Defesa de pai que agrediu professor no DF alega "surto momentâneo"
No documento, o advogado alega que a adolescente possui deficiência visual e teria utilizado o celular como ferramenta de acessibilidade. Professor reagiu ao posicionamento; para ele, a tragédia individual é sintoma de um abandono coletivo
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A defesa de Thiago Lênin Sousa Silva Batista, o pai que agrediu fisicamente um professor dentro da sala da coordenação de uma escola pública do Guará, no Distrito Federal, nessa segunda-feira (20/10), divulgou uma nota oficial na qual contesta a narrativa que tem sido veiculada sobre o caso. Enquanto o Registro de Ocorrência da Polícia Militar descreve um ataque explosivo e injustificado, o advogado aponta que a reação violenta do cliente foi um "surto momentâneo" em defesa da filha, a quem classifica como a "verdadeira vítima" do episódio.
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O caso, que chamou a atenção da comunidade escolar e ganhou as redes sociais, teve início quando o professor repreendeu uma aluna do 1º ano do ensino médio pelo uso do celular em sala de aula. Insatisfeita, a estudante teria contatado o pai via mensagem, alegando ter sido xingada pelo educador. Thiago Lênin dirigiu-se à escola e, após uma primeira conversa com a direção, teria avistado o professor e partiu para cima dele, desferindo socos e chutes. O episódio só foi interrompido quando a própria filha do agressor o imobilizou com uma técnica de "mata-leão".
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Justificativa da defesa
Em nota, a defesa reconhece que a atitude do cliente é "reprovável e inaceitável". "Sem dúvida alguma a atitude do meu cliente é reprovável e inaceitável, contudo, jamais pode ser criminalizado como estar sendo", afirma o texto. O advogado declara que Thiago Lênin "se arrepende das agressões", mas contextualiza a ação como um ato impulsivo de um pai protetor. "Sem dúvida alguma foi um surto momentâneo de um pai que só queria proteger sua filha, que é a verdadeira vítima no ocorrido", sustenta a defesa.
O documento também introduz novos elementos para contestar a versão inicial do professor. Alega que a adolescente possui deficiência visual e estava sem seus óculos no dia do ocorrido, utilizando o celular como ferramenta de acessibilidade para "copiar a matéria na lousa" – uma prática que, segundo a defesa, era comum em outras aulas sem gerar conflitos.
O cerne da argumentação, no entanto, está na acusação de conduta inadequada do educador. A defesa aponta que o professor teria "proferido palavras de baixo calão dentro da sala de aula que não posso usa-las aqui por não ser conveniente". Esses supostos xingamentos teriam humilhado a estudante de tal forma que causaram uma revolta generalizada na turma.
"Os alunos comovidos da forma humilhante, grosseira e desrespeitosa em que a colega fora tratada pelo 'professor', se revoltaram contra o mesmo e começou uma discussão generalizada na sala de aula até que vários alunos ligaram para o meu cliente informando o que estava acontecendo", relata a nota.
Reação do professor
Em resposta às acusações, o professor rebateu com um relato que vai além do caso específico. O primeiro ponto apontado por ele foi sobre ser chamado de "professor" entre aspas pela defesa. "Após 25 anos ensinando em uma escola pública no Brasil, 'sobrevivente' seria uma palavra mais adequada a ser usada quando a população se refere a nós, professores".
O educador também destacou os desafios diários da profissão. "Poucos têm ideia do que seja lidar diariamente com adolescentes, cujos interesses, muitas vezes, estão absolutamente distantes de qualquer conteúdo ou orientação que uma escola possa oferecer", afirmou. Ele argumentou que parte dos alunos "tratam seus professores como subalternos, inapropriados, inconvenientes, verdadeiros empecilhos", e que "aceitar um NÃO como resposta é inadmissível" para muitos.
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Em sua fala, o docente direciona as críticas para uma esfera mais ampla, culpabilizando a sociedade e o poder público pela degradação do ambiente escolar. "A sociedade e o Poder Público pouco se interessam pelo que acontece nas escolas brasileiras, que só ganham visibilidade quando ocorre o que aconteceu comigo", desabafou. Para ele, a tragédia individual é sintoma de um abandono coletivo. "Quando vem a tragédia, muitos correm para apontar o dedo para os culpados. Quem sabe a culpa é do 'professor', entre aspas?", questionou.