Homem que matou policial militar esteve no local do crime horas antes
Jefferson Anísio da Silva é o principal suspeito de assassinar o cabo Vinícius de Castro Lima em uma concessionária, na última terça-feira (21/10)
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O principal suspeito de matar o cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Vinícius de Castro Lima, na última terça-feira (21/10), esteve na concessionária horas antes do crime. Jefferson Anísio da Silva, de 27 anos, teria entrado no estabelecimento e se passado por um cliente, alegando intenção de adquirir um veículo. No entanto, voltou após o almoço e abordou os funcionários anunciando o assalto. Tais informações foram reveladas nesta quinta-feira (23/10), durante a audiência de custódia do homem, pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
“Após observar a movimentação e rotina do estabelecimento, retornou com o segundo suspeito em uma moto furtada. O autuado, então, retorna para o estabelecimento e o comparsa permanece na motocicleta”, afirmou a promotora.
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Diante dessas alegações, o juiz Leonardo Vieira Rocha Damasceno, da Central de Audiência de Custódia de Belo Horizonte, concluiu que Jefferson agiu com gravidade concreta dos fatos e periculosidade social. Consequentemente, o magistrado determinou a prisão preventiva do suspeito.
Durante audiência, que também decidiu a transferência do homem, que estava foragido da Justiça, para o presídio de segurança máxima em Francisco Sá, na Região Norte do estado, o magistrado argumentou que Jefferson agiu com “fúria homicida”.
O suspeito foi preso horas após o crime, na BR-381, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ele estava em um carro Fiat Idea vermelho e não resistiu à abordagem dos militares. Com ele foi encontrado uma pistola .9 milímetros, do mesmo calibre usado para matar o policial, e o documento da moto usada na fuga do local do crime.
Ao ser questionado, ele confessou que estava no local do crime, mas negou que seria o autor dos disparos que atingiram e mataram o cabo, alegando que seria o motorista de fuga. Apesar disso, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) o apontou como o responsável pela execução.
Na gravação da audiência de custódia, à qual o Estado de Minas teve acesso, é possível ver que Jefferson ficou de cabeça baixa e só falou ao ser questionado se sofreu alguma represália no momento da prisão em flagrante. Segundo seu depoimento, ele foi ferido na perna.
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Em sua argumentação, o juiz que determinou o agravo da prisão afirmou que o suspeito possui quatro condenações definitivas por roubo majorado, uma por corrupção de menores, outra por uso de documento falso e uma por homicídio qualificado. Além disso, o magistrado apontou que Jefferson possui outras condenações, que cabem recurso, por homicídio e roubo.
“A vítima estava de férias e sofreu nada mais nada menos do que nove disparos de arma de fogo, de uma pistola 9 milímetros, que, como todos sabemos, é uma pistola de uso restrito das forças de segurança, mais de 500 joules de energia na boca do cano, uma pistola de grande poder de transfixação [...] o que denota, nessas circunstâncias dessa execução, realmente uma fúria homicida por parte do autuado no resultado morte da vítima”, afirmou o juiz Leonardo Vieira Rocha Damasceno.
Como foi o crime
O crime aconteceu na terça-feira (21/10), por volta das 13h, em frente à concessionária JK Veículos, localizada na Avenida Nélio Cerqueira, no Bairro Tirol. Vinícius chegava de carro com dois amigos, sendo um deles proprietário do local. Ao estacionarem, os dois homens entraram na loja e foram surpreendidos por dois homens armados que anunciaram o assalto.
Os amigos, conforme informações repassadas pela polícia, ao perceberem a ameaça, conseguiram correr para a entrada do galpão e alertaram o militar, que estava no primeiro dia de férias. De acordo com a chefe do Centro de Jornalismo da PMMG, major Layla Brunella, o cabo tentou entrar no local para impedir a ação dos homens, mas foi atingido.
Vinícius foi alvejado com nove disparos de arma de fogo: cinco na cabeça, dois no ombro esquerdo e um em cada perna. Ainda segundo a major, até o momento não é possível confirmar se o policial conseguiu realizar disparos. Ela afirmou que há possibilidade do colega ter sido alvejado com a própria arma de fogo, uma vez que a pistola .9 milímetros não estava no local do crime. "Também há possibilidade de ter sido usada por ele ou contra ele. Sabemos que houve uma malícia maior, uma intenção desses autores na execução do policial militar".
Os dois suspeitos fugiram em uma moto vermelha. Imagens de segurança revelaram que ambos estavam de capacete e o garupa carregava um revólver. A câmera marcava 13h10 quando a fuga foi iniciada. Logo após o crime, a PMMG divulgou uma nota de pesar assinada pelo comandante-geral da corporação, coronel Carlos Frederico Otoni Garcia.
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“Neste momento de dor, a PMMG manifesta sua mais sincera solidariedade aos familiares, amigos e companheiros de farda. Que o exemplo de dedicação e bravura do Cabo Castro permaneça como legado de honra e serviço à população”, diz trecho da nota.
Segundo suspeito
Na tarde de quarta-feira (22/10), durante o velório de Vinícius, o segundo suspeito de participar do crime, identificado como Rogério Lopes Pimenta Júnior, foi encontrado em uma casa no Bairro Tropical, em Contagem. Conforme a chefe do Centro de Jornalismo da PM, ao perceber a aproximação do Grupo Especializado de Redescobrimento (GER), o homem disparou contra os militares e foi atingido. Ele chegou a ser socorrido, deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Petrovale, em Betim, e morreu no local.
“O segundo suspeito se envolveu, em janeiro deste ano, em uma ocorrência com o GER, em uma abordagem por suspeita de tráfico de drogas. Ele disparou contra a equipe, foi baleado e socorrido; em seguida, foi preso. Mas já estava solto”, disse a major à reportagem.
Com o homem localizado em Contagem, os policiais também encontraram uma pistola .9mm. Até o momento, não há confirmação se algum dos armamentos apreendidos com os dois suspeitos é a arma particular do cabo. As informações só serão repassadas após a conclusão do inquérito criminal pela Polícia Civil.
‘Crime contra o estado’
Durante o velório do cabo Vinícius, à imprensa, a chefe do Centro de Jornalismo da Polícia Militar lamentou a morte de mais um colega durante o trabalho. Para a major, um atentado contra um policial é um “crime contra o estado”. Layla Brunella ressaltou que a vítima estava agindo em nome da função, mesmo estando de férias. "Quando há um crime contra um policial militar, não é como de um simples cidadão. O crime é contra o estado, contra a lei. Se um infrator tem coragem de vir contra o estado, imagine contra um cidadão comum no dia a dia”.
Vinícius de Castro Lima foi velado e sepultado no Cemitério Parque da Colina, no Bairro Nova Cintra, e contou com a presença de familiares e amigos da corporação. O cabo era casado, pai de um filho e formado em Direito, com pós-graduação em Ciências Criminais. Em profundo abalo, a esposa do policial, mãe e pai foram amparados por colegas de farda e outros familiares que marcaram presença no enterro. O caixão chegou ao cemitério em um caminhão do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG).
Assim que o veículo oficial se aproximou da capela 4, militares do 39º Batalhão da PM, do qual era lotado o cabo Vinícius, carregaram o esquife em homenagem ao colega. Por volta das 16h, os familiares e amigos do militar seguiram para o topo da colina para dar o último adeus. O toque das cornetas e a bandeira do Brasil dobrada e entregue à mãe de Vinícius marcaram as honras fúnebres militares. Acompanhado de perto pela mãe, pai e esposa da vítima, os policiais também fizeram a tradicional salva de tiros.
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Uma tia do militar, Cleuza Gomes, lamentou a perda e homenageou-o em palavras. "Era um menino feliz. Amava as pessoas, compreendia as pessoas. Ele tinha assim um relacionamento bom com a humanidade", elogiou a parente, que o descreveu ainda como "ser iluminado".
Ela afirmou que o policial foi um filho e um sobrinho especial para a família. Cleuza ainda destacou que a vítima iria viajar com a família nesta semana e já estava com passagem comprada para o Nordeste. "Tudo o que você possa imaginar de bom se chama Vinícius. E dói no coração da gente. Jovem e com futuro", lamentou a tia.