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editorial

O racismo que nem o media training resolve

A pergunta feita pela imprensa veio justamente num cenário de especulação sobre a não participação de clubes brasileiros nas competições da Conmebol

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Na área da assessoria de comunicação, o termo em inglês “media training” é um dos conceitos fundamentais da profissão. Trata-se do conjunto de técnicas que um profissional da área usa para treinar porta-vozes, com objetivo de que aquela figura pública se comporte bem diante dos microfones da imprensa. O serviço tem uma ampla gama de clientes, desde políticos até executivos, esportistas e artistas.


No caso da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), no entanto, não há treinamento que resolva o escancarado racismo manifestado pelo seu presidente, o paraguaio Alejandro Domínguez. Logo após o sorteio da Libertadores e da Copa Sul-Americana, realizado na segunda-feira, o cartola usou a seguinte analogia para descrever como seriam as principais competições continentais sem a participação dos clubes brasileiros: "seria como o Tarzan sem a Chita".


Os mais velhos vão se lembrar que o clássico personagem das selvas africanas, Tarzan, era sempre acompanhado de sua fiel escudeira, a primata Chita, em uma jornada com claro viés imperialista. O que importa neste caso em específico, no entanto, é a fala com clara conotação racista, sobretudo diante da sequência de casos de preconceito do tipo contra torcedores e jogadores brasileiros nas competições da Conmebol nos últimos anos.


Como bem disse a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, se o próprio representante máximo da Conmebol profere ofensas racistas nos microfones da imprensa, como a mesma entidade pode combater o preconceito racial que circunda suas competições? Tratam-se de casos como o do jovem Luighi, que, em meio às lágrimas, protestou contra gestos de macaco dirigidos a ele em uma partida da edição Sub-20 da Libertadores. O episódio rodou o mundo nas últimas semanas.


Antes de a “bola rolar” no sorteio da Libertadores na última segunda, o mesmo Alejandro Domínguez, como havia indicado o media training, subiu ao palco para discursar contra o racismo. Ressaltou a prioridade dada pela Conmebol ao combate do preconceito racial no futebol sul-americano e garantiu uma resposta dura contra os criminosos.


Fora do roteiro traçado por sua equipe de comunicação, porém, se enrolou ao comparar o futebol brasileiro à Chita – ainda que o animal fosse um chimpanzé, sempre interpretou uma macaca nos cinemas. A presunção de inocência, neste caso, não merece espaço. Até porque, a pergunta feita pela imprensa veio justamente num cenário de especulação sobre a não participação de clubes brasileiros nas competições da Conmebol, pela sequência de atos racistas sofridos nos últimos anos.


Logo após a repercussão negativa, Domínguez publicou uma nota se desculpando pela fala. “A expressão que utilizei é uma frase popular e jamais tive a intenção de menosprezar nem desqualificar ninguém”, escreveu.


Neste momento, cabe a união dos clubes brasileiros diante de tamanha ofensa – algo raríssimo no ambiente quase bélico que circunda o futebol. Notas de repúdio pouco representam em situações como essa, ainda mais após o chocante racismo contra o palmeirense Luighi. É preciso cobrar uma resposta prática da Conmebol à atuação do seu presidente e, mais do que isso, punição pesada para os clubes que cometem tal crime, a partir de suas torcidas ou jogadores e comissões técnicas. 

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