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editorial

A emergência climática traduzida em números

O período 2020/23 concentra 35% do total de pessoas afetadas por desastres hidrológicos no país em mais de três décadas, desde 1991

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Em um momento crítico para o futuro do clima, do planeta e por extensão da espécie humana, enquanto o líder da maior economia do mundo dá repetidos sinais de negacionismo em relação às mudanças climáticas, um estudo da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) traduz em indicadores assustadores o potencial do problema, ao estimar o alcance dos danos para o Brasil, seus estados e habitantes.


Segundo o trabalho da Gerência de Economia e Finanças Empresariais, eventos climáticos extremos, como temporais, chuvas torrenciais, secas prolongadas e ondas de calor, provocaram, apenas entre os anos de 2020 e 2023, prejuízos estimados em R$ 45,9 bilhões para o país. Para efeito de comparação, é como se todo o orçamento de um ano da segunda maior capital brasileira, o Rio de Janeiro, fosse tragado em inundações ou evaporasse em meio a estiagens sufocantes.


O estudo aponta, além de danos à infraestrutura, ao mercado de trabalho e a comunidades, impactos expressivo sobre setores específicos da economia, com destaque para a agropecuária – o mais sensível aos efeitos do clima –, com perdas de R$ 24,4 bilhões no período, mas abrangendo também os ramos de serviços, com prejuízo estimado em R$ 19,3 bilhões, e a indústria, com R$ 2,2 bilhões em danos diretos. Não é preciso muito esforço para perceber que o impacto de tudo isso recai sobre preços, refletindo-se no custo de vida para cada cidadão.


O ritmo de crescimento dos eventos classificados no estudo como desastres hidrológicos não deixa dúvida sobre a progressão fora da curva registrada nos últimos anos. Segundo o levantamento, a taxa média de aumento desses episódios foi de 36% entre 2020 e 2023. No período de quatro anos, a soma dos quadros de chuvas torrenciais, alagamentos e inundações contabilizados correspondeu a quase 30% do total registrado em mais de três décadas, desde 1991.


Lado mais dramático desses eventos, os impactos humanos, que não podem ser mensurados apenas em valores financeiros, se revelam em números ainda mais preocupantes. O período 2020/23 concentra 35% do total de pessoas afetadas por desastres hidrológicos no país desde 1991, segundo o trabalho.
Em quatro anos, foram 32 milhões de brasileiros atingidos por esses fenômenos, com 994 mortos – média de quase 250 ao ano. Número que pode ser ainda mais assustador, tendo em conta que o trabalho considera um total de 782 desaparecidos no período, além de 150 mil feridos ou adoecidos e de 2,28 milhões de pessoas expulsas de suas casas, entre desalojados e desabrigados que viviam em 564 mil moradias afetadas.


Os dados seguem empilhando consequências devastadoras para a infraestrutura e a economia do país no intervalo avaliado: foram 232 mil instituições de saúde afetadas por fenômenos climáticos extremos, além de 5,6 mil instituições de ensino e 19 mil obras públicas. O impacto, apenas nesses casos, é estimado em R$ 16 bilhões – quase o tamanho do orçamento da cidade de Belo Horizonte em 2023.
É importante lembrar que o período avaliado – embora com dados alarmantes – não considera os números da tragédia provocada pelas chuvas no Rio Grande do Sul, em meados do ano passado, que arrasou Porto Alegre e entrou para a lista das piores catástrofes climáticas da história do país.


São fatos que não deixam dúvida sobre o quadro de emergência climática enfrentado em todo o mundo, e da urgência de medidas – não só de mitigação e adaptação, mas estruturais, que ajudem a estancar a elevação das temperaturas e seus efeitos. Os países terão mais uma chance para ao menos se aproximar disso neste ano, durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), no Brasil. Mas os sinais emitidos por alguns de seus principais representantes – Estados Unidos à frente – não são nada animadores para o futuro do planeta.

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