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Cultivar a transcendência

É um caminho espiritual que leva ao encontro de si e do semelhante, pela conquista de singular sabedoria para reger processos e participar da vida em sociedade

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Cultivar a transcendência é incontestável necessidade existencial do ser humano e, considerando o contexto atual, é oportuno sublinhar: as preocupações diárias, a multiplicação de afazeres, o aumento de responsabilidades e demandas, bem como os rumos inusitados produzidos pelas novas tecnologias podem ameaçar as práticas que levam à transcendência. Desconsiderar essas práticas expressa descaso com experiências essenciais à constituição mais profunda da condição humana e as consequências são graves: lacunas existenciais que desarrumam vidas e interrompem caminhos promissores no âmbito pessoal, familiar e social. Cultivar a transcendência – individualmente, também no contexto das famílias e comunidades – é resposta para a crise de sentido que pesa sobre ombros de grande parte da população. Essa crise incide nas atitudes do ser humano, contribuindo para enjaular as razões na busca pelo lucro, no anseio por um bem-estar que se confunde com esbanjamento e acúmulo de poder. Consequentemente, o ser humano se distancia de suas raízes mais profundas, apegando-se a escolhas que explicam os descompassos vividos na sociedade.


Atualmente convivem, lado a lado, muitas possibilidades advindas da inteligência humana com descompassos irracionais. Esses descompassos distanciam o ser humano de sua essência, consequência da falta de cuidado com o alicerce da própria vida. Os desdobramentos são perigosos: a multiplicação de guerras, o crescimento da indiferença em relação ao semelhante, com a relativização da vida, principalmente a dos pobres e dos desvalidos. São perdidos os genuínos laços de afeto, com impactos também nas famílias, dando lugar a opções que prejudicam o próximo e levam o ser humano à autodestruição. O desenvolvimento tecnológico e científico, frutos da inteligência humana, não vai nem pode parar. Mas é preciso reconhecer que cresce uma lacuna ao lado dessa riqueza incontestável: a necessidade de se cultivar a transcendência, para iluminar horizontes com luzes que não são humanas – vêm de alguém maior, da fonte de toda existência.


Deixar de cultivar a transcendência enjaula grupos, segmentos e pessoas em compreensões medíocres, modeladas a partir de espetáculos efêmeros. Nada contra os espetáculos, que reúnem admiradores, expressam momentos de glória, mas são passageiros e não podem substituir a capacidade humana de cultivar a transcendência, fortalecendo os alicerces existenciais. Sem esse essencial fortalecimento, o ser humano corre risco de desmoronar ou de facilmente deixar-se manipular, pois não encontra sentido para a própria vida. O cultivo da transcendência é um caminho espiritual que leva ao encontro de si e do semelhante, pela conquista de singular sabedoria para reger processos e adequadamente participar da vida em sociedade. Por isso mesmo, para além das estatísticas de pertencimentos a segmentos confessionais – ou de distanciamento deles –, o cultivo da transcendência é uma demanda a ser cuidada, pela espiritualidade, por um novo estilo de vida, pela consideração e respeito à nobreza própria da natureza, com suas expressões singulares e cheias de lições sobre generosidade.


Buscar apenas a realização profissional, a contemplação de ambições, o sucesso financeiro ou o bem-estar é contribuir para que uma sociedade rica de avanços científicos e tecnológicos se torne, cada vez mais, empobrecida humanamente. Significa consolidar uma realidade marcada pelas barbáries, um tempo em que os filhos não alcançam a grandeza de seus pais, de gente que desperdiça os próprios talentos e não ajuda a construir um humanismo integral. Uma realidade em que as pessoas se enjaulam nas próprias casas na tentativa de evitar as hostilidades e as agressividades que oferecem riscos a todos. Cultivar a transcendência é caminho para mudar esse contexto, pois permite ao ser humano livrar-se do que o aprisiona, encontrar a liberdade a partir do amor cuja fonte única e inesgotável é Deus, semeador da comunhão que pode alicerçar a experiência autêntica do viver humano.


O viver humano sem o cultivo da transcendência reduz-se a uma simples sucessão de dias, emoldurada pelos espetáculos divertidos e prazerosos, mas que são passageiros. Uma existência distante daquilo que deixa a alma repleta do sentido da vida e faz, de cada pessoa, instrumento para edificar um tempo novo. São muitos os caminhos para cultivar a transcendência e beber a água cristalina que vem da fonte do amor. Contam muito o silêncio e a contemplação, independentemente da orientação ou dinâmica de espiritualidade. É preciso permanecer quieto na presença de Deus, revelado em Jesus Cristo, atento a Ele, em um ato de coragem e humildade. Renunciar a esta prática é promover o próprio fracasso. Cultivar a transcendência significa procurar e encontrar o caminho do amor, sem o qual o ser humano não consegue alcançar suas potencialidades. A vida ganha sentido, são vencidas a mesquinhez, a ganância e a indiferença trilhando-se um caminho que tem incontestável ponto de partida e de chegada: o cultivo da transcendência.

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