A largada da COP30
A COP30 também precisa ser vista como um passo essencial para a sustentabilidade de outros biomas
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Cercada de muita expectativa e dúvidas sobre o sucesso de seu propósito, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas entra na reta final. O presidente Lula chegou a Belém ontem para dar início ao papel de anfitrião do encontro que tem uma difícil missão: obter um entendimento entre as nações a fim de evitar o colapso ambiental em escala planetária. A começar pela escolha da sede – Belém recebeu R$ 5 bilhões em obras de infraestrutura –, o Brasil busca sensibilizar o mundo sobre o momento crítico que a humanidade enfrenta.
Ainda em fevereiro deste ano, o presidente Lula ressaltava o debate que precisa ocorrer na capital paraense. “Nós queremos discutir seriamente. Vão financiar ou não? Na COP de 2009, eu era presidente. Lá os países prometeram US$ 100 bilhões (…). Não deram. Depois, prometeram US$ 300 bilhões. Não deram (…). Fica cada vez mais difícil”, comentou o chefe do Executivo.
Passados oito meses desde essas declarações, o desafio financeiro é patente no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Destinado para remunerar países que atuam pela preservação de patrimônios ambientais como a Amazônia, o TFFF será abordado no próximo dia 6, quando o presidente Lula abrirá a plenária em Belém e dará seguimento às sessões temáticas. Para não ficar apenas no discurso, o governo brasileiro fez um gesto em setembro: durante a participação na Assembleia Geral da ONU em Nova York, Lula anunciou o aporte de US$ 1 bilhão no Fundos das Florestas. A expectativa é de que se chegue a um montante de US$ 25 bilhões até a conclusão dos debates em Belém.
Na última sexta-feira, os organizadores da COP30 anunciaram a participação de 143 delegações entre os 198 países signatários de tratados internacionais relativos à crise climática. As ausências dos Estados Unidos e da Argentina já foram devidamente informadas, em um sinal das divergências profundas que marcam o debate sobre a crise climática.
Mas, em meio a tantas discordâncias, é possível ver iniciativas promissoras. Registre-se, por exemplo, a busca pela sinergia entre meio ambiente e atividades econômicas estratégicas, como o agronegócio. Um exemplo é a mobilização da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Na sexta-feira, a empresa pública entregou ao presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, o documento “Contribuições Embrapa para o Mutirão Global contra a Mudança do Clima”. Trata-se de um trabalho robusto, realizado por mais de 1.300 participantes, com propostas para a produção do baixo carbono e adaptação da agropecuária às mudanças climáticas. Eis um exemplo que reforça o princípio basilar da COP30: sustentabilidade e desenvolvimento econômicos são não apenas compatíveis; são necessários.
É importante frisar que, apesar de ocorrer no coração da Amazônia, a COP30 também precisa ser vista como um passo essencial para a sustentabilidade de outros biomas. Razões científicas sustentam esse alerta, como ressaltou a bióloga Mercedes Bustamante, uma das maiores especialistas no Cerrado, em entrevista ao Correio. “O Cerrado é fundamental para a estabilidade ambiental do Brasil e da América do Sul, e sua proteção deve ser uma prioridade na COP30. Estamos falando da savana tropical mais biodiversa, berço de oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras”, diagnosticou.
Na capital paraense, o Brasil espera que “a Amazônia fale para o mundo”, para usar uma expressão do presidente Lula. O sucesso ou fracasso da cúpula não poderá ser creditado ao anfitrião, mas aos conjunto de atores – presentes e ausentes. Trata-se de um desafio que se impõe para as próximas gerações, a fim de interromper a espiral de agressões contra o planeta.