Black-A e a dança urbana que transforma vidas
Morador do Palmital, artista luziense tem trajetória de décadas dedicadas a ajudar jovens da periferia por meio do hip-hop
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Siga noLuiz Fernando Nunes Bernardes, o Black-A, é muito mais que um nome de destaque nas danças urbanas de Santa Luzia, na Grande BH. Morador do bairro Palmital, ele soma mais de três décadas dedicadas à cultura hip-hop – não apenas como expressão artística, mas como instrumento de transformação social, inclusão e empoderamento periférico.
Agora, às vésperas de representar o Brasil no Summer Dance Forever 2025 – um dos maiores festivais de dança do mundo, que será realizado em Amsterdã, na Holanda –, o artista luziense desperta admiração não só por sua técnica e presença nos palcos, mas pela longa trajetória de compromisso com a juventude negra, periférica e muitas vezes esquecida pelas políticas públicas.
Por 17 anos, Black-A atuou no programa Fica Vivo, referência em prevenção à violência juvenil, onde ministrou aulas de danças urbanas para adolescentes e jovens do Palmital. Mais do que ensinar passos ou desenvolver talentos, ele criou pontes. Por meio da dança, abriu caminhos para a autoestima, o pertencimento e o acesso à cidadania. Promoveu ainda o contato com espaços culturais fora dos limites de Santa Luzia, como o Viaduto Santa Tereza e o Circuito Cultural da Praça da Liberdade, em Belo Horizonte – experiências que ampliaram o repertório e a visão de mundo de seus alunos.
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“Nosso trabalho era mostrar que existe vida além da criminalidade. A dança e o hip-hop nos conectam com a autoestima, com o coletivo, com os direitos básicos. E isso muda o rumo de muita gente”, afirma Black-A, com a serenidade de quem já presenciou histórias reais de transformação.
Vários talentos surgiram desse projeto. Um dos exemplos mais notáveis é Joel Martins, que passou pelas oficinas de Black-A e hoje é graduado em Dança pela UFMG. Além de competir em batalhas de alto nível, Joel também atua como produtor cultural e integra a equipe de gestores formada por seu antigo mestre – um ciclo virtuoso que fortalece a cultura hip-hop como movimento vivo, pedagógico e libertador.
Mas o impacto do trabalho de Black-A vai ainda mais longe. Atualmente, ele atua como analista de Educação Física no Centro Socioeducativo de Internação, onde desenvolve oficinas de dança, cultura e esporte com adolescentes em conflito com a lei. O objetivo é claro: contribuir para a reintegração desses jovens ao convívio social de forma estruturada, utilizando o poder da arte e do movimento como instrumentos de construção de novos projetos de vida.
“É uma luta diária, mas gratificante. O hip-hop me deu voz, disciplina e consciência. Quero continuar abrindo caminhos, não só para mim, mas para toda uma geração que acredita que é possível vencer sem sair da sua essência”, diz o artista, reforçando a ideia de que é possível sonhar e conquistar, sem romper com a identidade de origem.
A ida a Amsterdã, portanto, não representa apenas uma conquista individual. Trata-se de um marco simbólico que consagra décadas de resistência, ensinamento e fé no poder da cultura como ferramenta de mudança. Para viabilizar sua participação no festival internacional, Black-A está lançando uma campanha de arrecadação de recursos. A iniciativa inclui produção de vídeos, busca por patrocinadores, apoio da imprensa e uma rifa beneficente. O artista também conta com a mobilização da comunidade cultural e de antigos alunos, que hoje ocupam posições de destaque na cena artística de Santa Luzia e Belo Horizonte.
“Representar o Brasil no Summer Dance Forever é levar comigo cada jovem que já acreditou que podia mais. É mostrar que, mesmo vindo da periferia, somos capazes de conquistar o mundo. Que a nossa arte, nascida nos becos e vielas, tem potência global. E que o hip-hop, mais do que um estilo, é uma missão de vida”, resume.
A história de Black-A é prova viva de que onde há cultura, há resistência. E onde há dança, pode haver futuro.
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Ajude Black-A a viajar
para Amsterdã
O dançarino está arrecadando recursos para cobrir despesas com passagens, hospedagem e alimentação durante
sua participação em um dos maiores
festivais de dança do mundo
PIX: blacka.danca@gmail.com