editorial

Sintomas de declínio na influência dos EUA

Além de encarecer a vida do cidadão, Trump cria uma série de incertezas no mercado financeiro e ameaça a hegemonia do dólar – principal moeda do mundo

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Desde o fim da Guerra Fria, o mundo convive com uma inegável hegemonia dos Estados Unidos. Nas últimas décadas, a vontade dos EUA sempre prevaleceu em três setores fundamentais para todo país: cultura, economia e poder militar. Nos últimos anos, porém, é flagrante a queda da influência estadunidense ao redor do globo – apesar de ela se manter bastante significativa. Os impactos da guerra tarifária de Trump nas economias, entre elas a brasileira, mais recentemente, colocam essa tendência à prova.


No campo militar, o apoio dos Estados Unidos ao Estado de Israel, a partir do treinamento de agentes e da cessão de armamentos, gera um inegável desgaste à imagem de Washington. É impossível fechar os olhos do mundo para a destruição da Faixa de Gaza, inclusive com medidas israelenses para dificultar a chegada de ajuda humanitária a civis que estão morrendo de fome.


Na cultura, a hegemonia norte-americana se mantém, mas começa a ser desafiada na música, por exemplo, com a imensa popularidade do k-pop, gênero musical originado na Coreia do Sul, que usa uma grande variedade de elementos audiovisuais amigáveis aos algoritmos das redes sociais. No esporte, nos Jogos Olímpicos, o antes inquestionável domínio da delegação dos EUA tem sido desafiado pela China. Em Paris 2024, empataram em medalhas de ouro, por exemplo.


Já na economia, os Estados Unidos têm enfrentado diversos desafios, principalmente pela ascensão chinesa na área da tecnologia. O exemplo mais emblemático da vez passa pelas chamadas terras raras, minas com elementos químicos fundamentais para diversas áreas, como carros elétricos, turbinas eólicas, eletrônicos, equipamentos militares (como drones) e equipamentos médicos. Também são usadas na transformação do petróleo em gasolina, apesar de esses elementos não serem essenciais ao processo, pela existência de produtos alternativos.


Nas terras raras, inclusive, o Brasil ocupa espaço importante ao concentrar cerca de 25% da oferta mundial, sendo superado apenas pela China, que detém aproximadamente 45%. Apesar de terem representatividade nesse mercado, os EUA, pela sua enorme produção militar e de carros elétricos, se colocam em posição desfavorável na negociação com Brasil e China, diante dos desgastes geopolíticos recentes provocados por Trump.


Porém, nem todos esses fatores têm relação direta com o governo Trump. Muitos, como o dano à imagem internacional por conta de guerras, começaram em gestões anteriores – sobretudo nas invasões do Afeganistão e do Iraque (George W. Bush) e antes, do Vietnã (Richard Nixon). No entanto, há evidências realçadas pelo trumpismo que merecem destaque.


Entre elas, a diminuição do chamado “soft power” estadunidense – a capacidade do país de influenciar outras nações pela persuasão, não só pela força. A política externa de Trump nada tem de “suave”, usando a tradução direta do termo. Não há cadência, e sim uma pressão exercida pelo poder militar e econômico.


A crise geopolítica traz reflexos diretos ao chamado American Way of Life. A partir do endurecimento do tarifaço, a inflação dos EUA atingiu seu mais alto patamar em quatro meses em junho, fechada em 2,7% no índice acumulado do ano, uma alta de 0,3% mensal.


Além de encarecer a vida do cidadão, Trump cria uma série de incertezas no mercado financeiro e ameaça a hegemonia do dólar – principal moeda do mundo, justamente por ser menos volátil a decisões políticas, graças a uma muito cultuada independência do Sistema de Reserva Federal (FED, na sigla em inglês, o Banco Central estadunidense).


Apesar de não ser o único culpado, o governo Trump é simbólico, em várias medidas, para o declínio da influência dos EUA. Há tempo para reverter o cenário, mas a Casa Branca encara o panorama mais desafiador em décadas.

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