BOMBA-RELÓGIO DESATIVADA

Barragem mineira em pior nível de emergência do Brasil deixa risco iminente

Com a redução do Nível de Emergência de Forquilha III, apenas a Barragem de Serra Azul é a mais crítica do Brasil

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Após intervenções da mineradora Vale, a Barragem Forquilha III, em Ouro Preto, na Região Central de Minas foi reclassificada do índice mais crítico, o Nível de Emergência (NE) 3 para o Nível NE2, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM).

Com a reclassificação, a barragem Forquilha III deixa de ser uma das que representava maior ameaça de rompimento no Brasil. Agora, apenas a também mineira Barragem de Serra Azul, da ArcelorMittal, em Itatiaiuçu, na Grande BH, persiste em NE3 em todo Brasil.

 
“Alcançamos nosso compromisso de não ter barragens em nível de emergência 3 até o ano de 2025, reforçando a segurança das pessoas e do meio ambiente. Também implementamos com sucesso e no prazo previsto o Global Industry Standard on Tailings Management (GISTM), para todas as nossas barragens de rejeitos. Continuaremos avançando na implementação do Programa de Descaracterização de Barragens a Montante e na melhoria contínua de nossa gestão de barragens”, disse Gustavo Pimenta, CEO da Vale.

Segundo a Vale, a redução do nível de emergência decorre de "avanços significativos no conhecimento da estrutura, obtidos através da realização de sondagens geotécnicas, ensaios de campo e laboratório, instalação de novos instrumentos para monitoramento".

Níveis de risco de uma barragem, segundo a ANM

  • Nível de Alerta - Encontrada anomalia que não implica risco imediato, mas requer controle, sem necessidade de evacuação.
  • Nível de Emergência 1 - Categoria de risco alto. Situação de potencial comprometimento, com necessidade de obras corretivas, monitoramento e interrupção do lançamento de efluentes ou rejeitos
  • Nível de Emergência 2 - Anomalia não controlada que compromete a segurança da barragem, levando à evacuação da Zona de Auto Salvamento
  • Nível de Emergência 3 - Ruptura iminente ou em progresso, com alto potencial de perdas de vidas. Evacuação imediata das áreas afetadas e acionamento dos planos de resposta a emergências

Como resultado a empresa indica que foram obtidos fatores de segurança que atendem aos critérios exigidos para a reclassificação do nível de emergência.

Barragem Forquilha V faz parte do complexo de estruturas da Mina da Fábrica, localizada em Ouro Preto, na Região Centra de Minas Gerais
Barragem Forquilha V faz parte do complexo de estruturas da Mina da Fábrica, localizada em Ouro Preto, na Região Centra de Minas Gerais Vale / Divulgação

A Barragem de Forquilha III em Ouro Preto é parte do complexo da Mina de Fábrica e o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) chegou a considerá-la como a estrutura em estado mais preocupante de Minas Gerais - e do Brasil.

Um dos maiores motivos de preocupação é por a barragem se encontrar rodeada e intercalada por outros barramentos de porte semelhante, sobretudo as barragens de Grupo, Forquilhas I, II e IV. O receio é que o rompimento de uma desencadeasse a ruína das demais e uma grande tragédia.

Forquilha III trata-se de uma estrutura com Categoria de Risco (CRI) alta e Dano Potencial Associado (DPA) alto, os conceitos de mais elevada preocupação.

A estrutura foi ampliada a montante, que é o processo que foi banido pelas legislações nacional e mineira após barramentos com essa metodologia construtiva terem rompido causando os desastres de Mariana e Brumadinho. Esse método consiste na sua ampliação de capacidade, crescendo o represamento sobre os rejeitos depositados e no sentido do fluxo de entrada de água e resíduos do barramento.

A ANM tem classificações de problemas de solidez para as estruturas que começam com o "Nível de Alerta", quando uma anomalia é detectada e pode trazer um risco potencial. Mais críticos do que isso são os níveis de Emergência (NE), que começam em NE1, com a anomalia apresentando risco de comprometimento estrutural, mas controlável. NE2, uma evolução que traz alto risco de comprometimento, controle incerto e necessidade de evacuação de populações abaixo. O pior é o NE3, que indica ruptura iminente ou em curso.


A barragem tem 77 metros de altura com o maciço de represamento com 770 metros de comprimento e área de 797.057 metros quadrados. O reservatório chegou a reter 19.476.113 metros cúbicos de rejeitos, areia e resíduos da mineração de minério de ferro que represam cursos d'água formadores do Córreo da Bocaina, no Alto Rio das Velhas. O volume é mais que o dobro do desprendido pelo rompimento da Barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho.

O número de habitantes abaixo da barragem foi estimado em cerca de 100, mas as pessoas da Zona de Auto Salvamento já foram removidas pela mineradora e recebem auxílios para morar em outro local seguro.

Quais os perigos em caso de rompimento da barragem?


Em caso do rompimento de uma das estruturas desencadeasse o pior cenário que é o rompimento das demais barragens do complexo, a mancha de inundação das barragens Forquilha I, II, III, IV e Grupo seria de mais de 1.700 hectares, entre Ouro Preto e Itabirito, ameaçando o Rio Itabirito, na altura da rodovia MG-030, cortando a área urbana de Itabirito ao meio, até chegar ao Rio das Velhas, 29 quilômetros antes da captação da Copasa para a Grande BH, em Bela Fama, Nova Lima.


Um rompimento traria impacto ambiental significativo de acordo com a ANM. "(A) Área afetada a jusante da barragem apresenta área de interesse ambiental relevante ou áreas protegidas em legislação específica (excluidas Áreas de Proteção Permanentes) e armazena apenas resíduos inertes".

Já os impactos sócio-econômicos são considerados altos. "Existe alta concentração de instalações residenciais, agrícolas, industriais ou de infraestrutura de relevância sócio-econômico-cultural na área afetada a jusante da barragem".

 

Defesa construída para conter rejeitos caso ocorra rompimento da Barragem de Forquilha
Defesa construída para conter rejeitos caso ocorra rompimento da Barragem de Forquilha Divulgação/Vale


Forquilha III começou a receber rejeitos de mineração em 31 de dezembro de 1999. O projeto básico de descaracterização da barragem foi emitido em 31 de julho de 2024 e o projeto executivo em 31 de dezembro de 2024.


A represa de rejeitos possui uma defesa para estancar um possível rompimento ou extravasão abaixo, no curso d'água do Ribeirão Mata Porcos que é o caminho natural dos rejeitos, em Itabirito, na Grande BH, a 10 km do barramento, dentro da área da mineradora.

A denominada Back Up Dam Fábrica é uma Estrutura de Contenção a Jusante (ECJ) que está funcional desde 31 de maio de 2021 e tem vida útil de 10 anos. Essa espécie de barragem de emergência de concreto e rochas tem 39 metros de altura e 330 metros de largura com a capacidade de extravazar 237 m3/s pelo vertedouro - a média do Rio das Velhas como um todo é estimada em 320,5 m3/s.

A Barragem Forquilha III é uma das 13 (treze) estruturas a montante que ainda serão descaracterizadas pelo Programa de Descaracterização da Vale. Desde 2019, das 30 estruturas previstas, 17 (14 em Minas Gerais e 3 no Pará) já foram descaracterizadas, o que equivale a 57% do total. Já foram investidos mais de R$ 12 bilhões no programa.

A previsão é concluir a descaracterização da barragem Forquilha III no final de 2035, com a execução completa do projeto de descaracterização e a recuperação ambiental da área. A barragem possui Estrutura de Contenção a Jusante (ECJ) com Declaração de Condição de Estabilidade (DCE), capaz de reter os rejeitos no caso de um eventual rompimento.

As estruturas a montante da Vale no Brasil estão inativas e são monitoradas 24 horas por dia pelos Centros de Monitoramento Geotécnico (CMGs) da empresa.

A Zona de Autossalvamento (ZAS) da barragem Forquilha III está evacuada desde 2019, quando a estrutura foi classificada em nível 3. Apesar da melhoria das condições de estabilidade da barragem e da redução para nível 2, não haverá retorno da comunidade neste momento, em cumprimento à legislação.

Mancha de inundação onde os rejeitos de Forquilha III poderiam atingir caso ocorresse um rompimento
Mancha de inundação onde os rejeitos de Forquilha III poderiam atingir caso ocorresse um rompimento Reprodução/ANM

Enquanto os trabalhos de descaracterização avançam, a Vale afirma que ações de reparação e fortalecimento dos serviços públicos municipais correm em paralelo, como forma de compensar os impactos causados à comunidade local.

Segundo a empresa, em novembro de 2024, foi firmado acordo para ações de reparação e compensação nos municípios de Itabirito, Ouro Preto, Rio Acima e Nova Lima.

O acordo contempla programas relacionados a transferência de renda, requalificação do turismo e cultura, segurança, fortalecimento do serviço público municipal e demandas das comunidades atingidas.


Paralelamente à descaracterização das estruturas a montante, a Vale afirma ter adotado o Padrão Global da Indústria para Gestão de Rejeitos (GISTM) em todas as suas barragens de rejeitos.

"O GISTM foi lançado em 2020, a partir de uma iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), dos Princípios para o Investimento Responsável (PRI) e do Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM), e é o primeiro padrão global do setor mineral e um marco mundial para a segurança de barragens de mineração", declara a mineradora.

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Para que uma barragem atenda aos critérios do GISTM, é preciso cumprir 77 requisitos relacionados à gestão de estruturas de armazenamento de rejeitos, em todo o ciclo de vida da estrutura, desde o projeto, operação até o fechamento.

Os requisitos incluem o pleno envolvimento das comunidades afetadas, respeito aos direitos humanos, engenharia, governança, papeis e responsabilidades, revisões técnicas, preparação para emergências e aspectos relacionados à transparência e divulgação pública de informações.

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