Viúva de Laudemir: ‘Tenho medo que caia no esquecimento e ele não pague’
Liliane França da Silva comentou sobre o empresário suspeito pela morte de seu marido ter confessado que atirou em Laudemir
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Siga noA viúva do gari Laudemir de Souza Fernandes, Liliane França da Silva, disse temer que a morte do marido caia no esquecimento e que o empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, suspeito de ter atirado no gari, não pague pelo crime. Ela participa de uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, na tarde desta quarta-feira (20/8), que trata do caso.
Liliane comentou o fato do empresário ter confessado o crime, em depoimento à Polícia Civil, na segunda-feira (18/8).
“Não teve jeito, tudo apontando (para ele), as provas sendo mostradas aí. Espero que com essa confissão, as coisas continuem andando e que a justiça seja feita rápido. Tenho medo que isso caia no esquecimento e que ele saia pela porta da frente. Por mais que ele tenha confessado, e que tudo que ele fala está sendo provado que não (é verdade), mas, infelizmente, na nossa lei existem algumas brechas e eu tenho medo que ele encaixe em uma dessas”, declarou.
A viúva disse ainda que sua luta é por justiça para a morte do marido e respeito para o trabalho dos garis.
“A justiça vai trazer muito alívio, não só para a minha família, mas para esses outros [garis] que continuam trabalhando. Eles não podem parar. A rua continua suja. Eles precisam limpar, a função deles é essa. Não peço só justiça pelo Laudemir, que já se foi, mas também justiça e respeito, por esses meninos que sofrem muito. Eles passam muitas coisas calados”, afirmou.
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Como ocorreu o crime?
A equipe de coleta de lixo trabalhava na Rua Modestina de Souza, no Bairro Vista Alegre, Região Oeste de BH, quando a motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, de 42 anos, percebeu que uma fila de carros se formava atrás do veículo. Para liberar a passagem, ela decidiu manobrar, permitindo que os motoristas seguissem adiante, entre eles o empresário Renê da Silva, que conduzia um carro da marca BYD.
De acordo com depoimentos, a motorista e os garis acenaram para Renê, dizendo “vem, vem, pode vim (sic)”, em sinal de que havia espaço para ele passar. Nesse momento, o suspeito teria abaixado a janela e gritado para a condutora que se alguém encostasse em seu veículo ele iria matar a pessoa. Ele então pegou uma arma, apontou para Eledias e ameaçou "dar um tiro na cara" dela.
O gari Tiago Rodrigues se colocou entre os dois, tentando intervir: “Você vai dar um tiro na mulher trabalhando? Vai matar ela dentro do caminhão?”, questionou. Renê seguiu com o carro sem encostar no caminhão e parou alguns metros à frente. Saiu do veículo armado, mas deixou o carregador cair. Após recolhê-lo, engatilhando novamente a pistola, efetuou um disparo, que atingiu Laudemir no abdômen.
O tiro acertou o lado direito das costelas e saiu pelo esquerdo. Laudemir foi levado ao Hospital Santa Rita, em Contagem, na Grande BH, mas morreu momentos depois por hemorragia interna. No local do crime, foi recolhido um projétil intacto de munição calibre .380.
Naquele dia, Laudemir substituía um colega afastado por lesão. Ele normalmente trabalhava na rota que atende o Bairro Serra, na Região Centro-Sul da capital. A motorista, em depoimento judicial ao qual o Estado de Minas teve acesso, contou que ele atuava há dez anos na empresa e que havia acabado de conquistar a guarda da filha. Disse ainda que Laudemir estava ansioso para terminar o turno e chegar em casa antes das 18h, horário em que o Conselho Tutelar faria uma visita de vistoria à nova moradia da menina.
Renê é investigado pelos crimes de ameaça e homicídio qualificado, com agravantes de motivo fútil e de uso de recurso que dificultou a defesa da vítima. Segundo a polícia, três testemunhas o reconheceram.
O que dizem as investigações até o momento?
A arma utilizada no homicídio, uma pistola calibre .380, pertence à delegada da Polícia Civil Ana Paula Balbino Nogueira, esposa de Renê, e foi apreendida na residência da servidora no mesmo dia do crime. Os exames periciais, divulgados na sexta-feira (15/8) pela corporação, apontaram a compatibilidade entre a arma de Ana Paula e as munições usadas no assassinato de Laudemir.
Na noite de segunda, após a prisão de Renê, a servidora, que chefia a Delegacia de Combate à Violência Doméstica em Nova Lima, na Grande BH, afirmou à Polícia Civil que o marido não tinha acesso às suas armas e que não tinha informações sobre o crime. A corporação instaurou procedimento administrativo disciplinar correcional para apurar eventuais responsabilidades.
Apesar do procedimento interno, o delegado Saulo Castro afirmou, em coletiva de imprensa, que não há indícios para afastamento da servidora e, por isso, ela segue em seu cargo regular. “Estamos em fase inicial da investigação, que também foi instaurado um procedimento administrativo disciplinar correcional e que, eventualmente, sendo demonstrado qualquer tipo de responsabilidade, a servidora será devidamente penalizada em âmbito correcional”, disse.
Na ocasião, a corporação acrescentou ainda que o fato de a arma estar no nome da servidora do governo de Minas Gerais “não necessariamente” a coloca como coautora ou partícipe da ocorrência. A participação só será indicada caso fique constatado que a mulher entregou o armamento para o marido.
Um dos pontos centrais da investigação é o horário de chegada de Renê à Fictor Alimentos LTDA, em Betim, na Grande BH, onde ele trabalha. Câmeras de segurança da empresa inicialmente indicaram que ele teria chegado às 9h18, mas a perícia da Polícia Civil afirma que o registro correto seria 9h38, pouco mais de meia hora após um circuito de segurança na rua capturar o momento em que o gari foi baleado no Bairro Vista Alegre, às 9h07.
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Na quinta-feira (14/8), a Justiça autorizou a quebra de sigilo dos dados telefônicos e telemáticos de Renê, oficiados à empresa BYD do Brasil, montadora do carro do suspeito visto no local do crime, e a operadora Claro. O objetivo é levantar as rotas percorridas por Renê no dia e nos horários próximos do momento do homicídio.