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editorial

Correção de rotas

Lula costurava uma agenda capaz de satisfazer a base e os opositores para conseguir governabilidade, hoje a eficácia desse tipo de ação se tornou mais incerta

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A crise do Pix, ampliada por um vídeo viral do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), escancarou o já conhecido problema de comunicação do governo Lula 3. Houve muito atraso da gestão para reconhecer que a eventual taxação do serviço bancário estava na boca do povo – e causava danos importantes na já abalada aprovação da administração petista.


O resultado foi escancarado pela mais recente pesquisa Quaest, instituto referência no mapeamento dos efeitos das redes sociais na vida real do cidadão. Pela primeira vez desde que voltou ao poder, o governo Lula apareceu com um índice de desaprovação maior do que o de aprovação: 49% a 47%.


Que a esquerda brasileira tem dificuldades para estabelecer uma comunicação direta com a população não é segredo pra ninguém. A crise do Pix e a falta de um planejamento para controlá-la só serviram como ilustração. Apenas um gostinho do tamanho do abacaxi a ser descascado por Sidônio Palmeira, o novo ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência.


No entanto, os índices decrescentes de popularidade mostram que há também uma crise de identidade no governo, que tenta resolvê-la centralizando a divulgação da imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como se o chefe do Executivo conseguisse, como ocorreu nos dois primeiros mandatos, aglutinar forças antagônicas a partir de sua habilidade discursiva, carisma e experiência política.


Na segunda metade da sua terceira passagem pelo Planalto, Lula e, principalmente, seu alto escalão terão de centrar forças na recuperação do poder de compra dos alimentos, a principal fonte de insatisfação de quem vai ao supermercado toda semana. O desgaste, portanto, não é apenas de imagem. Mas de ações. Basta lembrar o episódio da taxação das importações do e-commerce, de efeito desastroso para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.


É preciso atentar para as mudanças pelas quais o Brasil passou nos últimos 20 anos. Este não é o mesmo país do primeiro governo de Lula, quando a importante ascensão econômica era suficiente para construir uma gestão de coalizão, agradando a gregos e troianos.


Temos, hoje, uma nação muito mais dividida, com uma fatia, em especial, sedenta por poder. Se em seus primeiros mandatos Lula pôde contar com apoio de setores críticos à sua política desenvolvimentista, como o agronegócio, não se pode contar com tal suporte em 2025.


Esse reflexo pode ser facilmente percebido no Congresso. Se antes, por sua habilidade política e experiência, Lula costurava uma agenda capaz de satisfazer a base e os opositores para conseguir governabilidade, hoje esse tipo de ação é quase impossível de ter êxito. O que mais se percebe nos corredores do Legislativo é um grupo numeroso de parlamentares dispostos a gastar dinheiro público e, mesmo sem a caneta nas mãos, deixar a conta para o Executivo. Essa ampliação do poder com o aumento de recursos disponíveis para emendas, pela falta de transparência, também passa pelos conflitos com o STF e até pela tentativa de pautar a anistia dos condenados pelos atos tresloucados de 8 de janeiro.


Quando as diferenças ideológicas se impõem de maneira categórica, o governo passa a ter o desafio de buscar a reaproximação com a sua base eleitoral. Além, claro, de realizar uma completa reflexão acerca da eficácia, ou melhor, ineficácia de sua comunicação.


À direita, mesmo com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fora do jogo por sua inelegibilidade, há movimentos claros para dar palco a novos atores. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), parece o favorito do momento. Mas, em Minas, Romeu Zema (Novo) tenta nacionalizar seu nome a cada post nas redes sociais. O mesmo pode ser dito sobre Ratinho Júnior (PSD) no Paraná e Ronaldo Caiado (União Brasil), em Goiás.


Quem sabe o clima amistoso observado no primeiro encontro de Lula com os novos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, além da alteração na Secom e outras que ainda podem ocorrer na Esplanada dos Ministérios contribuam para o governo federal corrigir algumas rotas para reduzir, paulatinamente, a insatisfação de milhares de brasileiros, decepcionados com o desempenho do presidente e de sua equipe. Assim, quem ganha é o Brasil.

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