domésticos) chegou a 39,2 milhões, com estabilidade no trimestre e alta de 2,7% (mais 1 milhão) em 12 meses.


Uma mistura de fatores macro e micro, como desaceleração do crescimento econômico em alguns meses, taxa de juros ainda elevada para controlar a inflação e níveis educacionais desiguais, além de políticas públicas de proteção e qualificação aquém do necessário, ajuda a explicar esse quadro. Em outras palavras, o país alcança taxas baixas de desemprego num contexto que ainda não garante direitos trabalhistas e proteção social. E o custo de vida acaba ofuscando outro dado positivo: a renda média real habitual do trabalhador registrou aumento, atingindo R$ 3.507 no trimestre até setembro de 2025, um recorde também.


A conjuntura da redução do desemprego, em grande parte, se deve a questões cíclicas e de recomposição pós-pandemia, somadas a políticas de incentivo ao consumo. No entanto, o Brasil ainda padece de problemas como falta de investimento maciço em educação, tecnologia e infraestrutura, o que faz com que a produtividade do trabalho permaneça aquém de seu potencial, limitando a criação de empregos de alto valor agregado.


Há um descompasso crônico entre a formação profissional e as demandas de um mercado de trabalho cada vez mais digital e qualificado, o que se reflete na dificuldade de preenchimento de vagas especializadas ao mesmo tempo que persiste a subutilização.


A queda da taxa de desemprego é uma notícia boa – e deve ser comemorada especialmente por quem estava sem ocupação. O desafio real é transformar emprego em trabalho de qualidade: reduzir a subutilização, formalizar ocupações, elevar rendimentos reais e combater as desigualdades regionais e por gênero. Enquanto isso não ocorrer, a nossa melhora será, em grande medida, uma estatística sobre uma realidade que ainda padece de fragilidades.

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