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Siga no“Umas das características da política é a habilidade no trato das coisas humanas. Essa relação se tornaria, não digo mais fácil, mas em condições razoáveis de discussões e ideias se nos desnudamos das paixões e a enxergamos mais com os olhos da imparcialidade. Discussão não no sentido de altercação, rispidez, porém, no modo plausível de discorrer, falar, propor e contrapor. O desafio é como fazer isso se a paixão não tem senso crítico e é inerente a todo e qualquer ser humano. As campanhas políticas não nos desmentem: o resultado é o ridículo a que acostumamos ver em nossa linha do tempo das redes sociais e nas ruas por aí afora. Elevamos o tom dos discursos e nos apequenamos no conteúdo, na forma vazia de ideias, propostas e sugestões. A proposta verdadeira é diminuir e desconstruir a imagem do outro – ou até mesmo construir, desde que a imagem construída seja de um sujeito pintado em um contexto que seria pouco condizente e válido para os interesses reais da sociedade que busca o bem comum de todos. Sem fisiologismo. Estamos construindo a política com uma alfineta aqui, uma bofetada ali, e até mesmo uma estocada acolá. Sem falar em ceifamento de vidas, os chamados crimes políticos, que não são de hoje. Ora, o filósofo Aristóteles, em seu livro “Política”, define que esta é um meio para alcançar a felicidade dos cidadãos. Para isso, o governo deve ser justo e as leis obedecidas. Pelo quadro até o momento, estamos longe de se atingir esse objetivo: não estamos nos relacionando em certo grau de felicidade nem tampouco vemos um Estado provedor de justiça social. O que está imperando, na verdade, é a dita Lei de Talião: "olho por olho, dente por dente". Não no sentido de se fazer justiça, mas no sentido de darmos à política os modos aversos à diplomacia e à boa relação. O quadro das últimas campanhas eleitorais não fugiu disso. Os debates desprezam propostas e sobretudo as injustiças sociais.”
FÁBIO MOREIRA DA SILVA
Belo Horizonte