Mesma dupla, novos assaltos: moradores de bairro nobre de BH se preocupam
Crimes recentes em plena luz do dia expõem sensação de insegurança na região Centro-Sul da capital
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Siga noNo coração do valorizado bairro Santo Agostinho, na região Centro-Sul em Belo Horizonte, moradores vivem reféns da insegurança. Passos apressados, olhares desconfiados e medo crescente marcam o cotidiano, por causa da ação constante de criminosos que, em plena luz do dia, assaltam e aterrorizam a área.
Nos últimos dias, uma mesma dupla foi flagrada em pelo menos dois roubos nas imediações do Diamond Mall, um dos shoppings mais movimentados da capital.
O primeiro crime aconteceu em 24 de julho, quando um homem teve a mochila levada quando seguia para o trabalho. Quatro dias depois, em 28 de julho, os suspeitos voltaram a agir. Em um vídeo recente, o garupa da moto aparece usando a mochila roubada anteriormente.
A segunda vítima foi um morador abordado por criminosos ao sair para caminhar por volta de 7h30. Segundo o porteiro do prédio onde o homem mora, que preferiu não se identificar, os assaltantes levaram a aliança de casamento. “Ele está com medo. Só comentou o ocorrido com os outros porteiros”, contou o funcionário. Ao Estado de Minas, a vítima afirmou que pretende registrar boletim de ocorrência, mas até o momento não o fez. Ainda segundo o porteiro, os arrombamentos são constantes na área. “Sempre tem. É aqui mesmo, ao redor”.
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Criminosos agem com calma
Em um dos vídeos divulgados nas redes sociais, os suspeitos aparecem em uma motocicleta parada na esquina das ruas Gonçalves Dias e Rio Grande do Sul, ponto bastante movimentado do bairro. Um deles usa roupa preta; o garupa, uma blusa azul. Ambos com capacete.
O garupa desce da moto com tranquilidade, observa o movimento e se aproxima de um homem que caminhava pela calçada. A abordagem é rápida: o suspeito, aparentemente armado, rende a vítima e leva a aliança de casamento. Em seguida, retorna à moto e foge com o comparsa. A ação, breve mas fria, reforça a sensação entre os residentes de que a dupla conhece bem a área e circula com frequência pelo entorno.
Outros moradores, trabalhadores e comerciantes confirmam o aumento dos roubos. Uma mulher, que preferiu se identificar apenas como Maria Madalena e trabalha na região, nunca foi vítima direta, mas sente o clima de insegurança. “Graças a Deus não fui assaltada. Que Deus me livre. Mas já ouvi muitos comentários”, disse ela.
Ela conta que soube dos crimes por conversas com vizinhos. “As pessoas falam muito. O pessoal está inseguro. Não digo que está apavorado, mas todo mundo anda desconfiado”, contou.
Sobre a polícia, Maria Madalena enfatizou: “não vejo por aqui, parece que não tem patrulha nenhuma”. “Hoje em dia não tem lugar seguro. Por enquanto estou tranquila, mas pelo que a gente ouve, a situação não está boa”, comentou.
O analista Huss Fernandes, que trabalha na região, também percebe menos rondas e mais roubos. “A segurança parece que piorou”, avalia.
Respostas e cobranças
Segundo o Observatório de Segurança Pública da Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp), o estado registrou 4.660 ocorrências de roubo no primeiro semestre de 2025. Os dados, extraídos em 5 de julho pelo Armazém Sids, indicam uma queda de 21,61% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram 5.947 casos.
A taxa de registro foi de 21,85 ocorrências por 100 mil habitantes, o menor índice da série histórica apresentada na tabela. As estatísticas incluem registros feitos por diferentes órgãos de segurança pública, como as polícias Militar e Civil, Corpo de Bombeiros, sistema socioeducativo e sistema prisional.
Na capital mineira, entre os 50 bairros com maior número de roubos registrados em 2024, dez estão localizados na Região Centro-Sul, conforme série de reportagens publicadas pelo Estado de Minas em março deste ano. Juntos, esses bairros contabilizaram 1.185 crimes envolvendo violência ou ameaça com subtração de pertences e valores. O bairro com o maior número de registros foi o Centro, com 679 ocorrências. O Santo Agostinho, onde a dupla de ladrões vem atuando, aparecia em 9º lugar no ranking, com 39 casos.
Dando sequência à lista, a Regional Nordeste aparece como a mais afetada, com 561 ocorrências. O destaque fica para o Bairro União, que concentra 104 casos.
Em seguida vem a Noroeste, com 391 registros, sendo a Lagoinha o mais violento da região, com 80 ocorrências.
Depois, aparecem as regionais Leste (351), Oeste (339), Norte (219), Pampulha (198), Venda Nova (140) e Barreiro (44).
Em relação às críticas de falta de policiamento na região do Santo Agostinho, feitas por quem vive e trabalha por lá, a Polícia Militar garantiu que mantém patrulhamento contínuo na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, incluindo o bairro em questão, com equipes atuando 24 horas por dia. Segundo o 1º Batalhão, o planejamento das rondas e operações é feito com base em análises criminais e nas demandas da população.
A corporação confirmou que, em 28 de julho, foram registrados dois roubos à mão armada em pontos distintos da região, ambos com características semelhantes às ações relatadas pelos moradores: dupla em uma motocicleta, abordagem rápida e uso de arma de fogo. Os suspeitos já foram identificados e estão sendo investigados.
A polícia também informou que, mesmo nos casos sem boletim de ocorrência formalizado, como o ocorrido próximo ao Diamond Mall, os relatos estão sendo levados em conta para o mapeamento da criminalidade. Ainda segundo a PM, operações específicas de combate a roubos foram iniciadas, com reforço no efetivo e atuação do setor de inteligência.
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A expectativa, segundo a PM, é conter a sequência de crimes e ampliar a sensação de segurança algo que, para os moradores, ainda está longe da realidade. Enquanto isso, moradores e comerciantes convivem com a sensação de vulnerabilidade. Muitos evitam sair a pé, principalmente pela manhã cedo e à noite. Outros preferem o silêncio, com medo de represálias.
“Hoje em dia, a gente sai sempre desconfiado. Não tem mais lugar seguro, infelizmente”, conclui um morador.