Maioria dos brasileiros apoia operação que deixou mais de 100 mortos no Rio
Levantamento mostra que 55,2% da população aprova a ação das forças de segurança e que, nas favelas cariocas, o apoio chega a 88%
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Apesar das cenas de violência extrema, a maioria da população brasileira e, de forma ainda mais expressiva, os próprios cariocas, avaliam positivamente a ação policial que deixou mais de 100 mortos no Rio de Janeiro. É o que mostra um levantamento do Instituto AtlasIntel divulgado nesta sexta-feira (31/10).
Os dados, obtidos por meio de 1.089 entrevistas em todo o país e 1.527 no Rio, mostram que 55,2% dos brasileiros aprovam a operação no Complexo do Alemão e no Complexo da Penha, enquanto 42,3% desaprovam. Entre os moradores da capital fluminense, os números sobem para 62,2% de aprovação e 34,2% de rejeição.
A atuação do governo fluminense, considerada a mais letal da história, se mostra mais popular entre os homens (68,9%), a população de baixa renda e os moradores de favelas. O apoio também é quase unânime entre os eleitores que votaram em Jair Bolsonaro nas últimas eleições (99,8%), grupo que tende a apoiar políticas de segurança mais duras. Já entre eleitores de Lula, a reprovação à ação é mais expressiva (78,6%).
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A operação, que mobilizou 2,5 mil agentes das polícias Civil e Militar, reacendeu o debate sobre o uso desproporcional da força policial e a política de segurança no Rio. A cena mais simbólica do dia, com corpos sendo carregados por parentes em carroças e dispostos em uma praça da Penha, gerou indignação dentro e fora do país. O objetivo da ação, segundo o Executivo estadual, foi conter a expansão territorial da facção criminosa Comando Vermelho, além de cumprir 100 mandados de prisão.
Entre os moradores de favelas, o apoio à operação é ainda mais alto: 81% em todo o país e 88% nas comunidades do Rio. A explicação pode estar nos números que traduzem o medo da população. Mais da metade dos cariocas (58%) disseram ter testemunhado algum crime nos últimos três meses, mais do que o dobro da média nacional, de 26%. O dado é ainda mais consistente entre moradores de favelas: 65% afirmaram ter presenciado um ato criminoso no mesmo período.
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Esse sentimento de vulnerabilidade ajuda a compreender por que 62% dos cariocas e 56% dos brasileiros defendem novas operações semelhantes. Para a maioria, o nível de violência empregado foi “adequado”, percepção compartilhada por 53% dos brasileiros e 62% dos moradores do Rio.
O contraste entre a rotina de medo e o apoio à força letal aparece também em outro dado: 81% dos cariocas afirmam sentir medo de sair de casa por causa da violência, contra 43% no restante do país.
Outro dado relevante é o da percepção política sobre a ofensiva: 60% dos brasileiros e 46% dos cariocas acreditam que a operação teve motivação política, e não apenas foco na segurança pública. O governador Cláudio Castro (PL) elogiou o resultado, chamando o episódio de “o maior baque que o Comando Vermelho levou”, e defendeu que os mortos eram criminosos. O governo federal, por outro lado, reagiu com desconforto. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, disse que o presidente Lula ficou “estarrecido” com o número de mortes.
O cruzamento entre os dados da AtlasIntel mostra uma sociedade dividida entre a crença na força e o temor do abuso. Para 70% dos cariocas, a criminalidade na cidade é “muito alta”, contra apenas 10% dos brasileiros que classificam da mesma forma a realidade de suas cidades.
Mesmo o saldo trágico da operação é interpretado de formas distintas. A maioria dos brasileiros considera que as 117 pessoas mortas eram criminosas, mas 37% avaliam que elas são, ao mesmo tempo, criminosos e vítimas. Entre os cariocas, essa percepção cai para 27%. E nas favelas, o sentimento predominante diante das imagens é o de “justiça sendo feita” (40%) e “defesa da sociedade” (29%), enquanto entre os demais brasileiros prevalece a sensação de “tristeza, caos e abandono do Estado” (28%).
A pesquisa também investigou a reação ao minuto de silêncio pedido pelo deputado Guilherme Boulos em homenagem “a todas as vítimas” da operação. A maioria dos entrevistados considerou o gesto “inapropriado”, posição compartilhada por mais de 70% dos moradores de favelas.
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Mesmo diante da alta letalidade da ação policial, ruas tomadas por blindados e do caos que paralisou a cidade, a pressão popular segue no sentido de endurecer o combate ao crime. Mais de 60% dos brasileiros e quase 70% dos cariocas defendem que o governo federal envie veículos blindados para apoiar ações do estado.