Os adolescentes brasileiros não estão somente ansiosos. A ansiedade está levando os jovens aos hospitais. Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou um levantamento em que mostra um crescimento de 136%, nos últimos 10 anos (2013-2023), de internações por ansiedade e estresse envolvendo essa parcela da população.


O Brasil foi considerado, no ano passado, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o país com o maior número de pessoas ansiosas do mundo – um contingente de 9,3% de brasileiros. É de se esperar que esse fenômeno se estenderia também aos mais novos. No entanto, as hospitalizações preocupam os especialistas, já que essa medida é vista como extrema, ou seja, nos casos em que outras opções de tratamento não surtiram efeito. Somente no ano passado, foram registradas mais de 1,6 mil internações de pessoas com idades entre 13 e 29 anos.


Esse aumento se traduz em um alerta para a emergência de políticas públicas voltadas à promoção da saúde mental entre jovens e adolescentes, além de um suporte mais acessível e eficaz para as famílias que enfrentam o problema diariamente, dentro de suas casas.


Especialistas atribuem essas estatísticas a uma série de fatores, entre outros aspectos. Mas quase todos chamam atenção para o crescimento do transtorno devido ao papel cada vez maior do uso de telas e, consequentemente, ao maior uso das redes sociais. O psicólogo social Jonathan Haidt, autor de "A geração ansiosa - um guia para se manter em atividade em um mundo invisível", faz severas críticas aos smartphones e ao que ele chama de “colapso da saúde mental dos jovens", apontando as altas taxas depressão, ansiedade, automutilação e suicídio que definem os tempos atuais.


Privação do sono, fragmentação da atenção com a nova onda de diagnósticos de transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), solidão, dependência, comparação social e perfeccionismo são alguns dos transtornos que levam essa geração a quadros de ansiedade e a hospitalizações, sendo que essas últimas demonstram a inoperância de pais, professores, profissionais de saúde, da sociedade como um todo, no sentido de intervir precocemente de forma a evitar que esses distúrbios sejam tratados apenas no fim da linha, ou seja, nos hospitais.


Mudanças de comportamento, irritabilidade, isolamento social, queda no rendimento escolar. Enfim, os sinais precisam ser notados de alguma maneira. Quanto mais cedo esses aspectos forem identificados e enfrentados, é cada vez menor a chance de evolução para um quadro mental que necessite de internação.


É fundamental, também, que, diante da alta hospitalar, esse jovem tenha uma rede de apoio criteriosa, já que a internação muitas vezes é apenas o primeiro passo para um atendimento contínuo, seja por profissionais especializados ou pela própria família e amigos – suporte psicológico, acompanhamento médico e um programa de atividades que faça com que esse jovem lide melhor com os picos de ansiedade. Mais uma vez, evitar debater sobre o problema não faz com que ele desapareça.