Arquiteto de BH que projetou o Othon Palace recebe homenagem póstuma
Raul de Lagos Cirne desenhou prédios, estádios de futebol, monumentos e sedes de clubes famosos em todo o Brasil
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Siga noUm dos mais produtivos, mas ainda pouco conhecido, arquitetos de Belo Horizonte recebeu nessa terça-feira (1) homenagem póstuma em reconhecimento a um legado que extrapolou estilos e estados. Raul de Lagos Cirne foi responsável por edificações históricas de BH, como o Othon Palace e o Hotel Del Rey, no Centro, além da Toca da Raposa I, dos clubes Labareda e Jaraguá, e de centenas de outras construções espalhadas por todo o Sudeste e em Goiás, Bahia, Brasília, Piauí, Paraíba e Maranhão.
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A homenagem, realizada pela Sociedade Mineira de Engenheiros (SME), em parceria com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MG) e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-MG), e com o apoio do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, foi inspirada em reportagem da série especial “Sabia Não, Uai!”, do Estado de Minas e Portal Uai.
A equipe do Núcleo de Criação Multimídia do EM foi convidada a apresentar como descobriu e transformou em vídeo, texto e infografia uma obra inédita de Raul de Lagos Cirne, descoberta nos arquivos do jornal.
Em episódio da quarta temporada, a série contou a história do Condomínio Sapucaí, complexo comercial com 118 lojas que ocuparia toda a extensão da rua entre os viadutos Santa Tereza e da Floresta, cobrindo a vista atual a partir da mureta. A estrutura foi projetada por Raul de Lagos Cirne, a pedido da Rede Mineira de Viação (RMV). Veja o vídeo abaixo.
A única imagem conhecida do Condomínio Sapucaí aparece em uma reportagem do Estado de Minas de 30 de abril de 1964, sobre o título “Iniciativa da RMV transformará a fisionomia da Rua Sapucai”. A construção revelada pelo “Sabia Não, Uai!” surpreendeu até os também arquitetos Gustavo, filho de Cirne, e Raul, neto, que contribuíram para a produção da reportagem.
Emoção em família
A família de Raul de Lagos Cirne recebeu uma placa com a homenagem ao arquiteto das mãos da presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME), Virginia Campos. "O auditório, com tantas autoridades, amigos e familiares, deu a dimensão da grandeza e representatividade de Raul Cirne. O prédio da SME é um entre tantos que ele projetou. Com versatilidade, Raul nos lembra que a arte é um campo de ambiguidades, de perguntas sem respostas únicas, de experiências sensoriais e simbólicas que nos desafiam e nos humanizam", afirmou a presidente da SME.
"Assim como a Casa da Engenharia, as obras de Raul têm uma identidade. São construções que dialogam com o tempo, a cidade e os valores coletivos. Ele ajudou a construir, material e simbolicamente, a força institucional da engenharia e da arquitetura mineira. Que nossa homenagem contribua para que o legado de Raul Cirne seja ainda mais conhecido, estudado e difundido Brasil afora", disse Virginia Campos.
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Um arquiteto notório na capital
Documento feito pela família de Cirne criou um memorial sobre legado do arquiteto para a capital mineira e várias outras cidades do Brasil. O arquivo reúne mais de 130 projetos arquitetônicos e de urbanismo criados por Raul de Lagos Cirne e, apesar do grande número de trabalhos, não chega a incluir todos os trabalhos do requisitado arquiteto.
Tendo Oscar Niemeyer como paraninfo, Raul se formou em 1951 como engenheiro arquiteto pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Sua carreira começou quando, no mesmo ano de sua formação, venceu um concurso e teve como prêmio a missão de esboçar todas as sedes do Banco do Comércio e Indústria.
Em sua trajetória, teve participação em projetos de edifícios comerciais, residenciais, hoteleiros, esportivos e de saúde. Atuou em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Goiânia, Espírito Santo, Brasília, Piauí, Paraíba e Maranhão. Estádios como o Governador Ernani Sátyro, conhecido como O Amigão, em João Pessoa; o Estádio Municipal de Campina Grande; e o Estádio de São Luís no Maranhão foram projetados por Raul Cirne.
“A vida era arquitetura”
Profissional múltiplo, tinha apreço pelo estilo arquitetônico modernista, mas explorou também estilos como brutalismo e colonial. “Nos anos 1950 e 60, com a urbanização da cidade havia alta demanda por obras e poucos arquitetos. Papai era um desses. Lembro que ele nem tinha muito tempo: a vida era só arquitetura. Aos domingos, quando deveria folgar, trabalhava em casa, fazia perspectiva nos projetos e pintava a guache”, lembra Gustavo Cirne.
O Sabia Não, Uai!
As reportagens do Sabia Não, Uai! mostram de um jeito descontraído histórias e curiosidades relacionadas à cultura mineira. A produção conta com o apoio do vasto material disponível no arquivo de imagens do Estado de Minas, formado também por edições antigas do Diário da Tarde e da revista O Cruzeiro, e por vídeos digitalizados da TV Itacolomi.
Todos os vídeos desta temporada e das anteriores estão disponíveis nas plataformas de podcast e no canal do Portal Uai no YouTube.
O Sabia Não, Uai! foi um dos projetos brasileiros selecionados em 2023 para participar do programa Acelerando Negócios Digitais, do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ), iniciativa apoiada pela Meta e desenvolvida em parceria com diversas associações de mídia (Abert, Aner, ANJ, Ajor, Abraji e ABMD) com o objetivo de atender às necessidades e desafios específicos de seus diferentes modelos de negócios.
Arquivo EM
Se você gostou de mais esta história recontada pelo especial Sabia Não, Uai!, aproveite para acompanhar nossa série sobre a memória do jornalismo brasileiro. O Arquivo EM conta, a partir de buscas na Gerência de Documentação e Informação (Gedoc) dos Diários Associados em Minas Gerais, reportagens quase esquecidas sobre Minas Gerais e o país.