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Horizonte da Igreja

Mais que o medo de falhar, a comunidade eclesial deve dedicar atenção ao risco de encerrar-se nas estruturas que dão falsa proteção

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A Igreja Católica tem sempre um horizonte amplo e luminoso para nortear o seu caminho: o Evangelho de Jesus Cristo, seu mestre e senhor. O Evangelho desdobra-se em ensinamentos e doutrinas que fecundam a conduta dos discípulos e discípulas de Jesus, em lugares e culturas diferentes, com incidência na vida daqueles que se encontram com Cristo. Os parâmetros e os princípios do Evangelho se expressam, justamente, nas aptidões e carismas dos discípulos do Mestre, por meio de uma alegria que permanentemente se renova – importante força para curar o mundo de um grande mal: uma tristeza profunda, que se busca remediar, equivocadamente, por meio do consumo e da hegemonia do dinheiro. Consequentemente, a vida se fecha nos limites dos interesses egoístas, com a perda do entusiasmo para se fazer o bem. Os pobres tornam-se, cada vez mais, vítimas de indiferenças e se desconsidera o compromisso de se promover vida digna para todos. Neste contexto, a tarefa missionária da Igreja é especialmente essencial: promover o encontro pessoal com Jesus Cristo, caminho para se efetivar uma vida nova, cultivando a profética audácia de se investir na solidariedade e na fraternidade universal.


A alegria do Evangelho é fonte inesgotável de esperança. E o encontro com Jesus é o caminho para essa fonte. Por isso mesmo, é preciso multiplicar, em cada coração, a abertura para se aproximar de Jesus. A Igreja tem a tarefa primordial de promover o encontro de todos com o Mestre, ninguém pode se sentir excluído. A cada pessoa se deve proporcionar a experiência e o sabor da misericórdia de Deus, sem discriminações ou preconceitos. Neste horizonte, reconheça-se que o cristão tem identidade pascal, isto é, modela-se pela alegria de poder seguir Jesus. Uma alegria diferente, muito diferente daquela gestada pela técnica, de vários modos e com força de sedução, de atratividade. A alegria irradiada do Evangelho converte-se em força espiritual com capacidade de sustentar as muitas labutas da vida. Genuinamente revela-se na alegria que brota no coração dos pobres. Uma alegria tão intensa que transborda – quem a experimenta busca partilhá-la com o semelhante, assume o compromisso de testemunhar a verdade e passa a priorizar o bem de cada irmão e irmã.


No horizonte amplo e luminoso do Evangelho, compreende-se que a vida vivida na doação se fortalece. Um antídoto ao comodismo, ao isolamento e à maledicência. E quem integra a Igreja deve partilhar o compromisso evangelizador – anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo para proporcionar, a todos, a alegria que vem da fé. Trata-se do primeiro compromisso da Igreja: renovar o frescor do Evangelho de Jesus Cristo por um anúncio com força de atração e de convencimento. Esse anúncio não é tarefa individual, mas vivido na comunidade de fé, sobre os pilares da comunhão e da participação, fontes perenes para o vigor missionário. Um chamado à nova evangelização para uma autêntica e frutuosa transmissão da fé. A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração, isto é, pela força da autenticidade do testemunho de seus evangelizadores, por uma conduta exemplar, capaz de conquistar autoridade moral e espiritual. No mundo contemporâneo permanece o desafio de ser uma “Igreja em saída”, o que vai além da eficiência organizacional. “Igreja em saída” é a Igreja cada vez mais próxima de todos, para acompanhar, ajudar a frutificar e a celebrar a existência de cada um. É especialmente dever da Igreja testemunhar a misericórdia que acolhe, cura e reconcilia, reconhecendo que o próximo é o mais importante.


Ser comunidade missionária significa ir ao encontro do semelhante, encurtando distâncias, abaixando-se, até a humilhação se for necessário, para buscar curar a carne sofredora do povo. Significa cuidar do “trigo” e não perder a paz em razão do “joio”. Há, pois, uma constante necessidade de conversão eclesial, o que exige cultivar abertura para uma permanente reforma, para não se correr o risco de emperrar, viver retrocessos. A Igreja é permanentemente peregrina, condição que a convoca a rever sempre funcionamentos e estruturas. Por isso mesmo, a comunidade eclesial aceita o desafio de uma renovação permanente e inadiável, não permitindo caducidades distantes da autenticidade do Evangelho. Não se pode privilegiar caricaturas e disputas pelo poder, emolduradas por mentiras e fofocas. A renovação da Igreja está encarnada em limitações humanas que podem ser vencidas voltando-se ao núcleo do Evangelho de Jesus, superando a alimentação de moralismos e da rigidez que são obras demoníacas.


O Evangelho ensina a misericórdia e a paciência, a priorizar o bem de cada pessoa. Assim, a Igreja é mãe de coração aberto, portas abertas a todos, sem triunfalismos ou discriminações. Dignos de privilégios são os pobres, os doentes, os desprezados e os esquecidos, respeitando o indissolúvel vínculo entre a fé cristã e o compromisso com os que sofrem. Conhece-se a recomendação que deve continuar a ecoar e a definir a conduta eclesial: é preferível uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas a uma Igreja enferma pelo fechamento, na comodidade de agarrar-se às seguranças. Também não se deve ser Igreja emaranhada nas obsessões, nos procedimentos. Mais que o medo de falhar, a comunidade eclesial deve dedicar atenção ao risco de encerrar-se nas estruturas que dão falsa proteção. O desafio é reavivar sempre a dimensão missionária, derrubando muros, construindo pontes.


A Igreja é humilde detentora de um arcabouço moral e relacional que lhe possibilita intermediar conflitos, defender os pobres e ser voz profética promotora da paz. Não se pode fugir do compromisso inadiável de renovação eclesial, criando condições efetivas para evangelizar no mundo contemporâneo. Resta seguir em frente a partir do coração do Evangelho – o horizonte sempre novo e interpelante da Igreja, compromisso inadiável e insubstituível de todos os cristãos, sinal incontestável de fidelidade às lições do Mestre.

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