Minas tem teatro mais antigo em atividade das Américas
Conheça a história da Casa de Ópera - Teatro Municipal de Ouro Preto, que tem a trajetória marcada por figuras importantes e grandes restaurações
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Siga noEm meio às ladeiras de Ouro Preto, uma fachada discreta guarda um dos grandes tesouros culturais de Minas Gerais: a Casa de Ópera – Teatro Municipal de Ouro Preto. Construído a partir de 1768 e inaugurado dois anos depois, é o mais antigo em funcionamento das Américas. E, mesmo depois de todo esse tempo, segue como sucesso de público e de espetáculos.
Neste episódio do Sabia Não, Uai!, série especial do Estado de Minas sobre curiosidades e histórias de Minas Gerais, contamos a trajetória do teatro de Ouro Preto, que inovou desde os primeiros anos de atividade e desafiou as normas da sociedade na época de sua construção.
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O projeto de construção do teatro surgiu quando o então governador da Capitania de Minas Gerais, José Luís de Meneses Abranches Castelo Branco (1742-1792), o sexto conde de Valadares, decidiu que Vila Rica – atual Ouro Preto – merecia uma casa de ópera. A missão foi delegada ao contratador de impostos da coroa portuguesa, João de Souza Lisboa, que, dois anos depois, inaugurou a casa de ópera, em 6 de junho de 1770.
O artista plástico e atual diretor do teatro, Roberto Sussuca, explica que a data foi escolhida em homenagem ao aniversário do Rei de Portugal, Don José I. “A inauguração contou com uma opereta escrita por Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), famoso poeta e inconfidente mineiro”, explica.
Arquitetura e liberdade
Projetada em formato de lira, a casa de ópera cobrava altos valores para os camarotes laterais e contava com um camarote exclusivo para o governador. O local chamou atenção desde o princípio por sua arquitetura e pelo elenco formado de artistas renomados que vinham de vários lugares do Brasil.
Além disso, desafiou as normas da época ao incluir atrizes e cantoras em suas apresentações. “Saint-Hilaire, um naturalista francês que esteve em Ouro Preto no começo do século 19, descreveu que as peças eram representadas por homens maquiados e vestidos de mulher”, conta o prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo, o que mostra que essa exclusão das mulheres dos palcos durou muito tempo.
Com o passar dos anos, o teatro passou por inúmeras restaurações para ser preservado. Já no século 19, a primeira de muitas mudanças ocorreu por causa de uma infestação de cupins, que ameaçava a estrutura de madeira. Foi então que houve a substituição por ferro fundido em pontos estratégicos, incluindo balaústres, que se tornaram grades, e colunas usadas para sustentar as frisas.
Estrutura alterada
As intervenções mudaram o padrão arquitetônico e muitos detalhes da construção inicial, o que fez o teatro ter hoje “um aspecto do século 19, mesmo sendo um teatro do século 18”, como diz o prefeito.
Reformas posteriores ao longo dos anos incluíram mudanças importantes, como o fechamento das janelas – que veio com a instalação de iluminação elétrica – e a construção de banheiros para o público.
Surpresa histórica
Um dos achados mais impressionantes no Teatro Municipal de Ouro Preto ocorreu justamente durante uma das reformas. Uma pintura original, feita na época da construção da casa de ópera, foi revelada no teto rebaixado. A imagem, localizada acima do palco, representa o drama, a comédia e a música, símbolos das artes que marcaram a história do teatro.
A Casa de Ópera – Teatro Municipal de Ouro Preto é tombada pelo estado e protegida para que qualquer intervenção respeite, ao máximo, as características da construção. As cadeiras da plateia ainda são do século 19 e, no camarote central, estão expostas outros assentos históricos, usados desde os primeiros anos do teatro, compondo uma espécie de museu interno.
Emoção no palco
Ao longo dos séculos, a casa de ópera recebeu figuras icônicas, como a atriz Fernanda Montenegro, que se emocionou com o público. “O teatro estava entupido, as pessoas aplaudiam de pé e não saíam. Aí, ela beija o chão, levanta as mãos em agradecimento e, enquanto descia as mãos, as palmas foram parando como se fosse algo combinado”, relembra, emocionado, relembra o diretor do teatro.
O espaço também recebeu a renomada companhia de teatro experimental de Nova York The Living Theatre e foi palco de eventos históricos, como um comício de Rui Barbosa (1849-1923) durante a Campanha Civilista nas eleições presidenciais de 1910, na República Velha.
Atualmente, a casa de ópera se destaca por dois grandes diferenciais: estado de conservação e intensa programação de espetáculos. O espaço, que encanta o público com sua beleza e acústica, é palco de muitas apresentações, festivais e eventos. E o patrimônio segue aberto para visitantes, que podem explorar seus corredores famosos e até subir no palco para sentir a energia dessa joia mineira.
O Sabia Não, Uai!
As reportagens do Sabia Não, Uai! mostram de um jeito descontraído histórias e curiosidades relacionadas à cultura mineira. A produção conta com o apoio do vasto material disponível no arquivo de imagens do Estado de Minas, formado também por edições antigas do Diário da Tarde e da revista O Cruzeiro, e por vídeos digitalizados da TV Itacolomi.
Todos os vídeos desta temporada e das anteriores estão disponíveis nas plataformas de podcast e no canal do Portal Uai no YouTube.
O Sabia Não, Uai! foi um dos projetos brasileiros selecionados em 2023 para participar do programa Acelerando Negócios Digitais, do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ), iniciativa apoiada pela Meta e desenvolvida em parceria com diversas associações de mídia (Abert, Aner, ANJ, Ajor, Abraji e ABMD) com o objetivo de atender às necessidades e desafios específicos de seus diferentes modelos de negócios.
Arquivo EM
Se você gostou de mais esta história recontada pelo especial Sabia Não, Uai!, aproveite para acompanhar nossa série sobre a memória do jornalismo brasileiro. O Arquivo EM conta, a partir de buscas na Gerência de Documentação e Informação (Gedoc) dos Diários Associados em Minas Gerais, reportagens quase esquecidas sobre Minas Gerais e o país.