Religião

Festa múltipla movida pela fé na Serra da Piedade

Missa abre jubileu em louvor à padroeira de Minas, com celebrações também pelos 65 anos da consagração do estado à sua proteção e os 150 das peregrinações ao ma

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Homenagens do clero, manifestações da fé popular, romarias e um tempo especial para festejar a padroeira de Minas. Começa na Serra da Piedade, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o jubileu em louvor a Nossa Senhora da Piedade – na ermida do século 18, que guarda a imagem atribuída a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, houve missa, na tarde de ontem, presidida pelo arcebispo de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo, para comemorar os 65 anos de consagração do estado à proteção da “Pietá” das Gerais.


Tem início também outro jubileu, desta vez pelos 150 anos das peregrinações, ao alto do maciço. Dom Walmor Oliveira explica que o Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais acolhe peregrinos há mais de 250 anos, havendo um marco importante na história do jubileu. “A partir de 1875, monsenhor Domingos Evangelista Pinheiro (1843-1924), à época guardião do santuário, passou a acolher peregrinações com grande número de fiéis, dentro de uma programação especial pelo Jubileu de Nossa Senhora da Piedade.”


Ainda segundo o arcebispo, o jubileu se tornou mais intenso com o passar do tempo, incorporando datas importantes, entre elas o 31 de julho, referência a 31 de julho de 1960, aniversário de proclamação de Nossa Senhora da Piedade a Padroeira de Minas Gerais. Conforme a Arquidiocese de BH, as festividades (veja a programação) são inspiradas pelo tema “Mãe da Piedade, luz da nossa Esperança” e o lema: “Na esperança é que somos salvos” (Rm 8,24).


Arquitetura divina

O topo da Serra da Piedade recebe cerca de 500 mil visitantes por ano, sendo necessário fazer o agendamento (santuarionspdapiedade.org.br) para ingressar no complexo religioso, cultural, histórico, paisagístico e ambiental. Além da ermida, a menor basílica do mundo, que abriga a imagem da padroeira, quem chega ao topo do maciço deve visitar, e prestar bem atenção, ao outro templo católico: a Basílica Estadual Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais, também conhecida por Igreja das Romarias. Cenário de natureza em estado bruto com arquitetura moderna, em comunhão entre a montanha e o concreto.


Construído em 1974, com projeto do arquiteto carioca Alcides Áquila da Rocha Miranda (1909-2001), o templo de fé ganha um olhar também cinematográfico – numa referência ao filme “O Brutalista”, dirigido pelo norte-americano Brady Corbet e vencedor de três Oscars. A exemplo da monumental edificação retratada no longa, a basílica mineira também é no estilo moderno brutalista, contemplando maciçamente concreto, aço e vidro.

Assim como na serra e na tela do cinema, o brutalismo se caracteriza pela imponência, ausência de adornos, forma pesada e geométrica e concreto bruto aparente, informa a arquiteta Daniela Duarte de Freitas Oliveira, da Arquidiocese de BH, à qual o santuário está vinculado. “Toda a estrutura é em concreto aparente, sendo a cobertura com telhas de cobre”, observa.


Com apenas um pilar, o interior da basílica abriga três espaços. Na parte central, fica o local de celebração das missas. Para quem olha para o altar, há, do lado direito, área para banheiros e outra para as pessoas se protegerem de chuvas etc. Já do lado esquerdo, a entrada principal e o batistério. “Tudo se integra à natureza, nada compete com o entorno ou sobressai à ermida”, diz a arquiteta em referência à capela do século 18, a menor basílica do mundo, localizada no alto da Serra da Piedade, onde está a imagem da padroeira de Minas, Nossa Senhora da Piedade, atribuída ao Aleijadinho.


Também da prancheta de Alcides Áquila da Rocha Miranda saíram os projetos do restaurante, da casa dos peregrinos e da lanchonete-loja, todos em áreas mais baixas em relação à ermida, chamada de “magnífica arquitetura divina” pelo segundo arcebispo de BH, dom João de Resende Costa (1910-2007).


Em paz nas alturas

Considerado um dos pontos mais turísticos de Minas, a Serra da Piedade sempre atraiu a atenção da psicóloga Flávia Linhares, de Caeté. Ela gosta especialmente da Igreja das Romarias. “Sempre venho aqui, sinto paz, tranquilidade. Devido ao concreto, muitos dizem que ela tem uma ‘frieza’, mas, pelo contrário, me sinto acolhida. Quanto à ermida, é mesmo a ‘magnífica arquitetura divina’”, destacou Flávia ao lado da mãe, Maria da Conceição Linhares, de 79 anos.


Com 2.040 metros quadrados, a edificação brutalista teve como engenheiro responsável José de Miranda Tepedino (1929-1994), e participação importante, como uma referência para Alcides Áquila, que trabalhou no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do arquiteto e professor belo-horizontino Ivo Porto de Menezes (1928-2024). Segundo Daniela, houve, em 1989, instalação dos murais de cerâmica fosca que revestem as paredes com temas bíblicos, abordados nos evangelhos de Lucas, e executados pelo artista plástico Cláudio Pastro. Nove anos depois, foi entronizada a imagem de Nossa Senhora da Piedade, obra do artista plástico Léo Santana.


Nas fotos externas mostradas nesta reportagem, feitas com drone, é possível ver a integração da basílica com a paisagem, sem grandes contrastes. Os tons da rocha e da construção se harmonizam. Vindo de Três Marias, na Região Central, o empresário Bruno Vieira Bicalho, na companhia da esposa Edilaine e da filha Luiz Helena, gostou do que viu, certo de que cada monumento tem sua beleza. “Trata-se de um templo muito bem construído”, afirmou.


Então, vale voltar no tempo para entender mais sobre a importância dos dois templos católicos existentes no topo do maciço. Em 2017, veio de Roma o reconhecimento maior para a ermida do século 18 e a igreja de 1974. O papa Francisco (1936-2025) elevou ambas à condição de basílica, conforme anunciou, em 18 de novembro de 2017, o arcebispo dom Walmor.


A ermida passou a se chamar Basílica Ermida da Padroeira de Minas Gerais – Nossa Senhora da Piedade, e a Igreja das Romarias, Basílica Estadual Nossa Senhora da Piedade – Padroeira de Minas Gerais. “A Serra é o coração de Minas, pois reúne a fé católica, a riqueza ambiental, o solo rico em ouro e o conjunto do santuário”, disse dom Walmor, na época. Tombada pelo estado, Iphan e município de Caeté, a Serra da Piedade é ponto de partida e chegada do Caminho Religioso da Estrada Real (Crer), que liga o santuário da padroeira de Minas a Aparecida (SP).


Histórias entrelaçadas

“O Brutalista” conta a história de László Tóth, arquiteto judeu da Hungria que emigra para os Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em busca de vida nova, oportunidades, futuro. No início, nada são flores, até ele trabalhar no megaprojeto de construção de um prédio no estilo brutalista. A inspiração para o filme teria partido da edificação, em concreto, de um mosteiro beneditino, a Abadia de Saint John’s, no estado de Minnesota, nos EUA.


Se os monges beneditinos, conforme já divulgou a imprensa, esperam mais visibilidade para o mosteiro norte-americano, que enfrenta sérios problemas na estrutura, as duas basílicas da Serra da Piedade, a milhares de quilômetros, primam pelo cuidado. E têm uma vista espetacular, oferecendo um vasto panorama da RMBH aos visitantes.


A qualquer momento, no alto, impossível não ficar admirando a paisagem marcada pelas montanhas, rios, casario e estradas. A fama do lugar teria começado entre 1765 e 1767, de acordo com a tradição oral, com a aparição de Nossa Senhora, com o Menino Jesus nos braços, a uma menina, muda de nascimento, cuja família vivia na comunidade de Penha, a seis quilômetros da serra. No momento, a menina teria recuperado a fala.

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O episódio tocou o coração do português Antônio da Silva Bracarena, então na colônia para ganhar dinheiro. Ele se converteu e decidiu dedicar sua vida à construção de uma capela no lugar onde ocorrera o milagre. O singelo templo dedicado a Nossa Senhora da Piedade começou a ser erguido em 1767 e, mais tarde, ganhou a imagem esculpida por um jovem de Ouro Preto, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. 


AGENDA DE LOUVOR
Programação do jubileu na Serra da Piedade
l Em agosto
l Dia 15 – Peregrinação das Juventudes
l Dia 18 – Peregrinação do Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus (Sacej) e Serviço de Animação Vocacional (Sav)
l Dia 23 – Peregrinação da Região Episcopal Nossa Senhora Aparecida (Rensa)
l Dia 30 – Peregrinação do Terço dos Homens

l Em setembro
l De 6 a 15, haverá a Festa da Padroeira de Minas Gerais, com missas, terço e novena
l Dia 6 – Peregrinação da Região Episcopal Nossa Senhora da Boa Viagem (Rensb)
l Dia 13 – Peregrinação do Apostolado da Oração.
l Dia 15 – Dia de Nossa Senhora da Piedade, com missas às 8h, 9h30, 11h e 15h

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