Editorial

O Brasil com uma ONU enfraquecida

É preciso focar em uma agenda que represente ganhos para o nosso país e valorize o papel do Brasil como ator neutro e soberano no contexto internacional

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Em discurso na reunião anual do Novo Banco do Desenvolvimento (NBD), braço financeiro dos Brics, o presidente Lula deu um diagnóstico do momento conturbado das relações internacionais. “O problema nosso não é nem econômico. O problema nosso é político, porque há muito tempo eu não via o mundo carente de lideranças políticas como nós temos hoje. Há muito tempo eu não via a nossa ONU tão insignificante como ela se apresenta hoje”, afirmou o chefe do governo brasileiro na capital carioca.

Lula apontou como exemplo eloquente da fraqueza da Organização das Nações Unidas a incapacidade de encontrar uma solução diplomática para o conflito no Oriente Médio. “Uma ONU que foi capaz de criar o Estado de Israel não é capaz de criar um Estado Palestino. Não é capaz de fazer um acordo de paz para que o genocídio do Exército israelense [não] continue matando mulheres e crianças inocentes em Gaza”, lamentou.

O presidente tem sido criticado, dentro e fora do Brasil, por suas atitudes a respeito de conflitos como a guerra na Ucrânia ou os embates de Israel contra palestinos e, mais recentemente, contra o regime iraniano. A postura do governo brasileiro é vista com desconfiança porque sugere um posicionamento antiocidental, amistoso com Rússia, China e Irã, países que compõem a frente antagônica aos Estados Unidos e seus aliados. Com efeito, é preocupante observar a tolerância do governo brasileiro com regimes que não demonstram apreço pela democracia, como Venezuela e Rússia.

Mas Lula acerta quando afirma que o multilateralismo enfrenta um momento crítico, a ponto de o governante dizer que a ONU se tornou “insignificante”. A ascensão de líderes nacionalistas e conservadores em diferentes partes do mundo impôs obstáculos ao esforço de organismos internacionais em distensionar situações críticas em regiões específicas do planeta, bem como enfrentar problemas de ordem global, como a desigualdade social e a emergência climática.

Em termos práticos, são remotas as chances de o Brasil interferir em questões agudas na comunidade internacional, como os conflitos militares na Europa e no Oriente Médio. Convém, portanto, buscar o protagonismo em debates nos quais o país tem melhores condições de contribuir de maneira mais relevante. E a oportunidade reside precisamente em dois temas coligados: sustentabilidade e transição energética.

O aproveitamento sustentável das nossas potencialidades econômicas pode servir de trampolim para o Brasil ocupar uma posição mais relevante no cenário internacional. Por um lado, é verdade que as economias mais ricas resistem em ajudar os países em desenvolvimento a preservar a natureza, e a ONU, efetivamente, tem perdido força política ante o nacionalismo crescente. Por outro lado, o Brasil tem condições de sinalizar ao mundo que é um país aberto ao desenvolvimento sustentável e opositor das guerras.

Para tanto, é preciso focar em uma agenda que represente ganhos econômicos para o nosso país e valorize o papel do Brasil como ator neutro e soberano no contexto internacional. Posicionamentos que denotem algum tipo de alinhamento ideológico são improdutivos, na medida em que o Brasil não tem peso armamentista para impor algum poder político. Com o esvaziamento crescente do multilateralismo, a política externa brasileira deve se guiar por um pragmatismo que busque oportunidades econômicas e evite altercações políticas infrutíferas.

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