Ordem mundial em momento de tensão
Após o fracasso na resolução do conflito entre Ucrânia e Rússia, é improvável que tratativas no âmbito da ONU tragam algum resultado para uma guerra no Oriente
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Siga noO conflito entre Israel e Irã complicou ainda mais a ordem internacional, com reflexos políticos e econômicos imprevisíveis. A escalada de hostilidades atingiu nível tão alto que se viu refletida na reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, realizada na última sexta-feira. No encontro, encerrado sem nenhuma sinalização de acordo, o representante do governo dos Estados Unidos, McCoy Pitt, advertiu o Irã da temeridade de lançar um contra-ataque às bases norte-americanas. Por sua vez, o enviado do Irã ao Conselho de Segurança, Amir Saeid Iravani, afirmou que o ataque de Israel é uma “declaração de guerra” e que os Estados Unidos são cúmplices.
As novas tensões no Oriente Médio têm relação direta com os episódios de 7 de outubro de 2023, quando milícias do Hamas, um dos grupos apoiados pelo regime iraniano, deflagraram ataques terroristas contra civis israelenses. Mais de 1,2 mil pessoas morreram na ofensiva. Desde então, o governo de Benjamin Netanyahu iniciou uma guerra permanente aos seus inimigos. Começou pela reação violenta em Gaza, a ponto de muitos, como o presidente Lula, a considerarem um genocídio contra o povo palestino. Seguiu-se com ataques ao Hezbollah, no Líbano, a fim de neutralizar outro grupo apoiado pelo Irã. E ganhou novo capítulo na última quinta-feira, quando Tel-Aviv atacou diretamente bases nucleares iranianas.
Há décadas as tensões no Oriente Médio têm desafiado a comunidade internacional. Além das Nações Unidas e das potências europeias, os Estados Unidos têm atuado ao longo dos anos para manter um equilíbrio na região. O atual momento, entretanto, se mostra delicado em razão das circunstâncias, por três razões.
Em primeiro lugar, a intempestividade do presidente Donald Trump é um fator de instabilidade, na medida em que não oferece garantia de avanços diplomáticos. Como de praxe, os Estados Unidos mantêm a aliança histórica com Israel. Mas buscam um acordo nuclear com o Irã, a essa altura com chances remotas de sucesso. Não seria surpresa se Donald Trump, assim como fez na guerra entre Rússia e Ucrânia, deixasse o conflito prosseguir, sem medidas efetivas para interromper a carnificina.
O segundo ponto desfavorável são as intenções nucleares do Irã. Por reiteradas vezes o regime dos aiatolás se nega a dar transparência ao seu programa nuclear, negando o acesso à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A morte de comandantes militares e de cientistas nucleares provocadas pelos ataques israelenses impôs sérias perdas ao programa nuclear comandado por Ali Khamenei. Mas despertou um sentimento de vingança, que já começou a dar sinais com ataques retaliativos a Tel-Aviv na sexta-feira.
Um terceiro fator preocupante é a fragilidade do sistema multilateral. Após o fracasso na resolução do conflito entre Ucrânia e Rússia, em curso há mais de três anos, é improvável que tratativas no âmbito da ONU tragam algum resultado para uma guerra no Oriente Médio. Afinal, o confronto envolve países com poderio nuclear em uma região estratégica para a produção de petróleo, com efeitos econômicos de potencial devastador.
O mundo entra em uma curva perigosa. É dever das nações impedir que a tensão no Oriente Médio caminhe para o conflito aberto e incontrolável.